O jornalista sérvio Veran Matić, um dos mais conhecidos do país e notório defensor da liberdade de imprensa, foi alvo de uma forma incomum de assédio público, que recebeu a condenação de entidades internacionais e locais.

A imagem do rosto de Matić foi estampada em um cartaz no estilo “procurado”, como se ele fosse foragido da Justiça e instando a população a denunciá-lo às autoridades. Os pôsteres foram colocados nas ruas da cidade de Vranje.

A Coalizão para a Liberdade dos Meios de Comunicação Social, entidade que reúne representantes da imprensa de países dos Balcãs, associou o fato à perseguição sofrida por uma rádio local. Matić se posicionou publicamente em defesa do veículo, o que, segundo a coalizão, motivou o protesto contra ele.

Dois suspeitos são presos por assédio a jornalista

Veran Matić é o presidente da Associação de Mídia Eletrônica Independente.

Nas últimas semanas, ele, assim como outros representantes de organizações jornalísticas da Sérvia, defenderam a Rádio OK e seu proprietário Olivera Vladković dos ataques recebidos por “grupos criminosos”, segundo informou, em nota, a coalizão.

“Os cartazes nas ruas de Vranje com uma foto de Matić dizem que ele está ‘destruindo Vranje'”, diz a entidade. O veículo perseguido fica localizado nessa cidade.

Informações da emissora sérvia Insajder dizem que dois suspeitos de colarem os cartazes foram presos na quinta-feira (30).

A polícia ainda busca por mais duas pessoas que estariam envolvidas no caso e diz ter identificado o autor responsável pelas imagens.

A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) manifestou preocupação com o “novo método de intimidação” sofrido pelo jornalista.

Segundo a imprensa sérvia, o prédio onde fica a Rádio OK foi “emparedado” por uma construção ilegal, bloqueando suas janelas, numa clara intimidação ao trabalho dos jornalistas do local.

As organizações que defendem o jornalismo no país acusam grupos criminosos de estarem por trás disso.

“A coalização exige que a polícia descubra quem é o responsável por esses cartazes em Vranje, que apareceram depois que representantes de associações de jornalistas profissionais visitaram a Rádio OK e apontaram violações da lei e informaram o público sobre atos criminosos para proteger seus colegas.”

Imprensa se autocensura para evitar perseguição na Sérvia

No ranking mundial de liberdade de imprensa da RSF, a Sérvia parece na 79ª posição entre 180 países.

A entidade destaca que o clima político altamente polarizado do país submete os jornalistas a ataques “instigados por membros da elite dominante que são amplificados por certas redes de TV nacionais.”

E, embora o país seja reconhecido por algumas das leis mais avançadas em relação à mídia, os profissionais de imprensa geralmente trabalham em um ambiente restritivo, incluindo a autocensura.

Casos como o assédio público ao jornalista Veran Matić são incomuns no país, mas a RSF destaca que as mulheres são as mais visadas por críticos.

“Embora os esforços estejam em andamento para melhorar a segurança dos jornalistas e combater a impunidade dos crimes cometidos contra eles, os jornalistas sérvios ainda estão longe de se sentirem protegidos.

Isso é reforçado pelo fato de que muitos ataques sérios a jornalistas continuarem sem solução, como o assassinato de Slavko Ćuruvija, em 1999.”

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