Londres – A Academia de Cinema da Rússia anunciou que não irá não submeter filmes do país ao Oscar deste ano, sem explicar o motivo, em mais ato de isolamento do país depois do início da guerra com a Ucrânia.
A decisão foi interpretada como um boicote à Academia Americana de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela premiação, e provocou reação de cineastas e intelectuais.
É a primeira vez que o país não participa do Oscar desde o fim da União Soviética, em 1991.
Nesta terça-feira, Pavel Chukhrai, presidente da comissão de nomeação russa ao Oscar, divulgou uma carta de demissão reproduzida pela agência estatal de notícias Tass afirmando que a decisão foi tomada “pelas suas costas”.
Em entrevista ao site independente russo Meduza, Chukhrai disse que a decisão da academia de cinema foi “ilegal”, tomada “unilateralmente”.
Ele afirma que os membros da organização “não só não foram consultados, como nem sequer foram notificados.
Também em reação à decisão, os cineastas Andrey Zvyagintsev e Nikolai Dostai deixaram o comitê do Oscar russo. Há outros que também se desligaram, segundo a mídia russa, mas os nomes não foram confirmados.
Segundo a Tass, o diretor Alexei Uchitel, outro participante do comitê, pediu uma reunião urgente dos cineastas com o presidente da Academia de Cinema para “corrigir imediatamente a situação”.
“Ainda não está claro para mim o que está acontecendo”, disse Uchitel. “Todos os membros do comitê receberam uma lista de filmes elegíveis para indicação e as datas das reuniões estavam sendo discutidas.
Mas, de repente, a notícia foi divulgada. Acho que eles fizeram uma coisa antiética, para dizer o mínimo”, acrescentou.
Na opinião do diretor de cinema, a Rússia precisa indicar um concorrente ao Oscar. “Na situação atual, devemos mostrar que a indústria cinematográfica da Rússia ainda existe e devemos ter um filme participando”, observou o cineasta.
Rússia já ganhou Oscar de melhor filme estrangeiro
Havia 122 filmes disputando a indicação pela Academia Russa para concorrer ao Oscar este ano.
Em 2021, a Rússia nomeou para o prêmio a produção “Unclenching Fists” de Kira Kovalenko. O filme não foi incluído na lista final de indicados.
O país ganhou a estatueta de melhor filme em língua estrangeira em 1994, com Burnt by the Sun.
O filme conta a história de um oficial do Exército Vermelho e sua esposa perturbados com o retorno de um ex-amante durante a repressão stalinista, na década de 30.
Seu diretor, Nikita Mikhalkov, de 76 anos, preside o Sindicato dos Cineastas da Rússia e apoia o presidente Vladimir Putin e a invasão da Ucrânia.
Ele disse à agência Tass que a Rússia não tinha nada a ganhar participando do Oscar deste ano, propondo a criação de um prêmio equivalente para os países da região pós-soviética.
“Parece-me que escolher um filme que represente a Rússia em um país que, na realidade, atualmente nega a existência da Rússia, simplesmente não faz sentido”, disse ele.
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