Londres – Vinte e cinco anos depois da morte da princesa Diana, muitos ainda acreditam na teoria da conspiração de que ela teria sido assassinada.
O acidente de carro que a matou em 1997 aos 36 anos de idade dentro do túnel da Pont de l’Alma, em Paris, em 31 de agosto de 1997, não teria sido um mero acidente, mas o resultado de um complô.
Entre os principais suspeitos apontados pela teoria estariam os membros da família real britânica, incomodados pelo brilho cada vez maior da “princesa do povo”, mesmo depois de sua separação cinco anos antes do Príncipe Charles e da oficialização do divórcio em 1996.
Teorias da conspiração em torno de Diana seguem vivas
Mas por que a teoria persiste, mesmo depois de um inquérito que investigou todas as evidências confirmar que tudo não passou de um acidente?
Em um artigo no portal acadêmico The Conversation, Sarah Bennett, doutoranda da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, tenta explicar o fenômeno.
“Eu estudo teorias da conspiração para descobrir por que as pessoas acreditam nelas.
Uma das perguntas que faço é sobre a linguagem das teorias da conspiração da morte de celebridades e por que ela é tão persuasiva.”
Ela observa que eventos confusos e inesperados como o acidente que matou Diana são terreno fértil para essas teorias, que permitem que as pessoas encontrem um sentido no acaso, expliquem coincidências e escolhas erradas e, principalmente, identifiquem um culpado que tenha se beneficiado com o ocorrido.
“Conspiradores buscam intervenções indevidas para explicar tragédias.”
A especialista explica que a base de muitas teorias da conspiração é o que é conhecido como “pensar teleológico”, que atribui determinados significados a ocorrências ou inconsistências geradas pelo acaso.
Para os teóricos da conspiração, não há espaço para sistemas imperfeitos, erros humanos ou meras coincidências.
“As teorias da conspiração se proliferam e perduram por tanto tempo por causa de pessoas que preferem crer numa suposta conspiração para explicar o que aconteceu em comparação com um cenário ideal que deveria ter acontecido sem uma intervenção indevida”, diz Bennet.
Por não acreditar que o acaso possa interferir no cenário ideal, o “detetive da conspiração” assume que nada dá errado sem uma intenção maliciosa.
Assim, buscar significados ocultos nos eventos aleatórios empodera os seguidores das teorias da conspiração, permitindo que se tornem detetives por conta própria, aponta a especialista.
Mas Bennet esclarece que, ao contrário dos detetives reais, que se concentram no que aconteceu, os conspiradores buscam quem causou.
“E no caso de mortes de celebridades, isso geralmente significa a busca por um assassino.”
Gravidez seria motivo para que Diana fosse assassinada
Sarah Bennet ressalta que as circunstâncias da morte da princesa Diana, confusas e caóticas precisamente por causa de prováveis erros humanos, eram o terreno ideal para o florescimento de teorias de conspiração.
Não à toa, diz ela, os teóricos da conspiração durante anos levantaram questões a respeito, perguntando:
Por que a ambulância demorou tanto para chegar ao hospital? Por que os socorristas limparam o túnel tão rapidamente? E por que as câmeras de vigilância não estavam funcionando?
Não se conformando com a ação do acaso, a especialista explica que uma mente acostumada a procurar conspiração dirá que essas foram ações deliberadas para esconder as evidências de que a princesa Diana teria sido assassinada.
Quando há falta de uma explicação com evidências irrefutáveis, segundo Bennet, a especulação conspiratória pode atuar como um substituto.
Ela lembra que o próprio Mohammed Al-Fayed, pai de Dodi (namorado da princesa Diana, que também morreu no acidente) embarcou nessa.
Hoje com 93 anos e morando em Mônaco, o milionário Al-Fayed fazia na época grande sucesso no campo empresarial do Reino Unido.
Foi dono da famosa loja de departamentos Harrods, da rede House of Frasier e até de um time de futebol.
Logo depois do acidente, ele acusou publicamente a família real de assassinato e deu força à teoria, atribuindo o crime ao ex-sogro de Diana, o príncipe Philip (falecido em 2021), e a agentes secretos do MI5 e do MI6.
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Egípcio e muçulmano, ele acrescentou ingredientes discriminatórios à teoria: acusava os grupos de conspiradores da realeza britânica e dos serviços secretos de não suportarem a ideia de que Diana estaria grávida de Dodi.
As acusações levaram à instauração da Operação Paget pela polícia britânica. O inquérito concluiu que a batida de carro foi um acidente e que Diana não estava grávida no momento de sua morte.
A conclusão, porém, não eliminou a teoria da conspiração. Sarah Bennet explica que isso acontece porque outra das características dos seguidores dessas teorias é desconfiar de qualquer forma de evidência oficial.
Premonições teriam antecipado que Diana seria assassinada
Em seus estudos sobre as teorias de conspiração, a doutoranda da Universidade de Nottingham descobriu que outra estratégia muito usada pelos conspiradores é o uso de “premonições” pinçadas depois que os fatos ocorrem e que são apresentadas como evidências.
No caso da morte da Princesa Diana, não foi diferente.
A especialista ressalta que alguns conspiradores alegam que Diana teria previsto sua morte em uma carta que supostamente teria escrito para seu conselheiro Paul Burrell, que dizia: “meu marido está planejando ‘um acidente’ no meu carro”.
Burrell alega que teria alertado Diana que os freios seriam adulterados.
A investigação da Operação Paget conduzida pela polícia britânica não encontrou evidências para essas alegações.
Outra “premonição” destacada pela acadêmica é um trecho pinçado pelos conspiradores da famosa entrevista dada por Diana à BBC em 1995.
Em determinado momento, a princesa afirma que os membros da família real a viam como uma ameaça.
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Sarah Bennet diz que por mais estranhas que as “premonições” pareçam, elas não servem como provas objetivas das teorias de conspiração, ainda mais para tentar comprovar de que a Princesa Diana teria sido assassinada.
Grupo dos conspiradores buscam culpados nos grupos externos
Uma das marcas-chave das teorias de conspiração, explica a especialista, é a divisão dos envolvidos em dois grupos: o interno, onde se incluem os conspiradores que investigam, e os externos, onde o teórico da conspiração pode identificar os culpados.
A teoria conspiratória de que a princesa Diana teria sido assassinada não foge à regra.
Embora normalmente celebridades sejam vistas como de fora do público em geral, na opinião de Bennet sso funciona de maneira diferente no caso das teorias de conspiração, que buscam justamente uma explicação para as suas mortes.
“No caso da morte de Diana são o público em geral e a princesa. Eles representam o bem, com Diana caracterizada como vítima.”
Por outro lado, os grupos externos – os membros da família real e as autoridades – são os vilões: uma ameaça poderosa e maligna para o grupo interno.
Descobrir a suposta mentira, encobrimento ou complô é, portanto, uma maneira de as vítimas e seus aliados (do grupo interno) recuperarem o poder sobre o grupo externo, expondo sua culpa pelo que aconteceu.
Para conspiradores, se malvados não tivessem agido, Diana não teria sido assassinada.
Sarah Bennet defende que as teorias de conspiração sobre mortes de celebridades fazem tanto sucesso porque permitem que um evento traumático ou confuso se torne “claro”.
“Elas oferecem um vislumbre de um mundo perfeito, onde nada dá errado e os humanos fazem as melhores escolhas em todos os momentos”.
Pra ela, se os adeptos da teoria, se o “grupo malvado” não tivesse conspirado para matá-la, Diana poderia estar viva até hoje”.
A princesa estaria hoje com 62 anos, completados em 1º de julho.
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