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5% ou 20%? Os últimos lances da ‘guerra’ Musk x CEO do Twitter em torno das contas falsas

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CEO do Twitter e Elon Musk discutem sobre número de contas falsas (Montagem: MediaTalks)

As negociações para a compra do Twitter por Elon Musk viraram uma verdadeira guerra entre o bilionário e o CEO da empresa, Parag Agrawal, que estão discutindo publicamente sobre o número real de contas falsas na plataforma, em um embate que teve até emoji mal-educado.

Desde a apresentação de sua primeira oferta de compra, em 14 de abril, Musk tem questionado reiteradamente dados apresentados pela rede social.

Na disputa mais recente, o homem mais rico do mundo sugeriu que usuários fakes correspondem a 20% total da base do Twitter — e não menos de 5%, como alega a empresa, o que seria um motivo para suspender a operação. 

Discussão sobre contas falsas no Twitter tem até emoji de cocô

Com a flutuação das ações da plataforma a cada nova intriga lançada, há especulações de que a intenção de Elon Musk seja renegociar o acordo para diminuir o valor de US$ 44 milhões acertado.

Enquanto isso se desenrola, o Twitter segue perdendo chefes de importantes setores na companhia.

O mais recente ataque do bilionário contra a rede social foi com uma enquete irônica.

“O Twitter afirma que mais de 95% dos usuários ativos diários são humanos reais e únicos. Alguém tem essa experiência?”, postou na rede, com duas opções de respostas: dois emojis de risada ou “quem, eu?”, seguido por um emoji de robô.

Usuário ativo do Twitter, Elon Musk usa a rede quase como um diário do seu fluxo de pensamentos.

Na semana passada, por exemplo, ele chegou a anunciar que o acordo de compra da plataforma estava “temporariamente suspenso” enquanto esperava “o cálculo de que contas falsas/spam representam, de fato, menos de 5% dos usuários.”

O dado sobre contas falsas consta em documento apresentado pelo Twitter à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, em inglês).

É com base nisso, segundo o bilionário, que ele fez sua oferta de US$ 44 milhões para a compra da plataforma.

Horas depois de “causar” com a notícia sobre a possibilidade de suspensão do acordo, Musk voltou atrás e disse que “ainda estava comprometido” com a aquisição.

E informou que sua equipe iria testar os usuários bots com uma amostragem aleatória de 100 seguidores.

Alguns dias depois, o CEO do Twitter, Parag Agrawal, decidiu responder ao bilionário de forma indireta na rede social.

Em uma sequência de mensagens na plataforma, ele começou explicando que usuários spam afetam “a experiência de pessoas reais no Twitter”, o que prejudica os negócios da empresa.

“Como tal, somos fortemente incentivados a detectar e remover o máximo de spam possível, todos os dias. Qualquer um que sugira o contrário está errado”, afirmou.

Agrawal prosseguiu esclarecendo que contas falsas não podem ser classificadas apenas como “humanos” e “não humanos”.

“[As contas de] spam mais avançadas usam combinações de humanos coordenados + automação. Elas também comprometem contas reais e as usam para avançar em sua campanha. Então, elas são sofisticadas e difíceis de pegar.”

O CEO afirmou que mais de 500 mil contas falsas são suspensas todos os dias do Twitter, muitas antes mesmo de conseguirem acessar a plataforma de fato.

“Sabemos que não somos perfeitos na captura de spams”, admitiu Agrawal.

“Sabemos que alguns ainda escapam. Nós medimos isso internamente. E a cada trimestre, estimamos que < 5% dos usuários ativos diários monetizáveis [mDAU, em inglês] relatado para o trimestre são contas de spam.”

O executivo disse que cada revisão humana para a verificação de contas falsas é baseada nas regras do Twitter sobre spam e usa dados públicos e privados, como o endereço IP r número de telefone, por exemplo, para avaliar cada caso.

Em resposta irônica, Elon Musk questionou: “Já tentou ligar para eles?”

Agrawal ignorou o comentário do bilionário e prosseguiu dizendo que a estimativa específica de contas falsas na rede social não podem ser compartilhadas publicamente.

“Infelizmente, não acreditamos que essa estimativa específica possa ser realizada externamente, dada a necessidade crítica de usar informações públicas e privadas (que não podemos compartilhar).

