Londres – A jornalista e ativista russa de direitos humanos Elena Shukayeva, presa no dia 17 de agosto, entrou em greve de fome em protesto contra “a arbitrariedade policial, distorção de significados e o apego judicial a quaisquer fantasias da polícia”. 

Ex-colaboradora do jornal Novaya Gazeta, fundado e dirigido pelo detentor do prêmio Nobel da Paz Dmitry Muratov, Shukayeva é acusada de “exibir símbolos de uma organização extremista”.

A prisão e a greve foram confirmadas pela organização de direitos humanos OVD-Info, que esta semana teve seu site bloqueado em território russo.  

Vídeo que levou jornalista russa a ser presa é de 2017

O motivo da prisão, decretada por um tribunal da cidade de Yekaterinburg, foi a publicação na plataforma de mídia social VK de um link para o vídeo Don’t Call Him Dimon, um documentário produzido em 2017 com detalhes de suposta corrupção praticada por Dmitry Medvedev, ex-primeiro-ministro do país.

O vídeo, produzido pelo blogueiro e ativista de oposição a Putin Alexei Navalny, atualmente preso na Sibéria, continua no YouTube e já teve mais de 45 milhões de visualizações na versão em russo, e tem também traduções para outros idiomas. 

Medvedev é acusado de criar  um “esquema criminoso” baseado em fundações sem fins lucrativos, mantendo um patrimônio formado por terrenos, iates, apartamentos, complexos agrícolas e vinícolas na Rússia e no exterior. 

Segundo Roman Kachanov, advogado da OVD-Info, a promotoria entendeu que a jornalista publicou o vídeo integral, e não um link para ele, o que tornou o suposto crime mais grave. 

A prisão de Shukayeva aconteceu no prédio do tribunal onde dois recursos apresentados pela defesa da jornalista relativos a multas estavam sendo analisados.

Em 24 de maio, um tribunal de Yekaterinburg aplicou uma multa de 200 mil rublos (R$ 17,5 mil) a Elena Shukayeva por “desacreditar o uso das forças armadas russas no exterior” no Facebook. 

As postagens eram sobre a morte de civis em Mariupol e Bucha e também relatos de prisioneiros de guerra russos dizendo que não sabiam que estavam sendo enviados para a guerra. 

Algumas foram publicadas antes da aprovação da lei prevendo punição para quem “desacreditar as Forças Armadas da Federação Russa”.

Mesmo assim, os recursos foram rejeitados, e a jornalista ficou presa pela outra acusação, devendo cumprir 14 dias de detenção. 

O OVD-Info relatou que no mesmo dia da prisão foram realizadas buscas na residência de Iskander Yasaveyev, também colaborador do jornal Novaya Gazeta e colunista do site Idel.Realii. 

Além de jornalista, Elena Shukayeva é uma das coordenadoras do projeto Last Address (Último Endereço), que homenageia as vítimas da repressão soviética com placas especiais afixadas do lado de fora do que já foi suas casas.

O período stalinista é chamado pelo projeto de “O Grande Terror”. 

O Last Address foi criado em 2014, inspirado em um projeto semelhante que relembra vítimas do nazismo na Alemanha.

A rejeição ao período soviético é incômoda para o governo de Vladimir Putin, cuja narrativa para defender a guerra com a Ucrânia tem como um dos elementos glorificar períodos históricos com a Segunda Guerra e a a União Soviética.

Jornalista que protestou na TV também foi condenada

O governo da Rússia está intensificando a repressão sobre os jornalistas que continuam no país. 

No dia 10 de agosto, a russa Marina Ovsyannikova, que ficou conhecida em todo o mundo por invadir o estúdio da TV estatal da qual era editora portando um cartaz de protesto contra a guerra, foi presa por dois meses, mas cumprirá a sentença em casa.

A jornalista foi considerada culpada por “divulgar informações falsas” sobre o exército da Rússia, segundo a agência de notícias Interfax.

O motivo foi um ato contra Vladimir Putin realizado em frente ao Kremlin e divulgado em suas redes sociais.