No primeiro incidente, em 6 de agosto, hackers ativistas chineses exibiram uma série de mensagens expressando apoio à unificação de Taiwan com a República Popular da China. Eles substituíram as telas por um mapa da China continental e de Taiwan acompanhado pelas palavras “China, nem um pouco menos”.
Outros ciberataques também aconteceram em painéis de lojas de conveniência e em sites de infraestrutura do governo de Taiwan, o que foi confirmado pelo próprio governo.
Ciberataques atribuídos à China gerenciados pela FTV
Logo após o ataque do dia 6 de agosto, que durou três minutos, a FTV News divulgou que sua transmissão no YouTube havia sido hackeada, embora o canal de televisão não tenha sido afetado.
Capturas de tela feitas por telespectadores da FTV mostraram o canal da rede no YouTube exibindo declarações pró-China, como “A soberania territorial da China não pode ser interferida por estranhos”, ou“Eu gostaria de usar a juventude de nossa geração para defender a próspera China”.
Algumas foram mais ameaçadoras, como “Opinião pública não deve ser violada, e brincar com fogo certamente incendiará a pessoa.”
Deste então a FTV News também foi alvo de ataques intermitentes de Negação Direta de Serviço (DDOS), segundo a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ, na sigla em inglês).
Um porta-voz da rede afirmou que a emissora “vem gerenciando ataques cibernéticos que aconteceram recentemente com o objetivo de garantir a segurança da transmissão”.
Na semana anterior, uma rede de lojas de conveniência de Taiwan também foi alvo de um ataque cibernético, com painéis eletrônicos exibindo as palavras “Pelosi, saia de Taiwan!”.
Nancy Pelosi foi a mais alta autoridade dos EUA a visitar Taiwan nos últimos 25 anos. Na visita, ela expressou apoio político e de segurança ao país apresentou uma mensagem de cooperação e se reuniu com ativistas pró-democracia e de direitos humanos, o que teria motivado os ciberataques atribuídos à China.
Além dos ciberataques atribuídos à China, a visita diplomática a Taiwan desencadeou uma reação significativa do governo de Xi Jiping, com a Australian Broadcasting Company relatando que o embaixador dos EUA em Pequim foi convocado para dar explicações.
Pequim cortou a colaboração com Washington em várias frentes, incluindo o combate à atual climática. E vem realizando exercícios militares e navais em Taiwan.
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Ciberataques confirmados por Taiwan
As autoridades de Taiwan também confirmaram um ataque “sem precedentes” a sites e infraestrutura do governo após a visita da presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos.
A Radio Free Asia (RFA) informou que Chen Yu-lin, vice-diretor do Departamento Político e de Guerra do Ministério da Defesa Nacional de Taiwan, disse aos jornalistas na segunda-feira que a atual onda de “operações cognitivas” começou antes do anúncio dos exercícios militares.
Chen disse que a “campanha de guerra híbrida” procurou criar uma atmosfera sugerindo que a China poderia estar invadindo Taiwan, a fim de “atacar a imagem pública do governo e perturbar a moral civil e militar”.
“Os exercícios militares da China começaram em 4 de agosto, quando o número de postos relacionados à guerra cognitiva visando Taiwan disparou para 73, chegando a 87 em 5 de agosto”, disse Chen. “[Mas] a mídia oficial postou um total de 87 mensagens em 2 de agosto, antes do início dos exercícios militares.
O governo emitiu um comunicado à imprensa para informar ao público que as mensagens não eram verdadeiras, incluindo uma sobre o abate de um caça taiwanês que acompanhava o avião de Pelosi.
“Imediatamente esclarecemos que se tratava de uma notícia falsa”, disse Chen à RFA.
Chen Hui-min, editor-chefe do Taiwan FactCheck Center, também falou à RFA sobre os ciberataques que teriam sido praticados pela China e a disseminação de conteúdo falso.
Ele relatou que a organização detectou um aumento de 30% a 40% em fake news desde a visita de Pelosi.
“A maior diferença [do passado] é que as fake news parecem estar se espalhando do Twitter em inglês”, disse Chen à RFA.
“Há também muitas informações falsas na [plataforma de mídia social] da China Weibo, algumas das quais chegaram às plataformas de mídia social usadas em Taiwan, incluindo LINE e Facebook”.
“Costumava ser muito raro ver essas postagens no Twitter em inglês, disse Chen. “Contas que antes se concentravam na guerra na Ucrânia de repente começaram a espalhar notícias falsas sobre a visita de Pelosi a Taiwan.”
A Universidade Nacional de Taiwan foi outra organização hackeada, com as palavras “há apenas uma China neste mundo” aparecendo em seu site oficial.
E o Museu do Palácio Nacional foi obrigado a emitir um comunicado negando rumores online de que o governo estava se preparando para enviar dezenas de milhares de artefatos raros para o exterior por segurança, relatou a RFA.