Londres – Parece até combinado: pelo quarto dia consecutivo, os editores da mídia imprensa britânica deixaram a criatividade de lado e escolheram a mesma foto para suas primeiras páginas, desta vez a imagem do caixão da rainha Elizabeth sendo transportado para o interior do Palácio de Holyroodhose, na Escócia. 

Enquanto no domingo muitas manchetes e chamadas usavam a expressão “show de união” para destacar a visita conjunta dos príncipes William e Harry acompanhados de suas mulheres, Kate e Meghan ao portão do Palácio de Windsor onde súditos depositaram homenagens, hoje a expressão predominante é “a jornada” de Elizabeth II. 

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Desde as primeiras horas de domingo, o caixão com o corpo da rainha, que morreu no dia 8 de fevereiro aos 96 anos, não saiu da mídia britânica.

As principais redes transmitiram ao vivo durante todo o dia o percurso do cortejo fúnebre do Castelo de Balmoral até Edinburgo, passando por cidades escocesas, com um plateia de admiradores filmando e fotografando ao longo de ruas e estradas. 

Hoje é a primeira segunda-feira depois da morte da rainha que passou 70 anos no trono e ascensão de um novo rei, e a dúvida é se a mídia britânica vai retomar vida quase normal esta semana, dividindo atenções com outros assuntos, ou se continuará concentrada nos assuntos da monarquia. 

Dois jornais já deram sinais de que não pretendem ficar apenas na cobertura da morte de Elizabeth II. 

O The Guardian traz em sua primeira página a mesma imagem usada pelos outros, a do caixão envolto no estandarte real, e usou a frase padrão do dia:

 “A rainha começa sua jornada final”.

Mas o espaço foi dividido com a ofensiva russa na Ucrânia depois de aparentes ganhos do país invadido. 

The Guardian cobertura da mídia britânica sobre funerais da rainha Elizabeth monarquia

O mesmo fez o jornal  Financial Times, que destacou o aumento de ataques na Ucrânia e dedicou espaço para outros temas econômicos. 

Na manchete sobre a morte da rainha Elizabeth, o FT acrescentou um toque político, chamando a atenção para o tour que o rei Charles III fará esta semana pelos países que formam o Reino Unido, um movimento importante para conter iniciativas separatistas.

Financial Times cobertura mídia britânica funeral rainha Elizabeth monarquia

Mas os demais parecem dispostos a seguir com o mesmo tom emocional e o tema dominando as capas.

“A jornada final da rainha para casa começa” diz o i , outro veículo da mídia britânica que usou a frase da jornada para noticiar o início das cerimônias fúnebres da rainha. 

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O mesmo fizeram o Daily Telegraph, um grande apoiador da monarquia e da rainha Elizabeth na mídia britânica.

Todas as chamadas para colunas assinadas por articulistas são sobre temas relacionados à rainha ou ao rei Charles, favoráveis. 

Daily Telegraph cobertura mídia britânica funeral rainha Elizabeth monarquia

Ao noticiar a “jornada final” em sua primeira página, o The Times salientou também a multidão de 5 milhões de pessoas esperada em Londres para ver o caixão da rainha, a partir de quarta-feira.

The Times cobertura mídia britânica funeral rainha Elizabeth monarquia

O tabloide Daily Mail igualmente usou a metáfora da jornada, com o título  “A viagem mais triste … agora o longo adeus”.

Mas fiel à tradição dos famosos veículos sensacionalistas da imprensa britânica, destacou em sua capa uma “reportagem exclusiva” sobre como teria sido a aproximação dos irmãos William e Harry para visitar os tributos à rainha Elizabeth. 

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Embora a chamada sugira que a matéria contenha a mensagem de texto enviada por William a Harry com o convite, não é bem este o conteúdo.

O autor, Richard Kay, descreve o que outros veículos já tinham publicado, inclusive a informação de que o ato de aproximação teria sido iniciativa individual do irmão mais velho, sem ingerência do pai – algo difícil de acreditar. 

O jornal perdeu um processo milionário movido por Meghan Markle pela publicação de trechos de sua carta-bomba ao pai, enviada após o casamento real.

Na Escócia com tendências separatistas, o jornal Daily Record salientou a admiração popular pela rainha Elizabeth II, com a manchete  “Senhora do povo – mil ruas alinhadas para a jornada final do monarca”. 

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Com a morte da rainha, um dos temas espinhosos para o rei Charles e para a nova primeira-ministra britânica, Liz Truss, é a tentativa de um novo plebiscito na Escócia para decidir sobre a independência do Reino Unido, tema recorrente na mídia britânica e nos debates políticos. 

Durante a proclamação de Charles como rei em Edimburgo, que aconteceu na manhã de domingo, um grupo de republicanos vaiou, mas o protesto passou quase despercebido na mídia britânica que tem preferido o tom emocional e a narrativa de glorificação da figura da rainha Elizabeth II – e por consequência da instituição monarquia.