A organização Women Photograph abriu inscrições para seu programa anual de subsídios, destinado a apoiar fotógrafos não binários e mulheres em projetos de fotografia documental.
As oportunidades incluem um financiamento para um projeto de longo prazo no valor de US$ 10 mil (R$ 50,3 mil) e sete bolsas de US$ 5 mil (R$ 25,1 mil) para projetos sobre temas variados.
O prazo termina em 15 de maio e a participação é gratuita.
Women Photograph reúne trabalho de fotógrafos de 100 países
A Women Photograph é uma organização sem fins lucrativos lançada em 2017 para destacar o trabalho de fotógrafas mulheres e pessoas não binárias.
O banco de imagem da organização inclui trabalhos de mais de 1,3 mil fotógrafos de 100 países.
Como parte de seu trabalho, a Women Photograph criou uma série anual de subsídios para projetos de fotografia. Outras ações da organização são um programa de mentoria de um ano, um workshop anual de desenvolvimento de habilidades e um fundo de viagens para ajudar mulheres e fotógrafos não-binários.
Subsídio para sete projetos de fotografia documental
O programa Women Photograph Project Grants oferece sete bolsas no valor de US$ 5 mil (cerca de R$ 25,1 mil). Pelo menos uma será destinada a um fotógrafo não binário ou transgênero.
Os projetos de fotografia documental a serem realizados com o subsídio podem ser novos ou estarem em andamento.
Quatro das bolsas são financiadas pelo programa Inclusion Grants da Getty Images, e serão concedidas para trabalhos em quatro categorias: notícia, esportes, artes e entretenimento e projeto multimídia.
Outras três bolsas, com apoio da Nikon, podem ser financiar projetos de fotografia documental sobre qualquer tema.
As inscrições devem ser feitas em inglês. Os candidatos são incentivados a enviar uma reportagem fotográfica como parte do pedido de subvenção. As imagens não precisam estar relacionadas à proposta do projeto.
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Subsídio para projeto de fotografia documental de longo prazo
Além das sete bolsas, o Women Photograph fez uma parceria com a Leica para apoiar um projeto documental de longo prazo que já esteja em andamento, oferecendo um financiamento de US$ 10.000 (R$ 50,3 mil) para a sua conclusão.
Os candidatos devem enviar portfólios de 20 a 25 imagens, comprovando que uma quantidade substancial do trabalho já tenha sido executada, junto com uma descrição das etapas que faltam para a conclusão.
Os jurados darão prioridade a candidatos envolvidos com as comunidades retratadas no trabalho, realizando uma cobertura que vá além do jornalismo tradicional. O subsídio pode ser usado para custear despesas de fotografia e também atividades de engajamento da comunidade.
Para mais informações e inscrição nas bolsas de fotografia, clique aqui.
Os trabalhos selecionados na edição de 2021 cobriram temas como luta contra o apartheid, identidade negra e ameaças às mulheres, pessoas negras e trans.
Conheça o trabalho vencedor da bolsa para projetos de longo prazo em 2021
Tshepiso Mabula (África do Sul): Ukugrumba
A ganhadora do subsídio no valor de US$ 10 mil (cerca de R$ 50 mil) foi Tshepiso Mabula, com o projeto de fotografia documental “Ukugrumba”.
“Ukugrumba, que significa “desenterrar” na língua Xossa (um dos idiomas oficiais da África do Sul), é um trabalho motivado pelo trauma da minha família como resultado do ativismo na luta contra o apartheid e sobre os efeitos da libertação e reconciliação na África do Sul atual”.
“Ele busca exumar experiências dos soldados que se sacrificaram fugindo para o exílio e os que permaneceram no país para continuar a luta contra o regime brutal do apartheid”.
“Na maioria das vezes, aqueles que são saudados como heróis são figuras políticas bem conhecidas. Ukugrumba é uma representação visual e narrativa das pessoas esquecidas que foram afetadas mental e fisicamente pelos efeitos da luta armada contra o apartheid.”
Veja também outros trabalhos realizados com o subsídio do Women Photograph Project
Eli Farinango (Canadá/Equador): Runa Kawsay
O trabalho de Eli Farinango, “Runa Kawsay”, explora as nuances da identidade indígena a partir das experiências pessoais da comunidade Kichwa que vive na Ilha da Tartaruga (América do Norte).
“A imagem é a projeção da foto da minha bisavó Rosa no meu ‘debajero’ – uma das minhas peças de r0upa tradicionais. Crescer longe das minhas tradições significa ter uma relação complicada com esses trajes.
“A foto é um lembrete de porque continuo a usar essas roupas. Eu faço isso como uma homenagem a ela, aos meus outros ancestrais, à minha mãe, aos meus futuros filhos.
Considero isso uma conexão sagrada com todos aqueles que lutaram para que eu caminhasse como uma orgulhosa mulher Kichwa (etnia indígena do Equador)”.
“Virginia Anrango, minha mãe, é empreendedora há 30 anos. Ela trabalha em festivais, feiras e eventos vendendo artesanato no Equador. A pandemia acabou com o seu trabalho e a incerteza foi enfrentada com resiliência. Ela usava nossas roupas tradicionais todos os dias para se sentir melhor, para se sentir no controle, para se sentir poderosa.
Minha irmã e eu observamos minha mãe enquanto ela se fortalecia e sua vida mudava. No início do inverno, ela se matriculou em aulas online para terminar o ensino médio. Ela sempre nos ensinou a encontrar nossa base em nossa cultura.”
