Londres – O Talibã tem intensificado os ataques à imprensa do Afeganistão, forçando muitos jornalistas a fugirem do país.

Em menos de uma semana, dois profissionais de TV foram detidos pelas forças do grupo extremista islâmico.

Entidades que defendem a liberdade de imprensa estabeleceram uma rota de fuga pelo Paquistão e auxiliam jornalistas a ficarem no país por um período provisório antes de partirem para a Europa. Também há apoio para quem deseja morar com a família na capital Islamabad.

Imprensa no Afeganistão sufocada com prisão de jornalistas

Desde que tomou o poder do Afeganistão em agosto, o Talibã vem restringido as liberdades individuais da população e a detenção de jornalistas se tornou prática comum no país.

Em 2022, a repressão contra a mídia nacional e internacional está mais severa, com novas leis e práticas diversas de censura.

No dia 16 de abril, Moheb Jalili, apresentador da emissora independente 1TV e ex-chefe da Ariana News, foi sequestrado e torturado pelo Serviço de Inteligência do Talibã, em Cabul.

As informações são da Federação Internacional de Jornalistas (IFJ, na sigla em inglês).

Em entrevista ao Hasht-e-Subh, um jornal independente no Afeganistão, o jornalista afirmou que os funcionários do Talibã não deram motivos claros para sua detenção.

De acordo com o Centro de Jornalistas do Afeganistão, Jalili estava voltando para casa na noite de sábado quando oficiais de inteligência do grupo extremista pararam seu carro e o prenderam, acusando o jornalista de “reportar notícias falsas”.

Enquanto Jalili estava detido, agentes de inteligência do Talibã o espancaram com uma arma. Ele também foi xingado, com os fundamentalistas dizendo que ele era o “jornalista diabo que arruína a reputação do Talibã”, segundo o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).

O jornalista ficou detido por três horas antes de ser liberado sem nenhuma acusação. Ele sofreu ferimentos leves na cabeça e ficou com um hematoma no braço esquerdo, relatou ao CPJ.

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Em um incidente semelhante, Reza Shahir, repórter da rede de rádio e televisão de Cabul Rah-e-Farda, foi espancado e preso por militantes do Talibã na terça-feira (19).

O jornalista estava cobrindo um atentado suicida na escola Abdul Rahim Shahid, no oeste da capital afegã.

De acordo com Shahir, as forças do Talibã acusaram ele e seu colega de serem “cúmplices na organização do ataque”, apreendendo sua câmera e telefone celular.

O jornalista foi detido dentro de uma sala onde foi severamente espancado antes de ser libertado duas horas depois sem acusações.

Após sua libertação, Shahir contou ao CPJ que pediu a funcionários do Talibã na sede da polícia de Cabul que devolvessem seu equipamento, mas eles se recusaram, dizendo que avaliariam o conteúdo gravado no local da explosão.

Entidades ajudam profissionais de imprensa via Paquistão

As prisões de Jalili e Shahir são os mais recentes ataques à imprensa por militantes do Talibã no Afeganistão.

Em 17 de março, oficiais prenderam os funcionários da ToloNews Bahram Aman, Khaplwak Sapai e Nafay Khaleeq na sede da agência de notícias em Cabul.

De acordo com o Moby Group, empresa de mídia proprietária da Tolo TV, as detenções foram uma resposta à cobertura da emissora sobre a proibição de que séries dramáticas estrangeiras sejam exibidas no país.

Ainda em março, pelo menos sete jornalistas e profissionais de mídia foram detidos e liberados horas depois por autoridades do Talibã.

Na ocasião, o grupo extremista islâmico proibiu os meios de comunicação locais de transmitirem o conteúdo de três emissoras internacionais: BBC, DW e Voice of America (VOA).

A crescente repressão contra a imprensa no Afeganistão fez a União Federal de Jornalistas do Paquistão (PFUJ, na sigla em inglês) auxiliar jornalistas e profissionais de mídia a fugirem do país.

A PFUJ auxilia na permanência provisória no Paquistão antes dos jornalistas partirem para países europeus.

Visto acelerado para profissionais de imprensa do Afeganistão

A entidade, segundo o IFJ, conseguiu com o Ministério da Informação do Paquistão a aprovação acelerada de vistos paquistaneses para profissionais de mídia afegãos. Cerca de 50 jornalistas já foram auxiliados em seus pedidos.

Ao chegarem no país, profissionais do Afeganistão ficam alojados em um prédio residencial alugados exclusivamente para eles e suas famílias, onde recebem acomodação e alimentação durante a estadia temporária.

A PFUJ e a IFJ também organizaram a entrega de fundos de apoio a jornalistas afegãos que optam por morar com seus parentes em Islamabad.

As famílias de quatro jornalistas afegãos receberam acomodação e alimentação por dois a três meses em Islamabad, e a PFUJ os ajudou a partir da capital paquistanesa para seu destino final no exterior.

Três famílias, compostas por quinze pessoas, estão atualmente hospedadas nas instalações da PFUJ em Islamabad.

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