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A trajetória de Julian Assange – de hacker na Austrália a símbolo de liberdade de imprensa

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Julian Assange, em entrevista à Al Jazeera em 2009 (reprodução)

Londres – Preso em Londres enquanto sua defesa usa todos os instrumentos para evitar sua extradição para os EUA em uma história que mobiliza o mundo, Julian Assange é um programador de computador nascido na Austrália em 3 de julho de 1971.

Em 1991, foi condenado em seu país a pagar uma multa por ter hackeado sistemas, entre eles os da NASA e do Pentágono dos EUA. Em 2006, fundou o site WikiLeaks e lá começou a publicar informações confidenciais que ganhariam atenção da imprensa internacional. 

Em 20o9 e 2010, Assange postou quase 500 mil documentos fornecidos pelo ex-agente da inteligência dos EUA Chelsea Manning (então Bradley Manning), sobre a atuação de forças militares americanas nas guerras do Afeganistão e do Iraque. 

A história de Assange 

Julian Assange foi preso em Londres, em 2019 depois de passar mais de seis anos na embaixada equatoriana.

Ele se refugiou na representação diplomática do país então governado por Rafael Correa como forma de evitar a extradição para a Suécia, onde respondia a um processo por agressão sexual, e depois para os EUA, por crimes contra a segurança nacional.

Veja aqui a linha do tempo de uma história que é considerada um marco para a liberdade de imprensa, com uma possível condenação abrindo caminho para processos semelhantes contra jornalistas e informantes que revelem segredos de interesse da sociedade. 

5 de abril de 2010 – O WikiLeaks divulga vídeo vazado de um helicóptero dos EUA mostrando um ataque aéreo que matou civis em Bagdá, incluindo dois profissionais da agência de notícias Reuters.

Os vídeos foram reproduzidos pela imprensa em todo o mundo. Nesta entrevista à rede Al Jazeera, Assange comenta sobre a atitude dos soltados, “que pareciam estar jogando um videogame”.

WikiLeaks video 'shows US attack'

 

O Wikileaks afirma que a Reuters havia tentado obter o vídeo, sem sucesso. E que os militares dos EUA concluíram que as ações dos soldados estavam de acordo com a lei de conflito armado e suas próprias “Regras de Engajamento”.

25 de julho de 2010 – O WikiLeaks divulga mais de 91 mil documentos, principalmente relatórios militares secretos dos EUA sobre a guerra no Afeganistão. 

Outubro de 2010 – O WikiLeaks divulga 400 mil arquivos militares classificados relatando a guerra do Iraque. No mês seguinte, divulga milhares de telegramas diplomáticos dos EUA, incluindo opiniões de líderes estrangeiros e avaliações contundentes de ameaças à segurança.

18 de novembro de 2010 – Um tribunal sueco ordena a prisão de Assange por acusações de estupro, que ele nega. Ele é preso na Grã-Bretanha no mês seguinte com um mandado de prisão europeu, mas é libertado sob fiança.

Fevereiro de 2011 – A Westminster Magistrates Court de Londres ordena a extradição de Assange para a Suécia. Ele apela.

14 de junho de 2012 – A Suprema Corte britânica rejeita o recurso final de Assange. Cinco dias depois ele se refugia na embaixada do Equador em Londres e busca asilo político, que o Equador concedeu em agosto de 2012.

13 de abril de 2017 – O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, então chefe da CIA, descreve o WikiLeaks como “um serviço de inteligência não estatal hostil, muitas vezes auxiliado por atores estatais como a Rússia”.

19 de maio de 2017 – Promotores suecos interrompem a investigação, dizendo que é impossível prosseguir enquanto Assange estiver na embaixada equatoriana.

11 de abril de 2019 – Assange é retirado da embaixada e preso depois que o Equador revoga seu asilo político. Ele é sentenciado em 1º de maio a 50 semanas de prisão por um tribunal britânico por não pagar fiança. Ele cumpre a sentença, mas permanece preso até as audiências de extradição.

