A censura na Ásia e Oriente Médio contra manifestações LGBT atingiu o mais novo filme da Pixar, Lightyear, por causa de uma cena com beijo gay entre duas personagens femininas.

Ao menos 14 países que criminalizam relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo baniram o lançamento da animação em seus cinemas, previsto para acontecer a partir de 16 de junho.

O Catar, sede da próxima Copa do Mundo, é uma das nações que proibiram a exibição do filme infantil famoso pelo personagem Buzz Lightyear, celebrizado pela animação Toy Story. 

Censura no Oriente Médio e Ásia sobre Ligthyear 

A censura no país é um alerta para os jornalistas que vão cobrir a competição no final do ano e para torcedores que vão assistir aos jogos. O governo já sinalizou, por exemplo, que bandeiras arco-íris serão vetadas entre torcedores.

O filme foi banido lá e na Arábia Saudita, Egito, Indonésia, Malásia, Líbano, Bahrein, Kuwait, Omã e Emirados Árabes, entre outros países. À agência Reuters, a produtora adiantou que também não deve ser exibido na China. 

A animação infantil conta a história da origem do astronauta de Toy Story, Buzz Lightyear. Com sua comandante e melhor amiga Alisha Hawthorne (dublada pela atriz Uzo Aduba), Buzz chega com sua nave em um planeta hostil. As centenas de pessoas a bordo tentam construir uma comunidade temporária enquanto ele faz voos teste para encontrar uma rota de fuga. 

O beijo que motivou o banimento do filme é dado por Alisha Hawthorne em sua parceira.

Não é a primeira controvérsia envolvendo a cena. Em março passado, em meio a pressões sobre a Disney devido à falta de resposta pública da empresa ao projeto de lei “Don’t San Gay” na Flórida,  funcionários LGBTQ da empresa e da Pixar fizeram uma declaração conjunta alegando que os executivos haviam censurado ativamente “afeição abertamente gay” em seus longas-metragens.

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Segundo a revista Variety, o beijo em Lightyear havia sido cortado e foi reintegrado após a carta. Mas a decisão não agradou a todos. 

Nos Emirados Árabes, que incluem Dubai e Abu Dhabi, a animação da Pixar chegou a ser aprovada e a exibição nos cinemas locais anunciada, com início da venda de ingressos online. 

Em seguida, a licença foi revogada por pressão de grupos religiosos que organizaram protestos online pedindo o banimento do filme com a hashtag em árabe “Ban Showing Lightyear in the Emirates”.

Um comunicado publicado no Twitter no dia 13 de junho confirmou a proibição sobe o argumento de “violação dos padrões de conteúdo de mídia do país”. 

“O gabinete confirma que todos os filmes exibidos nas salas de cinema do país estão sujeitos a acompanhamento e avaliação antes da data de exibição ao público, para garantir a segurança dos conteúdos de acordo com a classificação etária adequada”.

Questionada pela Reuters sobre a intenção de realizar modificações para contornar a censura sobre Lightyear, a produtora da animação, Galyn Susman, negou essa possibilidade, a despeito de a cena ter chegado a ser cortada por decisão interna. 

“Não vamos cortar nada, especialmente algo tão importante quanto o relacionamento amoroso e inspirador que mostra ao Buzz o que ele está perdendo por suas escolhas. Isso não será cortado.”

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O ator Chris Evans dubla o personagem principal na animação e criticou a censura no Oriente Médio sobre Lightyear à Reuters.

“É ótimo que façamos parte de algo que está avançando na capacidade de inclusão social, mas é frustrante que ainda existam lugares que ainda não chegaram lá.”

Segundo o site de cinema Deadline, produções da Disney têm enfrentado restrições em países do Oriente Médio por referências à homossexualidade e representação de figuras religiosas. Entre os filmes alvo de objeção estão West Side StoryDoutor Estranho no Multiverso da Loucura e Eternos .

Catar: a Copa no país que censurou Lightyear

Com maioria da população islâmica, o Catar é um país que não garante direitos a pessoas LGBT e, assim como alguns outros que baniram o filme da Pixar, criminaliza a homossexualidade até com pena de morte.

Desde que o país foi anunciado como sede da Copa do Mundo 2022, ativistas gays manifestaram preocupação com a recepção dos turistas LGBT no país.

As autoridades já declararam que o público gay será “bem-vindo” para a competição de futebol. No entanto, beijos em público já foram proibidos.

Em manifestação recente, uma autoridade da nação árabe afirmou que bandeiras com as cores do arco-íris, símbolo clássico da comunidade homossexual, podem ser confiscadas nos estádios para a “proteção” dos torcedores.

Nesse cenário, jornalistas esportivos que irão ao Catar para a Copa do Mundo correm o risco de ter a cobertura afetada pelo governo do país.

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O temor não é infundado: no último Ranking de Liberdade de Imprensa da organização Repórteres sem Fronteiras (RSF), o Catar foi classificado em 119º na avaliação de 180 países.

A ONG atribuiu a posição à constantes censura e repressão que os profissionais da mídia enfrentam. Desde 2014, uma lei de crimes cibernéticos criminaliza jornalistas pela divulgação de “notícias falsas” — ou seja, contrárias ao governo.

Para mostrar que o jornalismo esportivo não está alheio às causas sociais, um grupo de jornalistas dinamarqueses se recusou a receber um prêmio no Estádio Khalifa, em Doha, neste mês.

O motivo? O local é apontado por ativistas de direitos humanos como construído por trabalho análogo à escravidão pela empresa francesa Vinci.

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