“A indigeneidade é muitas vezes estereotipada e romanizada para estar em um espaço e parecer de uma certa maneira.
Saywa tem 16 anos. Ela é uma mulher quíchua que adora videogames e animes. Às vezes não nos encaixamos, não somos quíchuas o suficiente para nosso território, e nunca seremos latinos.
Para resistir, construímos nosso novo ‘ayllu’, que em quíchua significa ‘comunidade além das relações de sangue’”.
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Golden (EUA): Sobre aprender a viver
O projeto “Sobre aprender a viver” documenta a vida negra trans nos limites entre sobreviver e viver nos EUA.
“Tem sido um pandemônio desde o início para os negros nos Estados Unidos. Em 2020, com uma pandemia global de saúde e aumento da violência baseada no ódio derivado do nacionalismo branco, pessoas trans negras foram estatisticamente assassinadas em uma taxa muito mais alta.
Mas isso não é novo. Em resposta ao luto, ‘Sobre aprender a viver (On learning how to live)’, documenta a interseção entre sobrevivência e vida”.
“Esses autorretratos são como um arquivo vivo, uma estrutura de resistência, um mundo dentro de um país que não quer pessoas trans negras vivas.
Lia Latty (EUA) – Oreo
A fotógrafa Lia Latty usou seu subsídio para executar o projeto “Oreo”, que desafia os estereótipos constantemente projetados nos negros e como isso pode afetar suas identidades, tendo o biscoito como símbolo.
“Crescer como uma pessoa negra na América significa enfrentar preconceitos que deixam pouco espaço para que sua identidade seja aceita.
Para uma pessoa negra, ter quaisquer interesses fora do que é considerado a ‘norma’ para ela pode resultar em ser considerada uma ‘pessoa branca presa no corpo de uma pessoa negra’.
Isso é o que significa ser chamado de ‘Oreo’. Influenciado por experiências pessoais anteriores, ‘Oreo’ desafia os estereótipos que são constantemente projetados nos negros e como isso pode afetar sua identidade”.
“Cada participante é fotografado com os objetos que fizeram com que fossem chamados de ‘Oreo’, junto com sua declaração de como o momento aconteceu”.
Kathy Anne Lim (Singapura): Ruído branco
O projeto de documentário de Kathy Anne Lim examinou as nuvens de fumigação que as autoridades de Singapura usam para combater a dengue e a malária.
“Com uma abordagem documental conceitual, ‘Ruído branco’ (White noise) foca em fumigações em Singapura, que com uma alta densidade populacional e situada na Linha do Equador, usa produtos químicos para manter os insetos sob controle.
O fascínio evasivo e seu rápido desaparecimento guiaram as reflexões iniciais sobre a teatralidade da conjuração de nuvens.
A humanidade é atormentada por medos de perda, finitude e morte, e consolada por lembretes, ciente de que algo pode resistir, pelo menos na memória”.
“O projeto visa a discutir o impacto de pequenas mudanças ambientais dentro da cidade – um pulso de mudança iminente está no horizonte, mas a névoa de incerteza ainda não se dissipou.”
Danielle Villasana (Turquia/EUA): Abra o caminho
Danielle Villasana foi selecionada para a bolsa do Women Photograph Project com um trabalho que mostra mulheres trans na América Central e as ameaças que enfrentam, mas também sua resiliência, apesar das dificuldades que encontram.
“A partir da esquerda: Samantha, Alexa e Escarle conversam no quarto de Escarle em San Pedro Sul, Honduras, em 29 de março de 2019.
Enquanto a América Latina lidera o mundo em homicídios de pessoas trans, na América Central as mulheres trans são ainda mais ameaçadas pela violência de gangues, clientes, polícia e até mesmo familiares”.
“Honduras é um dos sete países mais perigosos do mundo para ser LGBTQIA+. Muitas mulheres trans migram para o norte em direção ao México e aos Estados Unidos em busca de segurança.
Depois de ser espancada pelo irmão, Kataleya fugiu de Honduras para o norte em direção a Tapachula, México, sua primeira parada em direção aos Estados Unidos.
Ela disse: ‘Ele tentou me matar várias vezes, mas finalmente consegui meu objetivo de fugir no meio da noite, sem luz’.
Em 3 de setembro de 2019, em seu apartamento em Tapachula, Kataleya liga para a irmã e o sobrinho na noite antes de partir para Tijuana, na fronteira dos Estados Unidos com o México.”
“Em 9 de setembro de 2019, poucos dias depois de chegar ao seu destino final, Kataleya (ao centro), olha para os Estados Unidos enquanto visita uma praia próxima ao muro da fronteira com amigos.
Nesse mesmo dia, Kataleya entrou no processo para apresentar um pedido de asilo, aguardando pela chamada de seu número na fila.
Embora o número de Kataleya estivesse perto de ser chamado no início de 2020, as fronteiras se fecharam quando a pandemia da covid-19 chegou.
“Da noite para o dia, tudo foi ladeira abaixo”, disse Kataleya, que enfrentou desafios constantes com relacionamentos e condições de vida instáveis, bem como a falta de acesso a emprego devido à transfobia e xenofobia.
Apesar desses obstáculos, ela perseverou e, em abril de 2021 cruzou para os EUA para aguardar io processamento de seu pedido.”
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