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Pesar ou marketing? 3 em cada 5 britânicos acham que tributos de marcas à rainha ‘não vêm do coração’

Rainha Elizabeth homenagens pesquisa YouGov Londres Reino Unido ponto de ônibus

Homenagem à rainha em ponto de ônibus da Oxford Street, em Londres (Foto: Lorena Nogaroli)

Londres – As homenagens de empresas e marcas comerciais à rainha Elizabeth depois de sua morte são sinceras ou motivadas pela intenção de associar sua imagem à comoção que tomou conta do país?  

Para três em cada cinco britânicos, certas campanhas e ações como suspensão de atividades no dia do funeral da rainha “não vêm do coração”, segundo uma pesquisa do instituto YouGov feita nos dias 13 e 14 de setembro. 

Algumas viraram constrangimentos, como a da marca de roupa íntima Anne Summers, que publicou um tributo à monarca em sua página na internet acima do menu de categorias para seus produtos, incluindo brinquedos sexuais. 

Ann Summers rainha Elizabeth homenagens

Nas redes sociais houve quem achasse graça, comentando que naquele momento difícil para a vida dos súditos valia tudo para aliviar a dor da perda. Mas em geral, o público não parece nada satisfeito com que está sendo percebido como oportunismo ou falta de delicadeza. 

Segundo o estudo, sete em cada dez britânicos disseram ter visto mensagens de condolências de alguma marca (69%) após a morte da rainha, com apenas 17% afirmando não terem sido expostos a essas propagandas. 

Quando questionados sobre as motivações das marcas, três em cada cinco membros do público dizem que são mais motivados por razões de relações públicas do que por um desejo sincero de prestar seus pêsames (58%).

Apenas três em cada dez dizem que é mais provável que essas mensagens “venham do coração” (28%).

Os mais velhos se mostraram mais benevolentes com as marcas comerciais: menos da metade (46%) das pessoas acima de 65 anos consideram que as homenagens à rainha estejam sendo motivadas por interesses de relações públicas. 

A faixa mais crítica é a de 25 a 49 anos, com 66% vendo com reservas uma possível “carona” no luto. 

E nem todas as companhias são tratadas da mesma forma pelos exigentes e sensíveis súditos. O YouGov constatou que homenagens à rainha Elizabeth feitas por marcas que têm alguma conexão com a realeza são mais bem recebidas. 

Muitas empresas no Reino Unido têm o selo real, indicando que são aprovadas, preferidas ou consumidas pelos membros da monarquia. 

No caso delas, 83% dos entrevistados disseram achar que os tributos são apropriados. O mesmo ocorre no caso de atrações turísticas associadas à realeza, cujas homenagens à rainha contam com 81% de aprovação. 

Já manifestações de luto por parte de atrações turísticas sem uma relação com a família real são vistas com muito menos simpatia, com a aprovação de 59% dos entrevistados.

Em último lugar como segmento credenciado a prestar homenagens à sisuda e discreta rainha aparece o de lingerie e brinquedos sexuais, com 27% – certamente um efeito Ann Summers. 

E embora a rainha fosse uma conhecida admiradora de corridas de cavalos, com vários animais de sua propriedade entre os mais competitivos do mundo, 32% dos súditos não consideram honestas as homenagens prestadas a ela por empresas de apostas.  

Ainda assim, o cassino Hippodrome exibe painéis com a figura de Elizabeth II.

Cassino HIppodrome (Foto: Lorena Nogaroli)

Em seguida aparecem as marcas de fast-food, com 48% de aprovação. Nesse caso não há incoerência, pois não se tem notícia de visitas da monarca a redes de alimentação, muito menos de entregas em um dos seus palácios. 

O problema aqui pode ter sido originado pela Domino’s Pizza, que postou no Twitter uma mensagem de luto pela rainha logo depois da morte e fechou o canal para comentários, na vã esperança de que fosse manter uma comunicação de mão-única e evitar controvérsias.

Só que muitos retuitaram com comentários irônicos ou negativos, indicando a percepção de falta de honestidade na homenagem à rainha que a pesquisa do YouGov identificou. 

Um deles sugeriu usar o código promocional com o nome da rainha e receber um desconto de 96%, idade dela ao morrer. 

Comércio fechado para homenagens à rainha Elizabeth

A pesquisa do YouGov avaliou também a reação dos britânicos ao fechamento de atrações e à interrupção de atividades do comércio ou de serviços essenciais no dia do enterro.

Três quartos do público apoiam o fechamento de escolas (77%), museus (75%) e loja de rua (72%). A rede Superdrug publicou um aviso assinado pelo CEO. 

Dois terços também acham certo interromper os serviços postais (66%) e as entregas de supermercado (65%).

E a maioria apoiou até a suspensão de jogos de futebol (56%). As partidas estão paralisadas desde o fim de semana seguinte à morte, sob críticas de celebridades como o ex-jogador e comentarista esportivo Gary Lineker. 

Os britânicos estão menos convencidos de que é apropriado que os serviços meteorológicos reduzam as previsões divulgadas ao público,  dividindo-se entre se é certo (40%) ou errado (43%) fazê-lo.

E enquanto várias unidades de saúde pública anunciaram o adiamento de procedimentos como próteses de joelho e cirurgia de catarata, o público é mais inclinado a achar errado (54%) cancelar consultas não essenciais do que certo (32%).

Na lanterna da lista está o setor de acomodações, resultado de outra controvérsia.

A rede Center Parcs, muito usada por famílias britânicas para viagens de curta duração, virou alvo de ataques ao anunciar que os hóspedes deveriam deixar os resorts no dia do enterro da rainha, para que os funcionários pudessem assistir aos eventos. 

Apenas 13% aprovam o fechamento de acomodações hoteleiras no dia do funeral da rainha, enquanto 77% dizem que foi a medida é errada. 

Depois de protestos, o Center Parcs voltou atrás parcialmente, autorizando a permanência dos hóspedes, mas sem serviços e com desconto nas diárias já pagas. 

O parque Legoland foi outro que anunciou o fechamento no dia do enterro, com um personagem especialmente criado para a homenagem. Assim como ocorreu com as demais marcas, os comentários se dividiram entre positivos e irônicos sobre as reais intenções. 

Algumas companhias tentaram ser criativas. Uma das homenagens mais originais foi feita pela rede de academias Crossfit, autora de uma série personalizada de exercícios dedicada à monarca, que até onde se sabe, nunca foi vista malhando. 

A sequência usava números relativos à vida de Elizabeth II e terminava com um minuto de silêncio, considerada a melhor parte pelos que curtiram a iniciativa.

https://twitter.com/mjrgrs/status/1568189082169233408?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1568189082169233408%7Ctwgr%5E0c281907177cd381fe6926bf5956aa8a3fc21ba5%7Ctwcon%5Es1_c10&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.indy100.com%2Fviral%2Fcrossfit-queen-elizabeth-ii-death

Mas depois de críticas, o post foi removido, embora continue circulando e tenha sido notícia na mídia. 

Jornais e TVs não quiseram se arriscar. Muitos suspenderam a veiculação de anúncios em suas edições e programas quando a cobertura da morte de Elizabeth foi anunciada. 

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