Londres – No Dia Mundial da Fotografia, comemorado em 19 de agosto, os fotógrafos brasileiros tem muito a festejar. Diversos profissionais e amadores ganharam ou foram finalistas em importantes concursos internacionais nos últimos meses.
A mais recente premiada foi Verônica Alkmim França, que ficou entre as 20 vencedoras do prêmio Female In Focus.
A maior parte das fotografias reconhecidas em concursos retrata questões ambientais e natureza, mas temas como esportes, relações humanas e até literatura também estão entre as imagens selecionadas por jurados em todo o mundo.
A criação do Dia Mundial da Fotografia
O Dia Mundial da Fotografia é celebrado na data em que o daguerreótipo inventado por Louis Daguerre, adquirido pelo governo francês, foi oficialmente apresentado na Academia de Ciências da França, em 1839.
O mecanismo capaz de fixar uma imagem em uma placa de cobre revestida de prata deu origem a câmeras mais modernas, depois substituídas pelas digitais.
Não importa o meio em que as cenas são registradas, a fotografia faz parte da vida de todos, imortalizando de momentos íntimos em família a grandes fatos históricos.
A Amazônia pelas lentes de brasileiros
Entre os grandes fotógrafos da atualidade está um brasileiro, Sebastião Salgado, reconhecido em todo o mundo por retratar questões sociais e ambientais do Brasil.
Mas o mundo da fotografia está atento também a outros brasileiros, que se destacam em importantes concursos internacionais.
Um deles é Lalo de Almeida de Almeida, da Folha de S.Paulo, veterano em prêmios.
Este ano, Almeida foi o vencedor do mesmo concurso, o principal em fotojornalismo, na categoria Projetos de Longo Prazo, em reconhecimento a um trabalho de 12 anos retratando o impacto social da devastação da Amazônia, que tem na questão indígena um dos seus pontos mais dramáticos.
A imagem mostra membros da comunidade Munduruku na fila para embarcar no Aeroporto de Altamira.
Após protestarem no local da construção da barragem de Belo Monte, no rio Xingu, eles viajaram para Brasília a fim de apresentar suas demandas ao governo.
A série em preto e branco ganhou o nome de ‘Distopia Amazônica’, e começou em 2009, quando Almeida viajou para documentar as audiências públicas sobre a hidrelétrica de Belo Monte.
Uma outra visão da Amazônia, colorida e quase abstrata, também valeu um prêmio a um brasileiro, só que amador e não profissional.
Raul Costa-Pereira é biólogo e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Ele venceu em 2021 o concurso ‘Capturing Ecology’ da British Ecological Society, de Londres, com a imagem Mosaico Amazônico, que lembra um quadro.
O registro da palmeira amazônica foi feito em uma reserva ambiental ao norte de Manaus e mostra como as plantas das florestas tropicais são colonizadas por uma diversidade surpreendente de organismos que crescem na superfície de suas folhas, como musgos epífitos, liquens e fungos.
Já a brasileira Letícia Valverdes foi finalista em 2021 do concurso Global Peace Photo Awards, promovido pelo Unicef, com o ensaio “E agora meus filhos sabem”, no qual mostra os problemas e as belezas da Amazônia em um conjunto de imagens manipuladas.
As fotografias foram feitas ao longo de 20 anos e depois transformadas por ela junto com os filhos utilizando fogo, ouro, sangue, terra e folhas.
Índios do Xingu são retratados em dois prêmios de fotografia
Enquanto Lalo e Letícia documentaram problemas da Amazônia, o fotógrafo gaúcho Ricardo Teles teve seu trabalho reconhecido duas vezes este ano retratando as cores e tradições dos habitantes do Parque Nacional do Xingu, um modelo de preservação.
O primeiro prêmio foi o Sony Photo Awards na categoria Esportes, em abril, com cenas pouco comuns em fotografia esportiva: uma competição tradicional dos índios do Xingu que faz parte do ritual de homenagem aos mortos, o Quarup.
Em julho, ele foi anunciado como finalista do Global Peace Photo Awards, com a série Águas do Xingu, desta vez retratando a relação dos povos indígenas da região com a água.
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A representação do colorido dos povos indígenas também valeu um prêmio internacional ao fotógrafo André Porto.
Ele foi vencedor na categoria Cultura do Chromatic Award com o registro de Sabrina Hunikuin, da etnia Hunikuin.
A imagem é parte de uma série documentando mulheres indígenas durante uma marcha em Brasília, feita para o UOL.
Outra brasileira também teve destaque no mesmo concurso, conquistando o segundo lugar na categoria Cultura.
Mayssa Cavalcanti Carneiro Leão é fotógrafa amadora e fez um registro multicolorido do Maracatu, com o céu que vai de laranja a azul e o reflexo da vegetação na água.
Na terra e no mar, a fotografia retrata a fauna brasileira
O biólogo Rafael Menegucci tem sete anos de experiência em registro de animais e flora silvestre em ambientes naturais, e se especializou na macrofotografia de répteis e anfíbios.
E tem bons motivos para comemorar o Dia Mundial da Fotografia em 2022. Em janeiro, ele teve três fotos selecionadas na etapa nacional do concurso Wiki Loves Earth.
