Londres – Embora a pandemia do coronavírus e a guerra na Ucrânia tenham reafirmado a importância do jornalismo confiável, a imprensa nunca enfrentou tantos desafios – e as fake news estão entre os principais.
Ser acusado de produzir fake news, a pressão para fazer mais com menos recursos e o foco em engajamento online são alguns dos obstáculos que tornaram o trabalho dos jornalistas mais desafiador, segundo a pesquisa “State of the Media 2022” da plataforma de distribuição de comunicados para a imprensa Cision.
A empresa ouviu mais de 3,8 mil jornalistas de 2.160 veículos em 17 mercados globais (sem o Brasil) para entender como o jornalismo está encarando as rápidas mudanças da indústria, que cobra cada vez mais a produção de conteúdo relevante em um ciclo de notícias que “vivem” por menos de 24 horas.
Fake news preocupam imprensa no mundo
Essencialmente, o papel do jornalista é o mesmo de sempre: relatar os fatos, de forma objetiva e completa.
Mas em um ecossistema de mídia transformado pelas redes sociais disputando a atenção da audiência, e da polarização insuflada por meio delas, a percepção do público pode não corresponder às expectativas dos profissionais de imprensa.
A maioria dos entrevistados relatou que o maior desafio dos jornalistas neste momento da história é manter a credibilidade como fonte confiável de notícias (32%) e combater as acusações de que a imprensa produz “fake news”.
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Para piorar a situação dos profissionais, mais da metade dos jornalistas pesquisados (57%) sente que o público perdeu a confiança na mídia no último ano — um aumento de 4% em relação à pesquisa de 2021 da Cision.
Isso foi confirmado pelo estudo anual do Instituto Reuters para Estudos de Jornalismo em Oxford, que apontou queda na confiança do público nas notícias que recebe.
A sensação de perda de confiança é maior entre os jornalistas da América do Norte (61%), vindo em seguida os da Europa (55%).
Mais da metade dos profissionais da Ásia-Pacífico (55%), porém, acham que a confiança na mídia não mudou substancialmente no último ano. E 14%% acham até que aumentou.
O segundo maior problema citado pelos jornalistas depois do efeito das fake news sobre a imprensa é o impacto que equipes menores e menos recursos estão tendo em suas rotinas diárias, com 16%.
Para a plataforma Cision, isso reflete o esforço dos profissionais para acompanhar o ciclo interminável de notícias: quase três em cada dez jornalistas (29%) produzem 10 ou mais matérias por semana; 36%, de 4 a 9 matérias por semana; 34%, entre uma a três matérias por semana.
Não apenas os jornalistas estão publicando várias reportagens em um curto espaço de tempo, como a maioria também cobre vários assuntos.
Quase metade dos jornalistas (44%) cobrem de dois a quatro temas; quase o mesmo número (43%) cobre cinco ou mais temas.
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Como a queda de receitas afeta imprensa
O terceiro maior desafio no jornalismo atual apontado pelos profissionais (16%) é o declínio das receitas de publicidade e circulação das mídias impressas.
A redução de verba disponível aumenta a cobrança para que os jornalistas produzam mais, principalmente no ambiente digital.
Isso leva muitas redações e editores a acompanharem os dados de audiência de perto.
A pressão para gerar cliques, compartilhamentos, curtidas e reproduções de vídeo está impactando diretamente o setor: 59% dos jornalistas concordam que a disponibilidade de métricas detalhadas de audiência está fazendo com que repensem a forma como decidem o que será publicado ou veiculado.
Os demais desafios do setor apontados pelos jornalistas são as redes sociais e influenciadores passando por cima da mídia tradicional (14%); as linhas tênues entre editorial e publicidade (10%) e os ataques à liberdade de imprensa (8%).
Profissionais de imprensa nas redes sociais
Além dos desafios, a pesquisa da Cision avaliou a relação dos jornalistas com as redes sociais para o desenvolvimento de seu trabalho.
A maioria (20%) respondeu que as mídias sociais são principalmente usadas para publicar ou promover conteúdos, e depois para interagir com o público/audiência (18%).
Em terceiro lugar, 16% dos jornalistas disseram que as plataformas online são usadas para fazer networking, ou seja, conexões profissionais.
A mesma porcentagem (16%) disse que usa as redes sociais para monitorar outros veículos ou descobrir o que está acontecendo.
Em todo o mundo, o Facebook é a plataforma que os jornalistas usam com mais frequência por motivos profissionais (63%), seguido pelo Twitter (59%) e LinkedIn (56%).
Se o Facebook ser a rede “queridinha” dos profissionais de mídia causa surpresa, um recorte regional mostra que o Twitter divide o primeiro lugar com a plataforma de Mark Zuckerbeg na América do Norte e está empatado com o LinkedIn como a segunda plataforma mais usada nos mercados europeus.
Já na região Ásia-Pacífico, o Instagram perde apenas para o Facebook, e os jornalistas são tão propensos a usar o WhatsApp quanto o LinkedIn.
O WhatsApp também é mais popular entre os jornalistas na Europa e na Ásia do que na América do Norte, onde é mais comum o uso de Telegram ou do iMessage para trocas de mensagens virtuais.
O levantamento feito pela Cision sobre os desafios no jornalismo também apresenta dicas para assessores de imprensa e profissionais de relações públicas para as melhores práticas de abordagem e sugestão de pautas para os meios de comunicação.
A íntegra do estudo “State of the Media 2022” pode ser acessada neste link.
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