Londres – A semana terminou com o crescimento da violência contra jornalistas durante a guerra na Ucrânia. O conflito, que já registrou mortes de trabalhadores da imprensa, continua ameaçando o livre exercício da profissão para quem realiza a cobertura in loco.
O jornalista ucraniano Konstantin Ryzhenko desapareceu na quarta-feira (30), enquanto outros dois repórteres ficaram feridos durante bombeiros russos diferentes.
Um terceiro caso que ganhou notoriedade nos últimos dias é o de Iryna Dubchenko, jornalista presa por tropas russas e levada para a cidade de Donetsk — onde, desde então, não se teve mais notícias sobre sua localização.
Jornalista ucraniano desaparece após tropas russas perguntarem por ele
Na quarta-feira (30), soldados russos procuraram pelo jornalista ucraniano Konstantin Ryzhenko na cidade de Kherson, no sul do país, e sua família perdeu contato com ele naquele dia, segundo Sergei Chernyavsky, um amigo de Ryzhenko que conversou com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) e publicou sobre a situação do jornalista no Facebook.
Um dia depois de seu desaparecimento, um post apareceu na conta do Telegram de Ryzhenko, que dizia: “se você está lendo este texto, significa que algo aconteceu”.
A postagem explicava que o jornalista, editor-chefe do site de notícias local Kherson Newscity, havia agendado essa postagem para publicação com antecedência; se ela foi publicada, significava que ele foi detido ou perdeu o acesso ao telefone/internet.
“Onde ele está agora é desconhecido. Não há conexão com ele”, disse Chernyavsky ao CPJ. Kherson está ocupada pelos militares russos desde 2 de março.
Gulnoza Said, coordenador do programa Europa e Ásia Central do CPJ, em Nova York, instou as autoridades russas a prestarem esclarecimentos sobre o paradeiro do jornalista da Ucrânia.
“Seu desaparecimento se soma a uma lista crescente de jornalistas ucranianos que estão desaparecidos desde o início da invasão russa”.
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Segundo o CPJ, soldados russos revistaram o apartamento do irmão do jornalista ucraniano, Zakhar, na quinta-feira. O celular dele foi apreendido.
O pai do jornalista, Aleksandr, esteve presente durante o ataque e disse ao Sindicato Nacional de Jornalistas da Ucrânia (NUJU) que os soldados exigiam que ele entrasse em contato com Konstantin.
Aleksandr disse que os soldados russos lhe disseram que “muitas pessoas morreram” por causa de Ryzhenko, e perguntou se ele estava trabalhando apenas por dinheiro e se ele tinha “visões nacionalistas”. Os soldados disseram que se o jornalista estivesse trabalhando apenas por dinheiro, eles poderiam “encontrar uma linguagem comum com ele”.
Chernyavsky disse ao CPJ que acreditava que as autoridades russas estavam perseguindo Ryzhenko porque ele transmitiu e gravou manifestações antirrussas de civis em Kherson. Ele também foi citado como fonte sobre a situação em Kherson por agências de notícias, incluindo a BBC e a Meduza, com sede na Letônia.
Em uma entrevista com a Meduza antes de seu desaparecimento, Konstantin Ryzhenko disse que estava “rastreando farsas russas e refutando-as” desde o início da guerra, e que as forças do país invasor estavam “perguntando onde poderiam encontrar tal jornalista”.
Desde o início da invasão russa da Ucrânia, vários jornalistas foram sequestrados em conexão com seu trabalho. Maks Levin e Iryna Dubchenko ainda estão desaparecidos.
Dois jornalistas feridos em bombardeio russos
O CPJ também denuncia casos de violência contra jornalistas ucranianos durante ataques russos.
Em 25 de março, as forças russas bombardearam um comboio civil na região norte de Chernihiv, ferindo Andriy Tsaplienko, um repórter da emissora de TV ucraniana 1+1, de acordo com relatos da mídia local.
Tsaplienko sofreu uma pequena lesão na coxa e foi tratado em um hospital local. Um colega dele postou nas redes sociais que, devido à natureza humanitária da evacuação, o comboio era “um lugar onde o bombardeio não é permitido por todas as regras escritas e não escritas”.
Jornalistas da emissora turca TRT World também estiveram presentes durante o bombardeio e não ficaram feridos, segundo o CPJ.
No dia seguinte, Oleksandr Navrotskyi, operador de câmera da emissora ucraniana Channel 24, foi ferido em um ataque russo à vila de Lukyanovka, na região da capital Kiev, segundo relatos da imprensa e colegas do jornalistas.
Navrotskyi estava filmando enquanto era escoltado por militares ucranianos quando foi atingido no joelho por estilhaços produzidos por um ataque de foguete russo
O Produtor executivo do Canal 24 Bohdan Tugushi conversou com o CPJ em entrevista por telefone. Ele disse que, até terça-feira, o cinegrafista havia sido submetido a três cirurgias.
“Os médicos dizem que não podem afirmar se ele voltará a andar, porque a lesão no joelho é muito grave”, disse Tugushi ao CPJ, acrescentando que os médicos disseram que ele precisava passar por pelo menos mais duas operações.
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Jornalista ucraniana é detida por tropas russas
No dia 26 de março, as forças russas detiveram a jornalista Iryna Dubchenko na cidade de Rozivka, no sudeste da Ucrânia, e a levaram para a cidade de Donetsk, controlada pelos separatistas apoiados pela Rússia, de acordo com relatos da imprensa local verificados pelo CPJ.
Soldados russos revistaram sua casa naquele dia, alegando que “sabiam tudo sobre as atividades jornalísticas [de Dubchenko]”, disse sua irmã, Oleksandra, ao Sindicato Nacional de Jornalistas da Ucrânia.
A jornalista trabalhou para meios de comunicação ucranianos, incluindo o site de notícias Depo.Zaporizhzhia, o jornal Subota e a agência de notícias UNIAN. Sua irmã disse que ela continuava trabalhando durante a invasão russa da Ucrânia.
Oleksandra disse ao CPJ por meio do aplicativo de mensagens que sua irmã ligou enquanto soldados russos estavam em sua casa.
Durante a busca, as forças russas acusaram a jornalista de esconder um soldado ucraniano ferido em sua casa e a levaram a Donetsk para uma “ação investigativa”.
Antes de ser presa, Iryna disse para a irmã que as forças russas ocuparam Rozivka e que um vizinho havia dito aos soldados invasores que ela estava envolvida em trabalho voluntário e de jornalismo.
Em 29 de março, a administração militar ucraniana da região de Zaporizhzhia, que inclui Rozivka, confirmou o sequestro da jornalista e disse que “medidas de resposta estão sendo tomadas”.
O CPJ também está investigando o suposto sequestro do jornalista Konstantin Ovsyannikov pelas forças russas na cidade de Prymorsk, no sudeste do país, em 26 de março.
Vários grupos da sociedade civil na área postaram nas redes sociais que Ovsyannikov havia sido detido e, mais tarde no mesmo dia, informaram que ele havia sido libertado.
Essa mesma tática já foi usada contra outros jornalistas ucranianos. Na semana passada, quatro profissionais ucranianos ligados à agência de notícias MV foram detidos e mantidos reféns por algumas horas antes de serem libertados.
Enquanto estavam em poder dos soldados russos, os jornalistas tiveram “conversas preventivas” com o objetivo de desencorajar reportagens sobre o conflito armado.
Em outro caso, a repórter Viktoria Roshchina, do canal ucraniano independente Hromadske, foi libertada depois de 10 dias detida em território controlado pelo exército da Rússia.
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