A imagem vencedora foi o olhar penetrante e desafiador de uma serpente Papa Lesmas (Dipsas Algifrons) em close, capturada no Parque Estadual Serra do Mar, em São Paulo.
Além da fotografia da cobra, escolhida como uma das três melhores do ano no mundo pelo júri do concurso, Menegucci teve mais duas imagens destacadas na etapa brasileira da competição, ambas capturadas no Parque Estadual Serra do Mar.
Uma delas mostra um sapo de chifres (Proceratophrys belzsebul), que assim como a cobra, resolveu encarar a lente do fotógrafo.
O mesmo fez a perereca marsupial (Fritiziana_mitus), com olhos brilhantes e meio disfarçada na paisagem verde.
Assim como Menegucci, o fotógrafo Rodrigo Thomé passou a fotografar a partir de uma outra experiência profissional, a de instrutor de mergulho.
Na edição de 2021 do Ocean Photography Awards, Rodrigo Thomé foi um dos finalistas na categoria Conservação do Mar.
A foto escolhida pelo concurso retrata um peixe morto em uma rede abandonada na Ilha Redonda, área de preservação ambiental no Rio de Janeiro.
Esportes com imagens radicais e efeitos de luz
Outro que pode comemorar o Dia Mundial da Fotografia em 2022 em dose dupla é André Magarao. Ele recebeu dois prêmios este ano com fotos de esportes radicais utilizando efeitos de luz artificial.
Magarao ganhou o título de Fotógrafo de Esportes do Ano no prêmio internacional de fotografia ‘International Photography Awards (IPA) e a segunda colocação no Chromatic Awards com a série ‘Ação e Luz’ de fotos de esportes radicais.
Ele explica o uso da técnica:
“É complicado fotografar esportes com luzes artificiais porque o equipamento não é realmente projetado para estar em uma encosta lamacenta de mountain bike ou na praia com ventos de 20 milhas por hora para praticar kitesurf”.
Variedade de temas nos concursos de fotografia
Da apresentação do daguerreótipo que inspirou o Dia Mundial da Fotografia até os dias de hoje, a tecnologia evoluiu a ponto de permitir a captura de imagens nítidas do céu jamais vistas a olho nu, usando telescópios e câmeras poderosas.
Este é o talento do brasileiro Flávio Fortunato, que está disputando a final do concurso do Observatório de Greenwich, em Londres, com uma imagem incrível do planeta Saturno com os anéis e as luas, destacadas no céu escuro de João Pessoa, em Alagoas.
Ele se dedica à fotografia astronômica há vários anos, dando dicas para quem quer seguir o mesmo caminho e publicando imagens do céu em suas redes sociais.
Fotografia e literatura
Fotografias inspiradas na literatura fizeram com um brasileiro e um lituano residente no Brasil conquistassem reconhecimento em 2022.
Na competição Wiki Loves Monuments, da enciclopédia online Wikipédia, o Brasil ficou com o primeiro lugar com uma foto de uma joia quase oculta que não faz parte do roteiro de muitos visitantes do Rio de Janeiro: o Real Gabinete Português de Leitura.
O autor do clique é o fotógrafo lituano Donatas Dabravolskas, que vive na cidade desde 2013 e tem um grande acervo de cenas espetaculares de paisagens cariocas em bancos de imagem.
Ele concorreu com mais de 172 mil imagens de 25 países e venceu também a etapa brasileira da competição com uma foto do monumento em homenagem a Carlos Drummond de Andrade, na praia de Copacabana.
Outro escritor foi homenageado por meio da fotografia foi João Guimarães Rosa.
O fotógrafo brasileiro Wagner Pena foi finalista no Sony Photography Awards 2002 com uma foi selecionado entre os finalistas de com um retrato em homenagem à obra “Grande Sertão: Veredas”.
“Essa é uma das obras mais importantes da literatura brasileira”, afirmou Pena. “Em uma expedição, Rosa explorou o Sertão e levou para sua obra as riquezas da fauna e da flora, destacando a geografia ao citar lugares reais.”
Concurso da Wikipédia premia fotos de monumentos e natureza
Mostrando que o talento para a fotografia pode ser hereditário, a brasileira Verônica Alkmim França, mineira de Diamantina que reside na Suécia, foi uma das premiadas no concurso Female in Focus deste ano.
Ela é formada em Artes Plásticas, Fotografia, Cenografia e Comunicação e nunca tinha participado de um concurso fotográfico.
Mas tem história: é neta do fotógrafo Chichico Alkmin (1886-1978), cujo acervo ela resgatou e foi curadora durante muitos anos. Hoje o material está sob custódia do Instituto Moreira Salles.
O Female In Focus deste ano teve como tema o Lar. A mulher retratada é inspirada na Penélope da mitologia grega, que esperava o marido voltar da guerra tecendo durante o dia e desfazendo o trabalho à noite.
As fotos selecionadas em homenagem ao Dia Mundial da Fotografia foram publicadas com a autorização das organizações dos concursos e não podem ser reproduzidas.
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