Londres – Quase uma semana depois da morte da rainha Elizabeth II, que aconteceu na Escócia, Londres viveu ontem seu primeiro dia de despedidas da monarca, com a longa fila que se formou para o velório aberto ao público virando um dos temas principais da cobertura da mídia.
O caixão com o corpo da rainha chegou à capital britânica na noite de terça-feira (14). Exatamente às 14h22 da quarta-feira um cortejo cruzou os portões do Palácio de Buckingham em direção à sede do Parlamento, acompanhado por milhares de pessoas que fizeram fila para chegar aos locais onde a passagem poderia ser vista.
A imprensa destacou a presença dos príncipes William e Harry lado a lado, comparando com o enterro da mãe, a princesa Diana, que morreu há 25 anos.
Apesar das discórdias dos últimos dois anos, desde que Harry e Meghan romperam laços com a família real e se mudaram para os EUA, era de se esperar união no velório da rainha, muito ligada aos netos.
Mas a atenção da mídia sobre os dois juntos alimenta especulações de um reatamento das relações esgarçadas. Uma reportagem do jornal The Times sugere que o aguardado livro de Harry pode ter o lançamento adiado para revisões do conteúdo – e talvez para não trazer a público neste momento opiniões desfavoráveis sobre a vida em família.
No entanto, nem os irmãos nem o rei Charles conseguiram ocupar o lugar da protagonista do dia: a fila. Diz a lenda que os ingleses amam uma fila, e o velório da rainha está provando isso.
Desde que os portões foram abertos para o público, as emissoras de TV designaram equipes para documentar a fila e entrevistar os que se dispuseram a caminhar por longas horas para o velório da rainha.
E assim continua na manhã de hoje, com as transmissões ao vivo mostrando a fila ao fundo, e desafiando repórteres que precisam conversar com entrevistados em movimento.
#BBCBreakfast #BehindTheScenes Charlie Stayt in Victoria Tower Gardens pic.twitter.com/sSnY586lPB
— BBC Breakfast (@BBCBreakfast) September 15, 2022
A expectativa é de que 350 mil pessoas façam sua última homenagem pessoal, e um grande esquema foi montado na cidade.
Há cerca de 1 mil pessoas de apoio por turno (entre agentes de segurança pública e voluntários). Os chegam na fila recebem uma pulseirinha para poder sair da fila e voltar no mesmo lugar, pois a espera pode levar quase um dia.
Na manhã desta terça-feira, uma repórter da Sky News informou que o tempo para chegar ao velório não estava tão longo: “apenas oito horas”.
A emissora ITV postou no YouTube um vídeo que acompanha em tempo real o tamanho da fila e o ponto final, para os que querem encarar o desafio.
Como os jornais documentaram o primeiro dia do velório da rainha em Londres
O Daily Telegraph diz que a nação aparece para se despedir, “depois que a família real entregou o caixão ao público”,
No i o título foi “O longo adeus” , referindo-se em um dos subtítulos a previsão de que a fila para o velório da rainha alcance 10 milhas. Na manhã desta terça-feira isso ainda não tinha acontecido. A estimativa das TVs é de 2,5 milhas.
Mas é um dia útil, e no fim de semana é provável que a quantidade de pessoas aumente porque muitos que moram fora da capital devem se deslocar para Londres.
“Grã-Bretanha faz fila para se despedir da rainha”, diz o The Independent, mais um a destacar a “estrela do dia”.
Três jornais destacaram em suas primeiras páginas a imagem dos príncipes Harry e William e de suas mulheres. O título é “Ombro a Ombro (por um dia pelo menos)”. No texto, a indagação sobre o futuro: “paz duradoura, ou apenas uma trégua temporária”?
“Partilhamos a sua dor”, é a manchete da primeira página do The Sun, que não fez qualquer especulação em sua capa e apenas registrou as expressões de tristeza.
O mesmo enfoque foi usado pelo Daily Mirror, com uma capa quase igual à de seu concorrente – a mesma foto e a imagem do rei Charles em um destaque. A manchete é “Orgulho e dor”.
O jornal Metro escolheu uma imagem do cortejo fúnebre em que aparecem o rei e o príncipe Harry ao fundo. O título é “Nossa joia, sua coroa”.
A chamada da primeira página do Daily Mail é “Ela está em paz enquanto as pessoas se despedem solenes”.
O The Times usou o título “A nação prestando seu tributo”, abrindo o texto sobre a fila para o velório com “A espera acabou”.
Um artigo do veterano colunista política Quentin Letts sobre as pessoas visitando o caixão está em destaque. Ele acompanhou o início da visitação, e afirmou que “multidões não precisam de protocolo para se comover com a majestade da morte”, título do artigo.
Em um dos trechos, descreve o que viu:
“Alguns se curvaram, alguns se ajoelharam, algumas mulheres fizeram uma reverência. Não havia certo ou errado, não havia protocolo. Muitos simplesmente passaram pelo caixão, absortos em pensamentos. Muitas lágrimas.
Alguns precisavam de apoio de amigos. Um sujeito […] estava desolado, tristeza derramando de seus olhos amassados. Muitos se viraram quando se aproximaram da saída, relutantes em deixar para trás a mulher a quem tinham vindo honrar. “
O Daily Express mostra uma imagem do caixão da rainha com os súditos passando e a manchete “Sua nação está com você, senhora”
O The Guardian destacou o rei Charles em sua imagem de capa, sem o enfoque emocional da maioria dos demais jornais. O título é: “Em meio a pompa, a rainha tem lugar na história”
O Financial Times volta a dedicar um grande espaço aos funerais, registrando que “milhares de pessoas se reuniram nas ruas do centro de Londres para assistir à procissão do caixão da Rainha Elizabeth até o Palácio de Westminster”.
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