Londres – Uma multidão silenciosa e emocionada ocupou as ruas de Londres acompanhando o último dia das homenagens à Rainha Elizabeth II, cujo enterro acontece em Windsor nesta segunda-feira (19).
A cobertura sem precedentes da mídia, que desde 8 de setembro transmite cada acontecimento da sequência de eventos com ares medievais, combinando elementos religiosos e militares, fez com que a morte se tornasse uma espécie de catarse coletiva.
Nos últimos dias a imprensa conversou com especialistas para explicar o que estava acontecendo e por que as pessoas choram por alguém que não conhecem.
Não há um motivo único. Lembrança de parentes que se foram, ser parte de um momento histórico, conexão com “algo maior” que cria a sensação de pertencimento, religiosidade pela figura que sempre cultivou a fé em Deus e o senso de família estão entre as razões apontadas.
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Mas em uma sociedade em que as tecnologias de mídia aproximaram pessoas distantes, a percepção é de que a rainha Elizabeth era “uma pessoa da família”.
As for her father King George VI, grandfather King George V, great-grandfather King Edward VII and great-great-grandmother Queen Victoria, Her Majesty The Queen’s coffin was borne in a Procession to Westminster Abbey on the State Gun Carriage. pic.twitter.com/2Vl58ITLGp
— The Royal Family (@RoyalFamily) September 19, 2022
É isso que se viu nas ruas de Londres, sobretudo nos dois últimos dias e nesta segunda-feira.
Hoje é feriado nacional, e diferentemente do que costuma acontecer em feriados, praticamente todo o comércio do centro da cidade está fechado.
Mas vendedores ambulantes oferecem flores e lembranças, algumas bem caseiras.
Muitos – inclusive idosos e famílias inteiras com crianças pequenas – passaram a noite fria de quase outono acampados para ver o caixão da rainha Elizabeth passar antes do enterro em Windsor.
A maioria das pessoas usou roupas pretas ou símbolos com bandeiras.
Vários caminharam de forma organizada e em silêncio para encontrar um lugar. A menina escolheu um traje de princesa para a ocasião.
Crianças, idosos e pessoas ds de todas as idades e que não formam o padrão típico de monarquistas tradicionais foram para as ruas nesta segunda-feira.
Desde o início da cerimônia fúnebre, na Abadia de Westminster, milhares de pessoas acompanharam em telões espalhados pela cidade, em cinemas que abriram as portas para o público e nas calçadas das avenidas por onde o caixão da rainha passou em seu último cortejo.
Na The Mall, que dá acesso ao Palácio de Buckingham, o silêncio do público foi quase total.
O sistema de som transmitiu o áudio da cerimônia fúnebre na Abadia. Depois, o som era o da banda que passava.
Pouco antes do caixão passar na avenida The Mall, soldados da Guarda da Rainha se posicionaram com metralhadoras em punho.
Guardas a cavalo patrulhavam atentamente os arredores da passagem do cortejo fúnebre.
Mesmo diante do caixão, enquanto a Guarda Real baixou a cabeça em sinal de respeito, policiais não tiraram os olhos do púbico.
O trajeto entre o Palácio de Westminster e a Abadia de Westminster foi transmitido pela TV, com a cena emocionante da família atrás do caixão, incluindo dois bisnetos, George e Charlotte, filhos dos príncipes William e Kate.
O momento em que o hino nacional God Save The Queen foi executado e a saída do caixão da Abadia foram aplaudidos pelo público que assistia nas ruas.
O som do relógio Big Ben foi ouvido em meio aos acordes da banda militar e dos passos cadenciados do cortejo antes do enterro da rainha Elizabeth.
As Big Ben tolled, Her Majesty The Queen’s coffin made its final journey through London.
From Westminster Abbey, along Horse Guards, down the Mall to Wellington Arch, the Procession included detachments from British and Commonwealth Armed Forces. pic.twitter.com/JYb4BZFeGZ
— The Royal Family (@RoyalFamily) September 19, 2022
A passagem do caixão foi acompanhada em quase total silêncio, e praticamente todos registram o momento com telefones celulares.
Alguns levaram flores, mas ninguém tentou jogar sobre a passagem. Em alguns pontos o público aplaudiu a passagem do cortejo.
Entre as bandeiras, algumas do Brasil.
Exatamente às 13h37, horário local, o Royal Salute foi executado no Arco de Wellington diante do caixão e os sinos da Abadia de Westminster soaram, marcando o fim da cerimônia.
O caixão foi colocado no automóvel que o levou para Windsor, onde acontece o enterro da Rainha Elizabeth II no fim do dia de hoje.
Na passagem, o silêncio deu lugar a aplausos e flores foram jogadas pelo caminho, em uma cena de despedida da rainha Elizabeth em Londres que poucos esquecerão.
Mesmo depois da passagem do cortejo, muitos dos que acamparam para se despedir da rainha Elizabeth permaneceram no local, lanchando ou apenas contemplando a avenida vazia, mas ainda patrulhada por policiais atentos.
Outros ficaram no gramado do Green Park, em piqueniques improvisados.
A idolatria pela rainha Elizabeth não acontece apenas no Reino Unido. Nos EUA, as principais emissoras em inglês e espanhol também transmitem ao vivo.
O número de pessoas assistindo é estimado em mais de 4 bilhões.
O pool que capta as imagens montou um esquema que incluiu imagens terrestres e aéreas de vários pontos do cortejo, como as gruas suspensas no centro do The Mall, caminho para o Palácio de Buckingham, deserto depois da despedida da capital.
As crianças e Elizabeth II
Um desdobramento talvez inesperado de toda a pompa e circunstância que marcou as despedidas de Elizabeth II é que o povo não se limitou a assistir e criou sua própria festa, com homenagens espontâneas que viraram um impressionante memorial no Green Park, junto ao Palácio de Buckingham.
Até o Brasil foi representado no cortejo que precedeu o enterro da rainha Elizabeth, com uma bandeira em torno de um arranjo de flores.
Em meio às flores, há muitos objetos que lembram a rainha, como o famoso ursinho Paddington com quem ela contracenou em um vídeo do Jubileu, cachorrinhos, fotografias e até uma bolsa, marca de seu look.
Mas o que chama a atenção é a quantidade de homenagens infantis, algumas individuais e outras feitas por escolas, em grupo.
Muitas crianças estão sendo levadas ao local de culto da imagem da rainha e da monarquia.
Retratar e se despedir da rainha Elizabeth virou o tema da semana passada para as crianças britânicas, seja em casa ou na escola.
Alguns desenhos são representações que nem de longe lembram a figura da monarca, mas são a expressão do sentimento estimulado pelos mais velhos.
Isso deve criar uma nova geração de adoradores da monarquia, ou pelo menos de pessoas profundamente marcadas pelo reinado de Elizabeth II por terem de alguma forma participado de sua despedida.
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