Londres – Uma jornalista que trabalha para a BBC como produtora freelancer é a mais nova condenada à prisão em Mianmar, país que se transformou em um dos maiores carcereiros de profissionais de imprensa do mundo depois do golpe militar de fevereiro de 2021. 

Presa desde agosto de 2021, Htet Htet Khine foi condenada no dia 15 de agosto passado a três anos de trabalhos forçados pelo crime de incitação.

Em 27 de setembro, um tribunal a condenou a mais três anos por associação ilegal, com redução do tempo de pena, segundo nota da BBC.

A sentença foi proferida por um tribunal especial dentro da prisão de Insein, em Yangon, onde ela está  detida. 

A BBC Media Action, para a qual a jornalista colabora regularmente, é uma organização jornalística independente e sem fins lucrativos que não faz parte da BBC News, contando com programação própria voltada para temas sociais e comunitários em Mianmar.

Além de ser produtora, Htet Htet Khine apresentava o programa de televisão Khan Sar Kyi (Feel It) produzido pela BBC Media Action para o público local. 

BBC consternada com prisão de jornalista em Mianmar 

Liliane Landor, controladora da BBC International News e diretora do BBC World Service, disse que a emissora ficou “consternada” ao saber da condenação à prisão da jornalista em Mianmar. 

“A liberdade de imprensa é um direito fundamental e uma pedra angular de qualquer sociedade moderna.

Jornalismo não é crime, e pedimos às autoridades de Mianmar que cessem essas detenções injustas de jornalistas e profissionais de mídia.”

O jornal independente Mianmar Now informou que Htet Htet Khine foi presa em Bahan Township em agosto do ano passado junto com o conhecido colunista Sithu Aung Myint, procurado pelas autoridades militares de Mianmar.

Ela foi acusada de abrigar Myint em sua casa e de trabalhar como editora da Federal FM, estação de rádio administrada pelo NUG (National Unity Government).

O regime militar classificou o NUG, formado por membros do governo eleito deposto pelo golpe do ano passado, como uma organização terrorista, base para a segunda condenação por associação ilegal. 

Em uma entrevista coletiva, o regime alertou que lidaria com severidade com aqueles que doassem até mesmo pequenas quantias de dinheiro ao NUG ou a outros grupos de resistência. E ameaçou com pena de morte os que apoiam dissidentes. 

“A junta de Mianmar deve reverter este veredicto ultrajante contra a jornalista Htet Htet Khine e libertá-la imediata e incondicionalmente da prisão”, disse Shawn Crispin, representante do Centro de Proteção a Jornalistas no Sudeste Asiático. 

“O regime militar deve parar de tratar os jornalistas como criminosos apenas por fazerem seu trabalho.”

Citando dados compilados pelo grupo do Facebook Detained Journalists Information Myanmar, o Mianmar News informou que pelo menos 142 jornalistas foram presos desde que os militares tomaram o poder em um golpe em 1º de fevereiro de 2021.

Vários meios de comunicação tiveram as licenças revogadas ou foram forçados a fechar ou transferir suas equipes para o exílio.

Pelo menos dois jornalistas morreram sob custódia da polícia