13 de maio de 2019 – Promotores suecos reabrem sua investigação e dizem que buscarão a extradição de Assange para a Suécia.

11 de junho de 2019 – O Departamento de Justiça dos EUA pede formalmente à Grã-Bretanha que extradite Assange para os Estados Unidos para enfrentar acusações de que ele conspirou para invadir computadores do governo dos EUA e violou uma lei de espionagem.

19 de novembro de 2019 – A história do suposto estupro praticado por Julian Assange na Suécia chega ao fim. Os promotores suecos encerram a investigação dizendo que as evidências não são fortes o suficiente para apresentar acusações, em parte por causa da passagem do tempo.

21 de fevereiro de 2020 – Um tribunal de Londres inicia a primeira parte das audiências de extradição solicitada pelos EUA, que são adiadas após uma semana. As audiências deveriam ser retomadas em maio, mas foram adiadas para setembro por causa da pandemia do coronavírus.

4 de janeiro de 2021 – A juíza Vanessa Baraitser conclui que seria “opressivo” extraditá-lo para os Estados Unidos por causa de sua saúde mental frágil, dizendo que havia um risco real de que ele tirasse a própria vida.

Fevereiro de 2021 – A justiça britânica concedeu ao país o direito de recorrer apenas em três aspectos processuais que não envolviam o laudo médico apontando risco de suicídio, e segundo analistas tinham pouca chance de mudar o veredito. 

27 de julho de 2021: O Equador revoga a cidadania que havia sido concedida a Julian Assange como parte dos esforços do governo Rafael Correa de tirá-lo do Reino Unido. 

10 de agosto de 2021 – Em uma reviravolta na história, os Estados Unidos conseguiram uma decisão favorável em sua batalha judicial para extraditar Julian Assange. Uma audiência ampliou o direito de apelação do país.

28 de outubro de 2021 – Em dois dias de audiência, os EUA apresentam garantias e a defesa de Assange tenta convencer a Suprema Corte de que ele não poderia ser extraditado para um país que tentou matá-lo, conforme revelado por uma reportagem no Yahoo.

Dezembro de 2021: Anulando a decisão anterior, o Supremo Tribunal de Londres decidiu a favor do recurso dos EUA para extraditar Assange.

14 de março de 2022 – A Suprema Corte britânica negou  à defesa permissão para apelar da sentença de dezembro que autorizou a transferência para os EUA. 

23 de março de 2022- Depois de um processo judicial movido contra o governo britânico, Julian Assange se cada dentro da prisão de Belmarsh com sua companheira, Stella, com quem tem dois filhos. O casal se conheceu na embaixada do Equador, quando ela integrava sua equipe de defesa. 

Abril de 2022: Um tribunal de Londres em uma audiência emitiu a ordem de extradição do fundador do WikiLeaks Julian Assange para os EUA.

17 de junho de 2022 – O governo britânico assinou a ordem para extraditar Julian Assange para os EUA, sob a justificativa de que os tribunais do Reino Unido não entenderam que a extradição seria injusta ou incompatível com os direitos humanos. 

1º de julho de 2022 – A equipe jurídica entrou com recurso contestando a decisão da Secretaria Nacional do Interior do Reino Unido, chefiada por Priti Patel, de enviá-lo para julgamento nos EUA.

3 de julho de 2022 – Mais protestos acontecem no dia do aniversário de Julian Assange, o quarto comemorado na prisão. 

15 de agosto de 2022 – No mais novo capítulo da história de Julian Assange, dois jornalistas e dois advogados entram com uma ação judicial contra a CIA e seu então diretor, Mike Pompeo, alegando que o órgão dos EUA violou o direito constitucional à proteção de conversas confidenciais entre cliente e advogados, além de gravar os encontros do fundador do Wikileaks com visitantes durante o asilo na embaixada do Equador em Londres. 


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