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Diversidade, Equidade e Inclusão na mídia: sem vontade, o difícil vira impossível

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Foto: Gerd Altmann/Pixabay

Londres – Não é de hoje que a DEI (diversidade, equidade e inclusão) entrou na agenda das grandes companhias, expostas a cobranças do público e de investidores, mas isso ainda não acontece da mesma forma na mídia. 

A cobrança no jornalismo pode ter demorado mais a chegar, só que veio com força, colocando empresas de mídia na situação em que elas raramente se encontram: a de vidraça, e não de estilingue no debate sobre diversidade.

Em todo o mundo multiplicam-se pesquisas demonstrando o que os que vivem no mundo da imprensa já sabem: com raras exceções, a mainstream media continua privilegiando homens brancos e da elite.

As várias faces da busca por diversidade na mídia 

Correspondentes de cinco países que colaboram para o Especial DEI do MediaTalks, que circula na semana que vem, relataram situações diversas. Em alguns mercados, o problema é gênero; em outros, a representação de povos originários.

Na Europa uma das grandes questões sociais é a aversão aos migrantes, criminosamente promovida por governantes de extrema direita, e que que não é endossada pela grande imprensa. Pelo menos não de forma explícita.

O Reino Unido é um exemplo dessa ambiguidade. Com exceção de tabloides mais radicais, a narrativa anti-imigração do Brexit não foi incorporada formalmente pelos grandes veículos.

E boa parte da mídia condenou o plano recente do governo de Boris Johnson de criar um centro de migrantes em Ruanda. Lá, os que chegarem ao país pelo Canal da Mancha ficarão aguardando os vistos serem processados.

Mesmo assim, alguns jornais abriram espaço para colunistas defenderem o projeto. E noticiaram com certo entusiasmo a desistência de pedidos de asilo por parte de migrantes que temiam ser levados para o país africano.

Desigualdades na cobertura e nas redações 

O tratamento dúbio em relação aos imigrantes pode ser resultado do que acontece da porta para dentro das redações. Disparidades sociais, de raça, de gênero e diferenças em remuneração resistem firmes, embora sejam admitidas nos acompanhamentos feitos pelas próprias empresas de mídia.

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Se o problema é reconhecido e as transformações rumo a mais diversidade na mídia não acontecem na velocidade esperada, outras formas de pressão, além de reclamar, começam a emergir.

Nos EUA, negros e hispânicos se organizaram em associações para exigir igualdade de condições na mídia.

E 140 entidades assinaram uma carta aberta aos organizadores do Pulitzer pedindo que relatórios de diversidade, equidade e inclusão sejam levados em conta para qualificar empresas jornalísticas a receberem o cobiçado prêmio, o mais importante do setor. 

O reconhecimento principal deste ano foi para o Washington Post, com uma série reconstruindo o antes, o durante e o depois da invasão do Capitólio, em 2021.

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Se a regra proposta no manifesto estivesse em vigor, talvez ele não fosse premiado. O sindicato de jornalistas do Post divulgou um relatório atualizando a situação da DEI no jornal, que não é boa. E piorou em um ano, apesar de uma editora-chefe mulher, Sally Buzbee, ter assumido o comando.

Em um painel conduzido pelo Media Diversity Institute do Reino Unido no congresso internacional de jornalismo de Perugia, em abril, um dos debates foi sobre se diversidade deve virar critério para o financiamento do jornalismo de interesse público, geralmente custeado por governos ou pelas taxas cobradas da população.

Exemplos como o de Joe Biden, que nomeou a negra, imigrante e gay Karine Jean-Pierre para o cargo de porta-voz, são importantes para dar o recado de que há gente diversa capacitada a ocupar posições de destaque.

Karine Jean-Pierre, nova porta-voz do governo Biden, substitui Jen Psaki no cargo (Foto: Reprodução/Twitter)

Entrevistado para o especial do MediaTalks, o professor de jornalismo da Universidade Carlos III de Madri Luis Albornoz, autor do capítulo de mídia do mais recente relatório da Unesco sobre diversidade na indústria cultural, defende as cotas de discriminação positiva em locais onde as desigualdades são mais acentuadas.

Em alguns países, essas desigualdades começam na academia. A jornalista brasileira Deborah Berlinck relata em nossa edição especial sobre diversidade na mídia o funil existente na França para acesso às poucas escolas de jornalismo, que acabam sendo frequentadas por filhos da elite.

Mudar não é fácil, embora caminhos existam. Sem vontade, contudo, o difícil vira impossível.

https://mediatalks.uol.com.br/2022/05/27/especial-mediatalks-diversidade-na-midia-global-inscreva-se-para-receber/

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