Londres – O grandioso funeral da rainha Elizabeth, o maior da história britânica para um monarca, confirmou-se como uma estratégia eficiente para proteger a monarquia daqueles que desejam seu fim. 

Após a comoção nacional pela morte, que mereceu cobertura ininterrupta da mídia durante dias, pesquisa do instituto YouGov mostra que dois terços dos britânicos (67%) preferem que o Reino Unido continue como uma monarquia, um aumento de cinco pontos desde o Jubileu de Platina, em maio. 

Os que acham que a monarquia é boa para o país também aumentaram (para 62%), assim como os que acham que ela vai durar mais 100 anos (para 52%) e só 20% apoiam eleições para escolher o chefe de estado. O lado preocupante para a realeza é que esses números diminuem entre os mais jovens.

Fim da monarquia depois da rainha Elizabeth? 

A morte da rainha Elizabeth sempre foi um pesadelo para os que defendem a monarquia, já que a monarca era uma espécie de escudo contra os que defendem o fim do regime e pareciam evitar “movimentos bruscos” em respeito à sua figura. 

Por isso, capitalizar ao máximo as cerimônias fúnebres, explorando símbolos medievais que remetem à tradição e valores como nacionalismo, família, militarismo e religião era uma grande oportunidade, que foi plenamente aproveitada.

As entrevistas foram feitas nos primeiros dias do funeral e não captaram o efeito pleno dos 11 dias de homenagens, que culminaram com o enterro no dia 19 de setembro.

As cerimônias fúnebres reuniram quase 100 chefes de Estado e devem ter batido o recorde absoluto de audiência da história da TV, segundo o instituto de pesquisas alemão Statista. 

O apoio à monarquia cresceu cinco pontos desde as festividades do Jubileu de Prata, em maio e ainda mais se comparado ao início do ano, quando tinha ocorrido a primeira queda abaixo dos 60% registrada desde 2011.

Isso fez com que o anseio por eleições para a escolha de um chefe de estado, que vinha crescendo desde 2020, refluísse para a média de 20% registrada no último período de 10 anos.

Gráfico rainha Elizabeth fim monarquia YouGov

A pesquisa mostrou também que os eventos relacionados à morte da rainha parecem ter arrefecido as posições dos britânicos sobre o assunto. Dos que apoiam a monarquia, 83% dizem não ter dúvida disso, contra 77% na época do Jubileu de Platina.

Do outro lado, 71% dos que apoiam o fim da monarquia e a instituição da república também se dizem convictos. Em maio, esse percentual era de 61%.

Monarquia é apoiada por menos da metade dos jovens até 24 anos

Continua a haver uma enorme diferença geracional no apoio dos britânicos à monarquia.

Enquanto 86% dos britânicos com mais de 65 anos dizem que a família real deve continuar a governar, esse percentual cai para apenas 47% entre os jovens até 24 anos, e mesmo esse número deve estar temporariamente inflado.

Os pesquisadores chamam atenção para o fato de que apenas 33% dos jovens manifestaram apoio à monarquia na época do Jubileu de Platina, e a média desde 2020 vinha se mantendo em 35% .

Outro ponto revelado pelo estudo é que, apesar do aumento dos apoiadores da monarquia entre os jovens após a morte da rainha, o percentual desse público que deseja uma república não diminuiu, mas também aumentou.

Gráfico pesquisa YouGov rainha Elizabeth fim monarquia g

 

Seis em cada dez avaliam que a monarquia é boa para a Grã-Bretanha

Em relação à época do Jubileu de Platina, houve um aumento de seis pontos no percentual de pessoas que acreditam que a instituição da monarquia é boa para a Grã-Bretanha, alcançando 62%. 

Uma parcela de apenas 12% acredita que a coroa é ruim para a nação, enquanto 20% acreditam que não seja boa nem ruim.

YouGov pesquisa rainha Elizabeth fim monarquia

A pesquisa revela também um aumento de sete pontos no percentual dos que consideram favorável a relação entre os custos e os benefícios da Família Real (62% contra 55% na época do Jubileu de Platina).  

O maior aumento, de oito percentuais, foi entre os britânicos que se declararam orgulhosos da monarquia, passando para 55%, contra 47% em maio. 

Somente a terça parte dos jovens acredita que monarquia é boa para o país

Novamente, os mais velhos e os jovens britânicos têm visões muito diferentes quanto ao benefício da monarquia para o Reino Unido.

Oito em cada dez (82%) entre os mais velhos dizem que a coroa é boa para o país, enquanto entre os jovens até 24 anos esse percentual cai para apenas 32%.

O fator mais preocupante para a realeza é que entre os jovens, a diferença entre os que acham a monarquia boa e os que a consideram ruim para o país nunca foi tão pequena, desde 2011.

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Mais da metade acredita que monarquia dura ao menos mais 100 anos

Um dos efeitos mais impactantes do funeral da rainha foi a reviravolta que causou na avaliação sobre a duração esperada para a monarquia.

Desde 2011, o número de pessoas que acham que a monarquia não dura mais 100 anos vem aumentando, enquanto os que acham o contrário vem diminuindo.

Até que no Jubileu de Prata, pela primeira vez, a quantidade dos que acreditam que a monarquia não sobreviverá a esse período (41%) superou a outra parcela (39%).

Mas a pesquisa atual demonstrou que a morte de Elizabeth II deu novo fôlego a quem acredita que ainda haverá um monarca no trono britânico em 100 anos. 

O número pulou para 52% enquanto os que apostam que não haverá caiu para 30%.

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Menos de um quarto apoia referendo para decidir fim da monarquia

Certamente há pouco apetite para submeter a decisão da continuidade da monarquia a um referendo público.

Como o estudo mostra que 67% dos britânicos apoia a monarquia e 62% a consideram boa para o país, apenas 22% dos britânicos apoiam a realização de um referendo para decidir sobre o fim da monarquia, com quase três vezes mais (64%) se opondo à iniciativa.

A maior oposição a um referendo sobre o tema vem dos monarquistas (87% deles) e dos que votam no partido Conservador (82%).

O maior apoio vem obviamente dos republicanos (76% deles) e dos que votam no partido Trabalhista (36%). Só que enquanto entre os republicanos o apoio é majoritário, a oposição ao referendo entre os trabalhistas (51%) ainda é maior do que o percentual dos apoiadores.

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Na análise por faixa etária, os mais jovens, que são os que mais apoiam a realização de eleições para a escolha do chefe de estado, também são os que mais defendem a realização de um referendo para discutir a questão.

O maior apoio é o dos jovens até 24 anos (29%), com um percentual maior que o dobro do percentual dos apoiadores na faixa de mais de 65 anos.

A boa notícia para a realeza é que em todas as faixas etárias, incluindo a dos mais jovens, o número dos que são contra um referendo para decidir sobre o fim da monarquia é maior do que o dos apoiadores – chegando a quase sete vezes mais entre os mais idosos.