Externamente, nem é possível saber quais contas são contadas como mDAUs em um determinado dia.”

A essa mensagem, Musk respondeu com um emoji de cocô. E acrescentou: “Então, como os anunciantes sabem o que estão recebendo pelo seu dinheiro? Isso é fundamental para a saúde financeira do Twitter.”

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A discussão indireta entre Elon Musk e Parag Agrawal prosseguiu com o bilionário falando sozinho na rede social e, novamente, questionando o verdadeiro número de contas falsas na rede.

Sem provas, o dono da Tesla sugeriu que a plataforma tem 20% de contas spam entre os 229 usuários milhões, e não 5% como apresentado pela empresa.

“20% de contas falsas/spam, 4 vezes [mais] o que o Twitter afirma, pode ser *muito* maior”, afirmou Musk, sinalizando que o acordo não avançará enquanto o número real não for comprovado pela plataforma.

“Minha oferta foi baseada na precisão dos registros da SEC do Twitter. Ontem, o CEO do Twitter se recusou publicamente a mostrar prova de <5%. Este acordo não pode avançar até que ele o faça.”

Especialistas em mercado financeiro especulam que todas as recentes investidas de Elon Musk contra o Twitter tem como objetivo renegociar o acordo para diminuir o valor a ser desembolado pelo bilionário.

Em participação numa conferência em Miami na segunda-feira (16), ele admitiu essa possibilidade. “Você não pode pagar o mesmo preço por algo que é muito pior do que eles alegaram”, disse no evento.

Respondendo de forma direta se a compra poderia ser concluída com um preço diferente, ele disse que isso “não está fora de questão.”

“Quanto mais perguntas eu faço, mais minhas preocupações crescem. Eles alegam que têm essa metodologia complexa que só eles podem entender… Não pode ser algum mistério profundo que seja, tipo, mais complexo do que a alma humana ou algo assim.”

As ações da rede social fecharam em alta de 2,5% na terça-feira (17) a US$ 38,32 — valor abaixo do preço de US$ 54,20 que Musk concordou em pagar por ação se concluir a aquisição. 

Se Musk ou o Twitter desistirem do acordo, há uma multa de US$ 1 bilhão para a parte que pular fora da negociação. Apesar disso, especialistas avaliam que o bilionário pode estar disposto a pagar a quebra de contrato.

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Twitter perde mais três executivos

Enquanto o “furacão Musk” não se acalma, o Twitter continua perdendo executivos em cargos importantes. Três funcionários seniores estão deixando a empresa, de acordo com comunicados internos obtidos pela Bloomberg.

O chefe de ciência de dados e os vice-presidentes de gerenciamento de produtos e serviço do Twitter pediram demissão na esteira da revelação de que Musk já estava conversando sobre uma possível aquisição no final de março — mais de uma semana antes dele divulgar a compra de 9,2% das ações da plataforma.

A oferta formal de compra total da empresa foi feita somente em 14 de abril. Desde então, funcionários estão inquietos e apreensivos de que a chegada do bilionário mude radicalmente a cultura da empresa.

A repercussão interna da compra do Twitter por Elon Musk foi relatada pelo jornalista Casey Newton em sua newsletter, a Platformer. 

Outra grande preocupação geral é que muitos funcionários do Twitter recebem metade ou mais de sua remuneração em ações. Com Musk dono da plataforma, a empresa não negociará mais na bolsa, pois será de capital fechado.

“Uma pessoa me disse que ‘os bate-papos em grupo estão discutindo sobre se trabalhar no Twitter faz sentido econômico em primeiro lugar’”, relatou Newton.

Em apresentação a investidores da empresa  que o New York Times (NYT) teve acesso, Musk confirmou que pretende demitir muita gente para, no futuro, contratar mais pessoas. 

Em 2025, ele prevê que a empresa terá 11.072 funcionários — mais de 3.500 contratações além dos cerca de 7.500 de hoje.

“Musk provavelmente demitirá funcionários como parte de sua aquisição, antes de trazer novos talentos em engenharia, disse uma pessoa com conhecimento da situação.

Os custos de compensação baseados em ações também devem aumentar para pouco mais de US$ 3 bilhões até 2028, de US$ 914 milhões em 2022.”

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