Londres – Uma blogueira de moda adolescente que não faz postagens sobre política nem comentários sobre a guerra da Ucrânia tornou-se a primeira cidadã russa perseguida pela censura do governo de Vladimir Putin apenas por usar o Instagram, que desde março é considerado “organização extremista”.
Nesta quarta-feira (20), a organização de defesa dos direitos humanos Roskomsvoboda informou que Veronika Loginova, que tem mais de 500 mil seguidores na plataforma, solicitou apoio jurídico depois de ser notificada pelo Ministério Público sobre uma suposta violação da lei.
De acordo com o Roskomsvoboda, o aviso diz que “atrair usuários para as redes sociais Facebook e Instagram, bem como postar materiais lá, incluindo publicidade, pode ser considerado como uma forma de participação nas atividades de uma organização extremista e induzir um círculo indefinido de pessoas a participar dela”.
Censura de Putin levou a bloqueio das redes sociais
A briga entre a Rússia e as plataformas digitais ocidentais começou antes da guerra na Ucrânia, com ameaças e multas.
No início de março, quando a censura sobre os que discordam da invasão se intensificou, a agência reguladora de comunicação e mídia do governo de Vladimir Putin bloqueou o acesso ao Instagram e também ao Facebook no território do país, classificando-os como organização extremista.
O motivo foi a recusa da Meta de atender a ordem do governo de remover conteúdo com ameaças e pedidos de morte a soldados russos, a Vladimir Putin e ao presidente da Bielorrússia, Aleksander Lukashenko.
Alguns influenciadores que ganham muito dinheiro com suas atividades online saíram da Rússia, outros migraram para o Telegram.
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Ainda assim, muitos russos continuaram acessando as plataformas via VPN e o governo não parecia se incomodar com isso, desde que o conteúdo não fosse sobre política ou guerra, que era o caso de Loginova.
Ela seguiu fazendo postagens sobre sobre moda, beleza, psicologia e empreendedorismo, temas de seu blog criado quando tinha 15 anos de idade e que virou um negócio.
O diretor jurídico do projeto Roskomsvoboda, Sarkis Darbinyan disse que este é o primeiro caso de perseguição a um cidadão da Federação Russa com base no simples uso do Instagram.
Um outra blogueira foi indiciada pela lei de fake news promulgada em março, mas ela mora na França e diferentemente de Veronika Loginova havia postado comentários sobre a guerra.
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No comunicado, ele levantou o risco de que medidas semelhantes sejam adotadas contra outros blogueiros e usuários de redes sociais, desde os que têm escasso número de assinantes a jornalistas que usam o Instagram para distribuir conteúdo profissional.
Darbinyan informou que o artigo criminal 282.2 sobre as atividades de uma organização extremista prevê até oito anos de prisão por recrutar pessoas para tal organização e até seis anos por participar dela.
“Assim, de acordo com a lógica da promotoria pública, qualquer pessoa que convidar usuários para seguirem seu canal pode enfrentar até 14 anos de prisão”.
Em post no Instagram, a influenciador alvo da censura de Putin contou que dois promotores ligaram para a sua casa e alegaram que ela “se destaca demais” na rede social, ameaçando-a com seis anos de prisão.
A abordagem aconteceu em agosto, mas apenas agora ela pediu auxílio jurídico e tornou o caso público, afirmando que as conversas com o promotor não estavam adiantando.
Ela informou que não usará mais a plataforma mas quer divulgar como as novas leis de mídia social na Rússia estão afetando a vida das pessoas.
No post, ela diz:
“Sério? Eu? Uma blogueira de moda de 18 anos?
Uma pessoa que escreve sobre saúde emocional e nunca tocou em temas políticos sem seu blog?
Loginova disse em um vídeo que não vai sair da Rússia
Felizmente, tenho apoio de pessoas que entendem a situação. Isso não é normal. […].
E quero que o maior número possível de pessoas que tenham seguidores divulguem essa história. “
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