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Extradição de Assange: Na véspera de ‘Dia D’, entidades e apoiadores pressionam governo britânico

Possível extradição de Assange mobiliza manifestações em todo o mundo

Manifestantes protestaram em frente à prenitenciária onde está Julian Assange, em Londres (Foto: Reprodução/Twitter/RealMediaGB)

Londres – O prazo para o governo britânico decidir sobre a controvertida extradição de Julian Assange está chegando ao fim. Por isso, entidades e apoiadores do fundador do WikiLeaks subiram o tom e pressionam fortemente para que a decisão seja favorável a Assange e ele não seja mandado para os Estados Unidos.

A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) é uma das que encabeçam o movimento. Uma nova petição foi lançada pedindo que a secretária do Interior do Reino Unido, Priti Patel, rejeite a extradição do jornalista. Com meta de 50 mil, quase 40 mil pessoas já assinaram o documento online.

Um protesto também foi agendado para acontecer, na terça-feira (17), em frente ao Ministério do Interior do Reino Unido às 18h (horário de Londres). 

Antes de ‘Dia D’, apoiadores marcam protesto em frente a ministério

Outras entidades, como a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ, na sigla em inglês), também se mobilizaram em apoio a Assange.

A esposa dele, Stella, está ativamente nas redes sociais se manifestando para sua permanência na Inglaterra. “O lugar de Julian é com seus filhos”, diz uma de suas publicações no Twitter.

No dia 20 de abril, a corte britânica devolveu o caso do fundador do WikiLeaks ao Ministério do Interior do Reino Unido, chefiado pela secretária de Estado para Assuntos Internos, Priti Patel.

A partir dessa data, os advogados de Julian Assange contaram com quatro semanas para fazer representações e evitar a extradição — prazo que termina em 18 de maio. Após esse dia, Patel poderá aprovar ou rejeitar a ordem de extradição para os EUA a qualquer momento.

Assange é procurado pela Justiça americana desde 2010 por publicar segredos militares no site WikiLeaks e responde a processos que podem levar a 175 anos de prisão no país. Os EUA conseguiram reverter uma decisão de janeiro de 2021, que impedira a extradição devido ao estado de saúde mental do jornalista.

A julgar pelo histórico do Reino Unido sobre o caso, não vai ser fácil para a defesa evitar que Julian Assange seja extraditado.

O país é aliado histórico dos EUA. E Patel é uma figura política controvertida, conhecida por posições radicais contra imigrantes ilegais e que divide a opinião dos britânicos.

Dentro desse contexto, as organizações defensoras da liberdade de imprensa e que apoiam a libertação de Assange se mobilizam para evitar a extradição.

A nova petição da RSF justifica o apelo pela permanência dele no Reino Unido por acreditar “plenamente que Assange foi alvo de importante contribuição ao jornalismo” ao divulgar “crimes de guerra e violações de direitos humanos” cometidos pelo exército americano.

“Embora o caso contra Assange tenha sido instaurado pelo governo dos EUA, o governo do Reino Unido também falhou em proteger o jornalismo e a liberdade de imprensa em seu tratamento a Assange, mantendo-o detido em prisão preventiva por mais de três anos na prisão de alta segurança de Belmarsh, em Londres, em nítido contraste com o compromisso declarado do Reino Unido de promover e proteger a liberdade de mídia globalmente.”

A entidade ainda destaca os riscos para a saúde mental e física de Assange se ele for mandado para os EUA. Em outubro de 2021, ele sofreu um “pequeno derrame” durante a consideração de seu caso pelo Tribunal Superior britânico.

“Os sérios riscos para sua saúde mental seriam severamente exacerbados em condições de extradição para os Estados Unidos, mesmo que o governo norte-americano tenha honrado suas garantias diplomáticas quanto ao seu tratamento.

Simplificando, a vida de Assange está em risco se ele for extraditado para os Estados Unidos.”

A petição pode ser assinada neste link.

No Twitter, o jornalista John Pilger, da Inglaterra, compartilhou as informações da manifestação marcada para a tarde do dia 17. 

“A secretária do Interior, Priti Patel está prestes a declarar sua decisão sobre se Julian Assange deve ser extraditado para os EUA. O jornalista que revelou os crimes dos governos está lutando por sua vida.

Na terça-feira, levantem suas vozes do lado de fora do Home Office, 2 Marsham Street, Londres, às 18h.”

A IFJ também compartilhou no Twitter outro abaixo-assinado que pressiona o governo britânico. “Nós, jornalistas e organizações jornalísticas de todo o mundo, expressamos nossa grande preocupação pelo bem-estar de Assange, por sua detenção contínua e pelas acusações draconianas de espionagem”, diz o texto da publicação.

O abaixo-assinado é do movimento Speak up for Assange, organizado por e para jornalistas se manifestarem contra a prisão e, agora, extradição do fundador do WikiLeaks. Mais de 1.800 pessoas de 170 países já assinaram o documento, diz a organização. Confira no site mais informações.

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Na semana passada, ativistas realizaram um protesto em frente à penitenciária onde está Assange. A manifestante Maria Gallestegui usou tinta spray vermelha para enviar uma mensagem a Patel na parede da prisão, mas foi impedida pelos agentes do local.

Cartazes e faixas dizendo “Free Assange” também foram levados pelos apoiadores. 

Em outra parte da Europa, ativistas italianos lançaram uma vaquinha virtual para a instalação de outdoors que pedem a libertação do fundador do WikiLeaks.

“Se você acredita na liberdade de expressão, se acredita na justiça e na transparência, doe agora e faça valer suas convicções! Esta campanha de conscientização depende de você. Outdoors gratuitos de Assange na Itália”, diz o texto de divulgação nas redes sociais.

Nas redes sociais, esposa pressiona contra extradição de Assange

Stella Assange, que oficializou a união com o jornalista em março, é a sua maior porta-voz no momento. Nas redes sociais, ela reforçou os apelos e divulgação de campanhas que pressionam o governo britânico a rejeitar a extradição do marido.

O casal se conheceu em 2011, quando ele estava asilado na embaixada do Equador em Londres, onde passou quase sete anos. 

Advogada, Stella Moris, seu sobrenome de solteira, tinha sido contratada para atuar na defesa do fundador do WikiLeaks, que tentava evitar a extradição para a Suécia, onde respondia a um processo por agressão sexual que acabou sendo encerrado sem julgamento. 

Mas ele permaneceu no prédio para se proteger contra a extradição para os EUA, e só saiu depois que a representação diplomática autorizou a polícia britânica a prendê-lo, em 2019. O casal iniciou o relacionamento amoroso em 2015 e teve dois filhos, Gabriel e Max, respectivamente com quatro e dois anos.

A esposa de Assange participa, na terça-feira (17), de uma exibição de documentário sobre o jornalista em Londres.

Em abril, após o caso Assange voltar para o Ministério do Interior, Stella participou de uma manifestação em apoio ao marido em Bruxelas.

Em entrevista à agência AFP, ela pediu que o governo britânico não assine o decreto de extradição de Assange para aos EUA, considerando que, agora, o futuro dele está à mercê de uma “decisão política” que “terá repercussões para toda Europa”.

“Trata-se de um problema europeu, em que está em jogo o coração dos valores democráticos. O que se decidir terá repercussões para todo o mundo, para os jornalistas, em toda Europa.”

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