Na semana em que o Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo publicou a edição 2022 de seu relatório de mídia digital apontando os EUA em último lugar entre os países em que o público menos confia na imprensa, o jornal americano USA Today teve que anunciar a remoção de 23 reportagens por plágio e invenção de fontes.
As matérias eram de autoria da repórter Gabriela Miranda, que pediu demissão assim que uma investigação interna foi aberta.
Mas o USA Today, que pertence à Gannett, uma das maiores empresas jornalísticas dos EUA, só tornou o caso público por meio de uma nota à imprensa na quinta-feira (16), depois que o New York Times revelou a história.
Plágio foi descoberto após reclamação ao jornal
A auditoria interna foi aberta pelo USA Today após um pedido de correção em um dos textos da jornalista.
O veículo decidiu investigar outras reportagens produzidas por ela, constatando irregularidades que não “atendem aos padrões editoriais” do jornal, informou o comunicado.
“Nós nos esforçamos para ser precisos e factuais em todo o nosso conteúdo e lamentamos essa situação.
Continuaremos a reforçar nossos processos de apuração de notícias e edição.”
O USA Today não é o primeiro grande jornal americano a se ver confrontado com más práticas de seus integrantes.
Fatos como esses alimentam narrativas anti-imprensa, que se tornaram mais fortes nos EUA durante o governo de Donald Trump.
Um dos casos mais notórios aconteceu com o próprio New York Times, que agora revelou a história do concorrente.
O ex-jornalista Jayson Blair foi demitido pelo jornal em 2003 por plagiar e forjar 36 das 73 reportagens publicadas por ele ao longo de cinco meses.
Em 2020, outro caso causou constrangimentos ao New York Times.
O podcast “Califado”, produzido pela premiada jornalista Rukmini Callimachi, teve como fonte principal um suposto combatente do Estado Islâmico na Síria preso depois pela polícia canadense por “farsa de terrorismo”, nunca tinha estado no país. Ainda assim, o jornal manteve o podcast no ar.
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Dois anos depois, é o NYT quem revela a história da repórter Gabriela Miranda, do USA Today.
Segundo a publicação o maior jornal do conglomerado de 250 veículos da Gannett recebeu a ligação de uma organização dizendo que não tinha nenhuma ligação com uma fonte citada em uma matéria e atribuída como funcionária deles.
Foi assim que, de acordo com o NYT, a investigação interna começou no USA Today.
Em nota, o jornal disse que a auditoria revelou que “alguns indivíduos citados não faziam parte das organizações a que supostamente pertenciam e pareciam ser inventados”. Ou seja: a jornalista criou fontes como se fossem entrevistados e associou-as a empresas reais.
“A existência de outros indivíduos citados não pôde ser verificada de forma independente. Além disso, algumas matérias incluíam citações que deveriam ter sido creditadas a outros veículos”, informou o USA Today
Com isso, 23 matérias produzidas por Miranda foram removidas do site e de outras plataformas, como redes sociais.
Os textos eram diversos: iam de reportagens sobre desafios do TikTok a leis de aborto no Texas, e até sobre a série “Round 6” da Netflix.
Os links originais foram mantidos no ar, mas os usuários que chegam até a eles leem somente um aviso: “Esta matéria foi removida de nossas plataformas porque não atende aos nossos padrões”.
USA TODAY removed 23 articles from its website and other platforms following an audit of a reporter’s work. https://t.co/OtJHnkwwXI
— USA TODAY (@USATODAY) June 16, 2022
Consultando o arquivo na web de algumas das reportagens, o site de jornalismo Pontyer constatou que algumas fontes inventadas pela jornalista eram estudantes de medicinas, médicos profissionais e uma testemunha de um atentado no metrô de Nova York.
O jornal se comprometeu a “melhorar o processo para quem deseja apresentar reclamações ou solicitar correções” e “certificar-se de que as matérias tenham informações de identificação claras e suficientes para os indivíduos citados”.
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Em outros casos de plágio, jornalistas já foram suspensos e demitidos
Acusações de plágio já colocaram jornalistas renomados em saia justa no passado. Em 2011, o Washington Post suspendeu por três meses a repórter veterana Sari Horwitz, vencedora de Pulitzer, por “plágio substancial” em duas matérias.
Informações da agência EFE da época relataram que, em um dos artigos, dez parágrafos foram copiados na íntegra do jornal Arizona Republic.
“Devido aos prazos muito curtos para entregar minha matéria, fiz algo que não tinha feito em toda minha carreira: utilizei o trabalho de outro veículo como se tivesse sido meu. Foi errado. Foi indesculpável”, afirmou Horwitz à imprensa na ocasião.
No caso de Jayson Blair, do New York Times, não apenas o então jornalista como dois editores também foram demitidos. E foi criada uma comissão interna para reforçar os controles da redação e evitar a repetição de casos semelhantes.
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