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Não ao ‘ageísmo’: no Brasil e no mundo, idosos usam TikTok para quebrar tabus

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Dolly Broadway, uma das principais influenciadoras idosas no TikTok (reprodução TikTok)

Embora consolidado como rede social queridinha dos jovens, chegando a bater o Google como  domínio mais popular do mundo em 2021, o TikTok está se revelando também um poderoso aliado de idosos, que descobriram o valor da plataforma para quebrar preconceitos relacionados à idade. 

Vídeos bem humorados estrelados por vovôs e vovós, em alguns casos com a ajuda dos netos, aparecem frequentemente nas timelines da audiência jovem da rede social chinesa e estão colaborando para quebrar o ageísmo, o preconceito contra pessoas mais velhas.

A tendência foi constatada em uma pesquisa realizada pelos professores Reuben Ng e Nicole Indran, da Universidade de Yale, que envolveu a análise de 1.382 publicações feitas por usuários com 60 anos ou mais, que tinham entre 100 mil e 5,3 milhões de seguidores.

Idosos influencers se conectam com jovens no TikTok

A pesquisa “Não tão velho para o  TikTok: Como os adultos mais velhos estão reformulando o envelhecimento”, em tradução livre, foi publicada no início do mês na revista médica The Gerontologist. 

Os idosos do TikTok têm imensa influência sobre o público jovem e um grande potencial para mudar os estereótipos sobre o envelhecimento, apontam os pesquisadores.

Tidos como alheias à tecnologia, muitas pessoas acima dos 60 anos se revelaram verdadeiros influenciadores ao dominar o formato e linguagem usados pelas novas gerações na plataforma, conquistando milhões de curtidas e seguidores.

Todos os vídeos analisados na pesquisa discutiam explicitamente a idade e, juntos, somavam mais de 3,5 bilhões de visualizações. 

O levantamento apontou que 71% do conteúdo avaliado desconstruía preconceitos etários, como achar que idosos são rabugentos, frágeis ou senis. 

Um exemplo dessa nova imagem proporcionada são as “vovós TikTokers”, que apostam no estilo e na moda para incentivar os usuários da rede a deixarem de idolatrar somente corpos jovens. 

São as “glammas”, termo derivado das combinações de “glamour” e “gramma” (“vovó”). Em um dos vídeos, uma mulher de 70 anos desfila alegremente pelas ruas em um top com umbigo de fora. 

A americana Dolores Paolino (@dolly_broadway) é uma das que faz sucesso, com 2,4 milhões de seguidores no TikTok. Os vídeos em que aparece com looks charmosos são sempre bem humorados, bem ao estilo da plataforma.

Paolino já entrou no radar de marcas de moda e maquiagem, com vários conteúdos patrocinados, rivalizando com influenciadoras que poderiam ser suas bisnetas. 

Neste, ela promove um aplicativo de namoro, algo impensável para pessoas idosas no passado.

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Dolly Broadway (reprodução TikTok)

Ng destacou no estudo que a maioria das idosas influencers do TikTok “resistem ferozmente aos estereótipos comuns de mulheres mais velhas como passivas, educadas e fracas”.

“Há evidências consideráveis ​​de que os estereótipos etários predominam entre os jovens nas mídias sociais”, afirmou o professor no estudo.

“A força dos preconceitos anti-idade significa que a participação de adultos mais velhos nas mídias sociais é vital para garantir que essas ideias sejam combatidas.”

Os pesquisadores constataram que maioria das TikTokers mais velhas não faz nenhuma tentativa de esconder os marcadores da velhice, ao contrário: elas demonstram autoconfiança em seus vídeos. 

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 Perfis de idosos no TikTok chegam a milhões de seguidores

Quase um em cada cinco dos vídeos analisados para a pesquisa ​​abordou vulnerabilidades relacionadas à idade, e um em cada 10 chamou a atenção para o ageísmo entre os mais jovens e até entre alguns idosos.

Criadores de conteúdo acima dos 60 anos no TikTok também dão um ar positivo ao envelhecimento ao mostrarem os benefícios de chegar a uma certa idade.

É o que Joe Allington (@grandadjoe1933) divide com seus 5,4 milhões de seguidores, por exemplo, ao brincar que pode beber durante a semana sem se preocupar em ir trabalhar no dia seguinte.

O aposentado inglês de 88 anos foi incentivado pela sua filha e netas a se aventurar na plataforma chinesa durante o lockdown na pandemia.

Com mais de 4 milhões de seguidores, a influencer Lilian Droniak (@grandmaann2) viralizou no TikTok ao falar com bom humor sobre um grande tabu: a morte e, especificamente, a morte dela própria.

Aos 92 anos, a idosa fez uma lista de recomendações para o seu futuro funeral que angariou mais de 6 milhões de curtidas e deixou uma pessoa próxima, a Bertha, bem desconfortável: 

“Estas são as regras: você pode chorar, mas não chore muito, não se faça de bobo.

Bertha não está convidada, não a deixe entrar. É melhor você ficar bêbado depois. Tome uma dose para mim.”

@grandma_droniak

it wont be any time soon but dont forget it #funeral #grandma #rules #dontcry #funeralservices #wake #greenscreen

♬ original sound – grandma_droniak

 

Idosos brasileiros no TikTok

O Brasil também tem influencers idosos no TikTok. Com mais de 11 milhões de seguidores, Nair Donadelli, de 90 anos, dividia o perfil @vovostiktokers com o marido, Nelson Miolaro, falecido em julho de 2021.

Juntos, o casal fazia dancinhas, dublagens e outros conteúdos engraçados para os jovens seguidores. Agora viúva, Nair continua ativa na rede social postando sobre sua rotina e participando de “trends”, os vídeos temáticos populares replicados pelos usuários. 

@vovostiktokers

Sou só eu que fico o dia inteiro cantando essa música? Ela não sai da minha cabeça! Fofinha! ♥️ #vovostiktokers #trend #fy #foryou #tiktoker #tiktokers

♬ オリジナル楽曲 – nachika – nayou

Outro vovô tiktoker brasileiro é Anesio Fiori, de 84 anos, conhecido como Vovô Anesio. Ele faz conteúdos com seu neto, o Caio, que começou a gravar o dia a dia dele com a avó, dona Elza. Hoje, o perfil @caioeovovoanesio tem 3,2 milhões de seguidores.

@caioeovovoanesio

NAOOOO, VOU BEBER PINGA 🤭 #fyp #voralizou #foryou

♬ som original – Caio e o vovô Anesio

“Esses idosos do TikTok se tornaram criadores de conteúdo de sucesso em um poderoso fenômeno contracultural no qual os idosos realmente contestam os estereótipos da velhice, abraçando ou até celebrando seu status de idade”, disse o professor Reuben Ng em entrevista ao jornal britânico The Guardian. 

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