Londres – O fotógrafo ucraniano Maks Levin, que trabalhava para o site local LB.ua e colaborava como freelancer para a agência Reuters, foi  morto na guerra da Ucrânia por forças militares da Rússia, possivelmente depois de ser torturado.

A conclusão é da organização Repórteres sem Fronteiras (RSF), que fez uma investigação independente para apurar o que aconteceu  após Levin desaparecer, no dia 13 de março, em Moshchun, uma vila 20 km ao norte de Kiev, junto com outro profissional que o acompanhava no trabalho. 

“Eles foram executados a sangue frio”, diz o relatório publicado na quarta-feira (22).

Fotógrafo morto na queria cobrir guerra in loco

Morto aos 40 anos, Maks Levin era um experiente fotógrafo de guerra que já tinha documentado conflitos em vários países e fazia parte da equipe de colaboradores da agência Reuters. 

O corpo foi encontrado somente no dia 1º de abril, fazendo dele o sexto jornalista morto na guerra na Ucrânia até aquele momento. Agora, o total chega a oito.

Em uma visita à Ucrânia entre 24 de maio e 3 de junho, a RSF reuniu evidências “esmagadoras” contra soldados russos não identificados na morte de Levin e do amigo que o acompanhava, Oleksiy Chernyshov.

Com o início da guerra no Leste Europeu, o fotógrafo entrou em contato com um grupo de soldados que conhecia desde a cobertura do conflito no Donbas em 2014 para acompanhá-los e registrá-los em combate. 

Suas imagens sobre a invasão russa foram publicadas em vários meios de imprensa internacionais. Ele também já havia colaborado com outras mídias globais como BBC, TRT World e Associated Press.

“Ele queria cobrir essa guerra o mais próximo possível daqueles que a lutavam e, acima de tudo, aqueles a ela submetidos”, diz a RSF no relatório sobre o fotógrafo morto na guerra. 

Fotógrafo Maks Levin foi executado por soldados da Rússia, diz RSF (Foto: Divulgação/CPJ/Inna Varenytsia)

No relatório intitulado “Como o jornalista ucraniano Maks Levin foi executado pelas forças russas”, a organização francesa apresentou provas do que já tinha sido indicado, em abril, pela promotoria do distrito de Vyshhorod, onde o corpo foi encontrado.

“Ele estava desarmado e foi morto por soldados das Forças Armadas russas com dois disparos de arma de fogo”.

A ONG reuniu informações, fotos, depoimentos e provas materiais obtidas no decorrer da investigação conduzida na Ucrânia por Arnaud Froger, chefe do escritório de investigação da RSF, e Patrick Chauvel, um fotógrafo de guerra francês que havia trabalhado com Levin em Donbas no final de fevereiro. 

Acompanhado por membros das forças de segurança ucranianas, a dupla conseguiu localizar a cena do crime e o carro modelo Ford Maverick de Levin, que foi carbonizado e abandonado no meio da floresta próxima à vila onde seus corpos foram encontrados.

“A RSF encontrou várias balas no local, juntamente com os documentos de identidade de Chernyshov, que estava com Levin, e identificou 14 marcas de balas em seu carro.

Vários itens com possíveis vestígios de DNA atestando a presença de soldados russos muito perto do local onde Levin e Chernyshov foram mortos também foram identificados pela RSF e alguns deles, levados.

Em uma fase final de busca iniciada pela RSF, detectores de metal localizaram uma bala que provavelmente atingiu Levin.”

A conclusão é de que o fotógrafo e seu acompanhante, que era soldado, foram mortos por soldados do exército da Rússia combatendo na guerra da Ucrânia, possivelmente depois de serem interrogados e até torturados. 

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O documento também aponta duas hipóteses para as mortes do fotógrafo ucraniano e seu amigo. O relatório na íntegra pode ser acessado neste link.

“Esses dois cenários oferecem possíveis caminhos para reconstruir a sequência de eventos e estabelecer exatamente o que aconteceu. Esperamos que um dia levem à identificação dos autores deste duplo assassinato”, afirma a ONG.

Christophe Deloire, secretário-geral da RSF, reforça que as provas sobre a morte do fotógrafo ucraniano na guerra obtidas apontam para uma execução que pode ter sido precedida de interrogatório ou mesmo atos de tortura.

“No contexto de uma guerra fortemente marcada pela propaganda e pela censura do Kremlin, Maks Levin e seu amigo pagaram com a vida por sua luta por informações confiáveis.

Devemos-lhes a verdade. E vamos lutar para identificar e encontrar quem os executou.”

Durante a visita à Ucrânia, a equipe da RSF se reuniu com o vice-procurador-geral do país em guerra, com o chefe do departamento de investigação de crimes contra a mídia e o chefe da promotoria regional de Kiev.

“Durante esta entrevista, a RSF entregou nove provas coletadas em campo e um pen drive contendo várias dezenas de fotos da cena do crime tiradas por Patrick Chauvel.”

A guerra na Ucrânia já vitimou oito jornalistas que trabalhavam na cobertura do conflito para veículos da Rússia, Estados Unidos, Lituânia e França.

A última vítima da mídia foi Frédéric Leclerc-Imhoff, um cinegrafista francês que trabalha para a emissora de notícias de BFM TV.

Ele foi morto por estilhaços de um projétil disparado pelas forças russas em 30 de maio enquanto cobria uma operação de evacuação ucraniana na região de Severodonetsk.

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