Londres – Na véspera do enterro da rainha Elizabeth, os editores de jornais britânicos parecem ter combinado entre si qual seria a foto de capa, pois todos optaram pela mesma imagem: a da vigília dos netos em torno do caixão da monarca, que aconteceu na noite de sábado. 

A vigília foi mais um dos eventos programados pelo cerimonial com potencial de gerar atenção da mídia, e cumpriu bem a tarefa.

A entrada dos netos no salão do Parlamento onde o caixão está aberto à visitação pública desde quarta-feira foi transmitida ao vivo pelas emissoras de TV e por canais no YouTube, incluindo os da família real.

A vigília reforça um dos fortes elementos da conexão de Elizabeth e da monarquia com o povo, que é a vida em família. Apesar de escândalos e separações (apenas um de seus filhos não se divorciou), Elizabeth II teve uma infância feliz com os pais e cultivou a imagem de mãe e avó durante toda a vida, tradição seguida pelos herdeiros. 

A opção dos jornais pela mesma foto de capa não foi por falta de “concorrência”.

Um outro evento midiático foi realizado no sábado, quando o rei Charles e o príncipe William visitaram de surpresa pessoas que aguardavam na fila para ver o caixão da rainha Elizabeth antes do enterro, na segunda-feira.

O mesmo fizeram o filho Edward e a mulher, Sophie. Em clima de adoração a um pop star, muitos gritavam ‘God Save the King’. 

Mas para os editores, a foto dos netos foi a preferida, em um dia em que os jornais saem com grandes edições especiais históricas sobre a vida de Elizabeth II um dia antes do enterro.

Alguns fizeram referências à proximidade entre William e Harry no dia em que uma saia-justa sobre a recepção para autoridades programada para domingo também virou notícia: o príncipe mais novo teria sido “desconvidado”. 

Veja como os jornais de domingo retrataram os funerais da rainha Elizabeth II

O monarquista e conservador Sunday Telegraph usou uma abordagem família, com o título “Unidos pela avó”.

E incorporou a narrativa oficial na reportagem de capa afirmando que os netos”fizeram história” ao “caminharem lado a lado para honrar a memória em uma vigília emocional”. Foi a primeira vez que netos participaram de uma vigília, tradicionalmente reservada aos filhos homens de um rei. 


O tabloide The Sun usou a mesma imagem com um corte para destacar os dois filhos do rei Charles, que às vésperas do enterro da rainha Elizabeth animaram os súditos com sinais de que as discórdias poderiam estar sendo resolvidas.

A manchete do jornal é “Estamos unidos”. Mas ela destoa das notícias publicadas por vários jornais e compartilhadas nas redes sociais sobre a importante cerimônia oficial deste domingo.


O Sunday Times opta por uma primeira página simples, com a foto aberta mostrando as pessoas na fila e uma manchete de uma única palavra: “Despedida”. 

Neste domingo o jornal sai com a segunda parte de uma revista comemorativa, cobrindo a vida da rainha Elizabeth de 1972 até 2022, seguindo uma tradição da mídia britânica de publicar edições colecionáveis. 

Mais emocional, impossível. A manchete do tabloide Sunday People faz jus ao seu perfil de jornal de celebridades: “A vigília do amor”, com fotos de Wiliam e Harry. 

Pode ser exagero, pois as aparições públicas dos dois foram apenas protocolares, não há notícias de que tenham se aproximado de verdade e os rumores são de que as mágoas continuam. 


O Sunday Mirror usou uma imagem enquadrando todos os netos, captada quando os sete caminhavam para se posicionar em torno do caixão. O título é “Guarda de Honra da vovó”


Até o The Guardian, que nos últimos dias dividiu sua capa com outras notícias, se rendeu aos preparativos para o enterro da rainha Elizabeth em sua edição dominical, The Observer, quase que inteiramente ocupada pela foto da vigília. 

O jornal usou o mesmo ângulo que mostra os netos a caminho do caixão, com o título “Unidos na perda”.

Mas na parte inferior da capa, aborda as dificuldades que a primeira-ministra Liz Truss terá depois do enterro da rainha Elizabeth, quando o país volta à vida normal.
O The Observer fala do batismo de fogo da nova chefe de governo, que assumiu o cargo dois dias antes da morte da monarca. 

O Sunday Express foi outro que usou a foto dos netos em torno do caixão e um destaque da fisionomia triste do príncipe William.

A manchete endossa um movimento para perpetuar a admiração pela rainha – e por extensão pela monarquia. Parlamentares propuseram criar um dia em memória de Elizabeth II no calendário oficial britânico. 


A matéria principal da capa do Daily Star é típica do estilo do jornal: uma história meio amalucada sobre agentes secretos, alienígenas e OVNIs.

E entre chamadas secundárias para assuntos de futebol e celebridades da TV há um registro dos irmãos em luto pela rainha Elizabeth. 

Neste domingo o espetáculo continua, com uma mistura de homenagens emocionais e uso da monarquia para reforçar o soft power britânico. 

A partir de 12h o rei Charles inicia uma sequência de audiências políticas, primeiro com a primeira-ministra Liz Truss e depois com líderes de nações que fazem parte da Commonwealth. 

Seu maior desafio no trono é conter uma debandada de países que apenas esperavam a morte da rainha Elizabeth para se tornarem repúblicas, movimento que deve acelerar depois do enterro. 

Às 18h o rei vai receber líderes mundiais e representantes de governos de todo o mundo. Joe Biden chegou no sábado, e Jair Bolsonaro na manhã de domingo. 

Em seguida, às 20h, haverá um minuto de silêncio nacional. E a integrante da família que estará sob os holofotes é a rainha consorte, Camilla. 

Ela gravou um pronunciamento que será exibido em rede nacional, com um tributo à sogra. No entanto, a vida pública dela não está fácil. Junto com Meghan Markle, a rainha virou alvo de trolagem e abusos nas redes sociais.