O Twitter anunciou uma nova política para combater a disseminação de fake news sobre a guerra na Ucrânia.
Publicações que contiverem informações falsas sobre o conflito, mesmo que em contas governamentais, vão ganhar um aviso sinalizando “desinformação que pode trazer riscos às populações afetadas por crises”.
A chamada política de desinformação de crise da plataforma também vai impedir curtidas, retuítes, compartilhamentos e a amplificação monetizada desses tweets. A remoção do conteúdo, no entanto, não acontecerá por receios do Twitter de ferir a liberdade de expressão.
Sinalização de fake news sobre Ucrânia em qualquer tipo de conta
A mudança acontece três meses após o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, que vive uma onda de desinformação e conteúdo enganoso divulgado nas redes sociais.
Muitas vezes as fake news são propagadas por fontes estatais russas de forma deliberada para manipular a opinião pública sobre a guerra, apontam especialistas internacionais e empresas de mídia que tiveram seu conteúdo alterado, como a britânica BBC.
“Em tempos de crise, informações enganosas podem minar a confiança do público e causar mais danos a comunidades já vulneráveis”, disse Yoel Roth, chefe de segurança e proteção do Twitter, em um post no blog da empresa anunciando as mudanças.
A plataforma explica que o conteúdo falso postado por contas com amplo alcance será sinalizado com um aviso para o usuário clicar no rótulo antes de acessar o tweet, mas não será excluído por “responsabilidade”.
A sinalização de “informações falsas”, segundo o Twitter, será feita após a “verificação de várias fontes confiáveis e disponíveis publicamente, incluindo evidências de grupos de monitoramento de conflitos, organizações humanitárias, investigadores de código aberto, jornalistas e muito mais.”
“Assim que tivermos evidências de que uma reivindicação pode ser enganosa, não ampliaremos ou recomendaremos o conteúdo coberto por esta política no Twitter, inclusive na linha do tempo inicial, na Pesquisa e no Explorar.”
A empresa reforça que a prioridade para a classificação de fake news sobre a guerra na Ucrânia será para perfis de mídias afiliadas ao estado e contas oficiais do governo verificadas. Veja abaixo um exemplo do rótulo que será usado:
A empresa listou exemplos de conteúdos que podem ganhar um aviso como o acima:
- Cobertura ou reportagens de eventos falsas, ou informações que os descaracterizem à medida que um conflito evolui;
- Falsas alegações de uso da força, incursões na soberania territorial ou em torno do uso de armas;
- Alegações comprovadamente falsas ou enganosas de crimes de guerra ou atrocidades em massa contra populações específicas;
- Informações falsas sobre resposta da comunidade internacional, sanções, ações defensivas ou operações humanitárias.
O Twitter destaca que opiniões controversas, iniciativas de checagem de fatos, relatos pessoais ou em primeira pessoa não se enquadram no escopo da política.
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Em abril, o Twitter anunciou a limitação do conteúdo de mais de 300 contas do governo russo, incluindo do presidente Vladimir Putin, justamente por causa de desinformação relacionada à guerra.
Roth disse que a plataforma começou a trabalhar na nova política antes do conflito com a Ucrânia e deve continuar pesquisando formas de ampliá-la.
“Embora esta primeira iteração seja focada em conflitos armados internacionais, começando com a guerra na Ucrânia, planejamos atualizar e expandir a política para incluir formas adicionais de crise.
A política complementará nosso trabalho existente implantado durante outras crises globais, como no Afeganistão, Etiópia e Índia.”
As mudanças acontecem no meio das negociações para a aquisição do Twitter pelo empresário bilionário Elon Musk, que frequentemente questiona a liberdade de expressão na plataforma e defende menos moderação nos conteúdos.
No Twitter, Rússia usa ‘arma’ contra a Ucrânia
A nova política do Twitter deve coibir uma prática usada pelo governo russo para espalhar propaganda com fake news e manipulação de fatos para confundir a opinião pública sobre a invasão à Ucrânia.
Aproveitando uma brecha da própria plataforma, as publicações do Kremlin estão alcançando milhões de pessoas em todo o mundo sem nenhum tipo de filtro ou verificação de conteúdo por meio de uma prática conhecida como “astroturfing”.
No jargão das mídias digitais, o termo significa os movimentos nas redes sociais que aparentemente vêm de pessoas comuns, mas que, na verdade, são ações orquestradas por agentes não identificados como autores das postagens e opiniões, atuando de forma sincronizada e rápida para disseminar desinformação ou propaganda política.
Em análise de 75 contas por uma semana, foram encontradas fake news espalhadas de forma deliberada por perfis apoiados pela Rússia, como o genocídio em massa de civis realizado pelo governo ucraniano, por exemplo, o que o presidente do país, Volodymyr Zelensky, era um agente da “Nova Ordem Mundial”.
Essas alegações foram desmentidas por jornais e agências de checagem de dados, mas não antes de atrair milhões de visualizações e oferecer uma suposta justificativa para a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Com essa “brecha”, as 75 contas do governo russo analisadas trabalham juntas para ampliar a desinformação. O levantamento descobriu que elas costumam retweetar o mesmo conteúdo falso quase ao mesmo tempo — prática que, agora, o Twitter deve inibir por completo com o novo rótulo identificando fake news.
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