Londres – Com Narendra Modi entronizado como o mais popular do mundo entre 22 líderes de governo pesquisados pela consultoria americana Morning Consultant, registrando 75% de aprovação, o governo indiano mostra disposição de evitar ameaças à admiração do povo pelo seu primeiro-ministro censurando críticos e até deportando jornalistas.
O episódio mais recente envolveu Angad Singh, jornalista do site de notícias americano Vice News. Portador de dupla nacionalidade, ele viajou à Índia para visitar a mãe na última semana de agosto, mas foi deportado de volta aos EUA três horas após o desembarque em Nova Délhi.
Em um comunicado distribuído nesta segunda-feira (5), a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ, na sigla em inglês), afirmou que “a deportação de um jornalista é inaceitável em qualquer sociedade livre e democrática”.
Jornalista deportado no país listado em 150º em liberdade de imprensa
A Índia ocupa o 150º no ranking de liberdade de imprensa da organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que lista 180 países.
“A violência contra os jornalistas, a mídia politicamente partidária e a concentração da propriedade da mídia demonstram que a liberdade de imprensa está em crise na “maior democracia do mundo”, governada desde 2014 pelo primeiro-ministro Narendra Modi , líder do Partido Bharatiya Janata (BJP) e a personificação da direita nacionalista”, diz a RSF.
A análise do país no relatório aponta que sob o pretexto de combater a covid-19 , “o governo e seus apoiadores travaram uma guerra de ações judiciais contra meios de comunicação cuja cobertura da pandemia contradiz as declarações oficiais.
Jornalistas que tentam cobrir greves e protestos contra o governo são frequentemente presos e, às vezes, detidos arbitrariamente .
Ou impedidos de viajar para fora ou para dentro do país. Em julho, a fotojornalista da agência internacional de notícias Reuters Sana Irshad Mattoo, reconhecida com o prêmio Pulitzer pela cobertura da covid-19 na Índia, foi proibida de embarcar para a Europa para participar de ventos sobre o prêmio.
Antes dela, em março, Rana Ayyub, crítica de Modi que lida frequentemente com assédio judicial, também foi impedida no aeroporto de Mumbai de viajar para Londres.
A situação agora é a inversa: um jornalista crítico ao governo proibido de entrar para ver a família. Angad Singh é um produtor de documentários em vídeo da Vice News, um dos mais importantes veículos de mídia digital do mundo.
Em maio de 2021, Singh produziu um documentário para o Vice sobre a gestão ineficiente do governo indiano da segunda onda da pandemia de covid-19, intitulado ‘India’s Covid Hell’ (Inferno da covid na Índia), indicado ao prêmio Emmy.
Ele também documentou a pandemia em outros países asiáticos, como Sri Lanka, Hong Kong, Mianmar e Paquistão. Na Índia, o documentário registrou manifestações contra a Lei de Emenda à Cidadania e protestos de agricultores.
Segundo a família do jornalista, o passaporte de Singh foi confiscado 15 minutos após a chegada, no dia 24 de agosto, e ele foi imediatamente mandado de volta para os EUA.
Em um comunicado nas redes sociais, a mãe de Singh, a escritora Gurmeet Kaur, confirmou que seu filho foi deportado da Índia depois de viajar 18 horas para visitá-la em Punjab.
Mãe do jornalista deportado atribuiu ato a ‘jornalismo premiado’
Segundo a Federação Internacional de Jornalistas, Kaur relatou a jornais indianos a suspeita de que o trabalho de Singh seja a causa de sua deportação.
“Sabemos que é seu jornalismo premiado que os assusta. São as histórias que ele fez e as histórias das quais ele é capaz”, disse ela ao jornal Hindustan Times.
A FIJ afirma que o caso não é isolado, lembrando os casos de outros jornalistas cuja saída do país foi dificultada pelas autoridades.
“A proibição de jornalistas críticos e independentes de viajar sem motivo indica o flagrante desrespeito do governo indiano pela liberdade de imprensa. A FIJ condena a deportação de Angad Singh e insta o governo a cessar seu contínuo assédio e intimidação de jornalistas e profissionais de mídia”, disse a organização.
Apesar dos altos índices de contaminação e mortes causadas pelo coronavírus na Índia, uma crise noticiada em todo o mundo, a população da Índia não desaprova a condução da pandemia por Narendra Modi.
De acordo com a pesquisa da Morning Consultant, que acompanha mensalmente a popularidade de líderes em 22 países, o primeiro-ministro indiano experimentou uma queda de 83% em abril de 2020 para 65%. No entanto, na segunda onda da pandemia conseguiu reverter a curva e sua aprovação aumentou desde então.
Depois dele aparecem Andrés Manuel Lopez Obrador, do México, com 70% de aprovação, e Anthony Albanese, da Austrália, com 58%.
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