Londres – Um fotojornalista que ficou conhecido por cobrir protestos contra o golpe militar de fevereiro de 2021 foi o segundo a morrer preso em Mianmar, segundo informações da Rafio Free Asia (RFA) e veículos locais.
Aye Kyaw, de 48 anos, tinha um estúdio de fotografia na cidade de Sagaing e era membro da Associação de Fotografia do Alto Mianmar. Na madrugada de 30 de julho, ele foi preso em casa por soldados.
Kyaw é o segundo fotógrafo a morrer sob custódia dos militares. Em dezembro, o profissional freelancer Soe Naing, que também documentou manifestações públicas contra o governo, foi preso e morreu antes de ir a julgamento.
Jornalista tinha ferimentos pelo corpo
No dia da prisão de Aye Kyaw, um comboio de seis veículos militares chegou à sua residência às 2h da manhã alegando ter recebido uma “dica” de que havia armas escondidas no local, de acordo com os relatos dos familiares do jornalista à RFA.
Um amigo da família, que não quis ser identificado, contou ao veículo que os soldados não encontraram nada na casa, mas prenderam o fotógrafo mesmo assim.
“O exército veio em seis carros e o prendeu. Três estavam do lado de fora, três entraram no terreno [da residência].”
“[As tropas] disseram que atirariam se o portão não fosse aberto. Eles revistaram a casa inteira, mas não encontraram nada. Nada mesmo.”
Por volta do meio-dia, um funcionário do governo disse à família de Kyaw que ele morreu na cadeia, sem dar explicações do que tinha acontecido ou a causa da morte.
E informou que o corpo estava no Hospital da Cidade de Sagaing e eles “poderiam recuperá-lo, se quisessem, ou deixá-lo lá”.
Um serviço funerário social transferiu o corpo para ser velada pela família, que o enterrou no dia seguinte.
Uma fonte anônima citada pela RFA disse ter visto hematomas no corpo de Aye Kyaw. “Não vimos nenhum ferimento no rosto, mas havia hematomas escuros nas costelas e nas costas”, relatou.
A supressão da liberdade de imprensa em Mianmar é acompanhada por grupos internacionais de jornalismo. Além da mídia, o golpe militar em fevereiro de 2021 também censurou a sociedade civil.
Especialistas em direitos humanos das Nações Unidas (ONU) assinaram uma nota conjunta em junho condenando as tentativas da junta para estabelecer uma “ditadura digital” contra a população do país, com restrições ao acesso à internet, vigilância e outras barreiras ao livre acesso online.
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O Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) condenou a morte de Aye Kyaw e cobrou investigações para o caso:
“As autoridades de Mianmar devem esclarecer imediatamente se o fotojornalista Aung Kyaw morreu sob custódia militar.
Se foi assim, os responsáveis devem ser identificados e levados à justiça.”
Jornalista pode ter sido torturado em Mianmar
Aye Kyaw é pelo menos o quarto jornalista a ser assassinado desde que os militares tomaram o poder em Mianmar, segundo o CPJ.
O fotógrafo ficou conhecido entre políticos e pela mídia local por registrar protestos e outras atividades públicas contra a ditadura que aconteciam na cidade onde morava.
Um morador de Sagaing, que não quis ser identificado por razões de segurança, disse à RFA que as pessoas na cidade estão “vivendo com medo” por causa de incidentes como a morte do Kyaw.
“Trabalhei com Aye Kyaw durante os protestos em Sagaing e tiramos fotos juntos. Me sinto horrível”, lamentou.
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À reportagem, ele relatou que o corpo do jornalista não tinha sinais de ferimentos externos, como cortes ou perfurações de bala, o que o faz acreditar que o colega pode ter morrido “devido a tortura extrema”.
“O que acontece aqui em Sagaing é que vemos prisões e assassinatos arbitrários quando os militares chegam e encontram algo que não gostam.
Não existe lei. A lei vem do cano da arma. Eles fazem o que querem. Sentimos que a pena de morte é aplicada sempre que o exército se aproxima.”
De acordo com a Associação de Assistência a Presos Políticos, sediada em Bangkok , grupo independente de monitoramento de direitos humanos na Ásia, pelo menos 2.167 ativistas pró-democracia e civis foram mortos pela junta militar desde o golpe em Mianmar.
E quase 15 mil pessoas foram presas, a maioria em protestos pacíficos contra a ditadura.
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