Em mais um crime contra jornalistas da América Latina, o hondurenho Ricardo Ávila morreu dias após ser baleado na cabeça, no vilarejo de Santa Cruz, próximo à cidade Choluteca. A versão oficial apresentada pela polícia sobre o crime é contestada por entidade local defensora da liberdade de imprensa.

Ávila foi atacado no dia 26 de maio enquanto andava de moto e ficou internado em estado grave até 29 de maio, quando os médicos anunciaram sua morte em um hospital na capital Tegucigalpa. Ele tinha 25 anos.

A Associação Interamericana de Imprensa (SIP) fez um apelo para que as autoridades hondurenhas considerem a atividade jornalística entre os motivos da morte de Ricardo Ávila. 

Jornalista assassinado em Honduras cobria movimentos sociais

Os ataques letais contra a imprensa na América Latina escalaram de forma assustadora. Ao menos 19 crimes foram registrados na região no primeiro semestre deste ano.

Somente em Honduras, o grupo C-Libre, que luta pela liberdade de expressão no país, contabiliza quatro mortes de profissionais da mídia em 2022.

Organizações internacionais como a SIP, Repórteres sem Fronteiras (RSF) e Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) não confirmam o total de mortes em Honduras a trabalho ou por motivos associados ao jornalismo divulgado pelo C-Libre.  

Segundo a SIP, o caso anterior ao de Ávila foi o de Pablo Isabel Hernández Rivera, diretor e jornalista da rádio comunitária Tenán 94.1 FM, “La Voz Indígena Lenca”, assassinado no município de San Marcos de Caiquín em 9 de janeiro .

No entanto todas as entidades, reconhecem os riscos aos profissionais do país e de toda a região latina do Hemisfério Sul.

E a maioria dos casos segue um padrão semelhante ao do jornalista hondurenho Ricardo Ávila. Ele era de uma cidade pequena e tinha trabalhado como cinegrafista no canal de televisão Metro TV, em Choluteca, onde também apresentou o noticiário de sábado Metro Tv Notícias Fin de Semana.

Por volta das 5h da manhã de 26 de maio, o profissional de imprensa foi atingido por um tiro na cabeça disparado por uma pessoa ainda não identificada. No momento do crime, ele andava de moto no vilarejo em que morava.

A polícia afirmou que o caso se trata de um roubo seguido de morte (latrocínio), mas o C-Libre contesta essa versão.

Ao CPJ, a diretora do grupo, Amada Ordoñez, disse que o jornalista não foi vítima de um assalto, pois seus pertences, incluindo dinheiro, celular e motocicleta, foram encontrados com ele e acrescentou que “C-Libre confirmou que não foi um roubo comum”.

No site do grupo, eles reafirmaram essa declaração que contraria a versão da polícia:

“É claro que o crime contra Ricardo Ávila se deveu ao exercício de sua profissão, pois este comunicador social foi baleado nas primeiras horas da manhã e onde caiu abatido, quando foi socorrido, para ser levado ao hospital, sua família e amigos encontraram todos os seus pertences, a motocicleta, sua carteira e até seu celular.”

Ávila era conhecido por cobrir movimentos sociais em Choluteca e protestos contra zonas controversas de desenvolvimento econômico, conhecidas como ZEDEs, disse Ordoñez ao CPJ.

Segundo o grupo, a Metro TV é o único meio local que realiza a cobertura desses protestos, por isso, eles acreditam que o ataque foi “uma retaliação às reportagens de Ávila sobre esses assuntos.”

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O diretor de programas do CPJ, em Nova York, Carlos Martinez de la Serna, cobrou investigações minuciosas pelas autoridades hondurenhas sobre a morte do profissional:

“Honduras deve acabar com a impunidade generalizada pelos assassinatos de jornalistas e conduzir uma investigação completa para levar o assassino à justiça.”

Desde 1992, pelo menos oito jornalistas foram assassinados em razão de seu trabalho em Honduras, segundo o CPJ. O comitê ainda investiga outros 27 casos para determinar se as mortes tiveram alguma conexão com atividades jornalísticas.

Casos de crimes contra jornalistas na América Latina crescem em 2022

A guerra na Ucrânia e os crimes contra jornalistas na América Latina fizeram o número de profissionais de mídia assassinados disparar em 2022.

Somente no México, 11 profissionais da mídia morreram no primeiro semestre deste ano. Os últimos casos foram registrados em maio, com as mortes de Yessenia Mollinedo Falconi e Sheila Johana García Olivera, respectivamente diretora e repórter do site de notícias El Veraz em Cosoleacaque.

Elas morreram ao serem baleadas do lado de fora de uma loja de conveniência. Ambas sofriam ameaças por causa da cobertura de crimes locais.

O atentado aconteceu no mesmo dia em que os mexicanos se organizavam para protestar contra o 9º jornalista morto neste ano, Luis Enrique Ramírez Ramos.

O México é uma grande preocupação para entidades nacionais e estrangeiras defensoras da liberdade de imprensa, que apontam para os crescentes riscos enfrentados por jornalistas mulheres.

Profissionais de veículos pequenos e regionais como o El Veraz, onde Yessenia e Sheila trabalhavam, são maioria entre os crimes contra profissionais de mídia registrados no país e na região como um todo.

Além do México e Honduras, os outros países da América Latina que registram crimes letais contra jornalistas são o Brasil (1), Chile (1), Haiti (3) e Guatemala (1).

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