Jornalistas que estรฃo cobrindo a visita do presidente Joe Biden ร  Palestina nesta sexta-feira fizeram um protesto silencioso contra o assassinato de Shireen Abu Akleh, a repรณrter da Al Jazeera morta por soldados israelenses em maio, usando camisetas com a foto do rosto da colega durante a entrevista coletiva. 

Ao lado do presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abas, Biden falou pela primeira vez sobre Abu Akleh, mas deslizou na pronรบncia do nome dela. Nas redes sociais, palestinos viram no gesto um desrespeito e falta de compromisso com a Palestina.

Os jornalistas foram impedidos de fazer perguntas na entrevista conjunta de Biden e Mahmoud Abbas. E colocaram um cartaz com a foto de Abu Akleh em uma das cadeiras, para relembrar que ela nรฃo estรก lรก cobrindo a visita presidencial. 

Biden evitou falar da jornalista palestina

Depois de passar por Israel e Palestina, Biden segue para Riad. A passagem do lรญder americano pelo Oriente Mรฉdio estรก sendo marcada por protestos pelas mortes de Abu Akleh e do jornalista saudita Jamal Khashoggi, em 2018.

Desde que chegou ร  regiรฃo, Biden vinha evitando falar sobre a morte da jornalista palestina.

Shireen Abu Akleh, que tambรฉm era cidadรฃ dos EUA, foi morta por tiros disparados por forรงas israelenses no dia 11 maio durante a cobertura de um ataque na Cisjordรขnia ocupada.

A famรญlia da repรณrter da Al Jazeera pediu uma reuniรฃo com o presidente americano durante sua visita a Israel em carta aberta publicada nas redes sociais. Mas o encontro nรฃo foi incluรญdo na agenda oficial.

Em vez disso, o Departamento de Estado convidou os familiares de Abu Akleh para irem a Washington.

Na carta, o irmรฃo da jornalista pedia o encontro com Biden justamente para questionar o relatรณrio do รณrgรฃo americano, publicado no inรญcio do mรชs, que isentou Israel de ter matado de forma deliberada a profissional de imprensa.

Ao longo da semana, faixas, cartazes e murais com o rosto de Shireen Abu Akleh foram feitos nas ruas do territรณrio ocupado por Israel cobrando dos EUA aรงรตes contra o paรญs aliado pela morte da jornalista.

O erro ao pronunciar o nome da jornalista foi criticado nas redes sociais. 

Apesar do deslize, Biden se comprometeu a continuar os esforรงos sobre a investigaรงรฃo da morte de Abu Akleh:

โ€œOs Estados Unidos continuarรฃo a insistir em uma prestaรงรฃo de contas completa e transparente de sua morte e continuarรฃo a defender a liberdade de imprensa em todo o mundo.โ€

O presidente americano, no entanto, nรฃo citou a responsabilidade de Israel pelo assassinato da jornalista da Al Jazeera.

Alรฉm do documento do governo dos EUA, relatรณrios independentes feito por organizaรงรตes e pela imprensa, incluindo a CNN e o New York Times, apontaram que o tiro que matou Abu Akleh partiu de forรงas israelenses.

โ€œEla era uma cidadรฃ americana e uma orgulhosa palestinaโ€, disse Biden. “Ela estava realizando o trabalho vital da mรญdia independente e da democracia; sua morte รฉ uma enorme perda para o trabalho essencial de compartilhar com o mundo a histรณria do povo palestino.”

โ€œEspero que seu legado inspire mais jovens a continuar seu trabalho de relatar a verdade e contar as histรณrias que muitas vezes sรฃo negligenciadas.โ€

Cartaz ocupou lugar que seria de Shireen na coletiva

Apรณs a coletiva conjunta, o presidente da AP, Mahmoud Abbas, falou a jornalistas sobre a repรณrter da Al Jazeera e disse que pediu a Biden que a “justiรงa” seja feita para o caso dela.

“Pedimos que sejam entregues ร  justiรงa os responsรกveis pela morte de Shireen Abu Akleh. ร‰ preciso impedir que Israel se sinta acima do direito internacional”, afirmou Abbas.

Colegas de profissรฃo de Abu Akleh que participaram da entrevista coletiva de Biden nesta manhรฃ, incluindo profissionais da rede รกrabe Al Jazeera,  colocaram um cartaz em homenagem ร  jornalista em uma das cadeiras reservadas para a imprensa.

“Shireen Abu Akleh, a voz da Palestina”, diz o texto.

“Ela deveria estar lรก cobrindo ao lado de seus colegas”, publicou a sobrinha da jornalista, Lina, nas redes sociais. “Como Shireen dizia, ‘em alguma ausรชncia hรก uma presenรงa maior'”, acrescentou.

“ร‰ muito lamentรกvel que Shireen nรฃo esteja cobrindo os eventos de hoje, mas seus colegas estรฃo lรก para exigir justiรงa”, escreveu outra sobrinha da repรณrter, Lareen, no Twitter.

Antes, os profissionais foram informados de que nรฃo poderiam fazer perguntas aos lรญderes dos EUA e da Palestina apรณs os discursos de ambos.

Por isso, jornalistas palestinos usaram camisetas pretas com a foto do rosto da repรณrter da Al Jazeera, escritas com #JustiรงaparaShireen.

A entrevista de Biden aconteceu no complexo presidencial da Autoridade Palestina em Belรฉm, no sul da Cisjordรขnia ocupada.

Alรฉm dos cartazes e faixas espalhados pela cidade, dezenas de palestinos protestaram a cerca de 1 km de onde o americano falava ร  imprensa, segundo a Al Jazeera.

Relembre o caso da jornalista palestina

Uma das mais conhecidas jornalistas da rede de TV Al Jazeera, Shireen Abu Akleh foi assassinada a tiros pelo exรฉrcito israelense na Palestina enquanto cobria um ataque na cidade ocupada de Jenin, na Cisjordรขnia, no dia 11 de maio.

Hรก mais de duas dรฉcadas na televisรฃo, a morte dela causou indignaรงรฃo entre os palestinos, governos e organizaรงรตes internacionais que defendem o jornalismo.

Protestos e confrontos com a polรญcia israelense aconteceram atรฉ mesmo em seu funeral, acompanhado por milhares de palestinos.

A visita de Biden ao Oriente Mรฉdio motivou manifestaรงรตes em Israel, onde ele passou primeiro por Jerusalรฉm. Cartazes e faixas estamparam o rosto da jornalista da Al Jazeera pelas ruas e cobraram justiรงa.

Em Belรฉm, ativistas tambรฉm espalharam cartazes com os dizeres: โ€œSr. Presidente, isso รฉ apartheidโ€, em referรชncia a violรชncia sofrida pelos palestinos que vivem naquela regiรฃo, um dos territรณrios ocupados por Israel.

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