O 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês começou no domingo (16) com um forte discurso do líder do país, Xi Jinping, sobre suas pretensões de ter o controle total de Taiwan assim como tem de Hong Kong.
A disputa para dominar a ilha autônoma deve ser a prioridade do eventual terceiro mandato do presidente chinês, que provavelmente será renomeado para comandar o país no fim do congresso, no próximo sábado (22).
A notícia não é boa para o jornalismo independente: entidades defensoras da liberdade de imprensa estão aproveitando o evento para aumentar as pressões sobre violações contra profissionais de mídia nas áreas sob controle chinês, chamando a atenção da comunidade internacional para a gravidade da situação que tende a se manter igual com continuidade de Jinping no poder.
China aumenta violações contra imprensa em Hong Kong
Às vésperas do Congresso do Partido Comunista, um novo relatório da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) trouxe luz para os danos que o governo de Xi Jinping causou à imprensa de Hong Kong, ex-ilha britânica devolvida há 25 anos para o controle chinês.
A federação classifica o que aconteceu nos últimos dois anos como um “dramático colapso da liberdade de imprensa e da mídia independente” em Hong Kong, causado pela Lei de Segurança Nacional imposta no território por Pequim.
Desde então, pelo menos 12 veículos jornalísticos independentes, incluindo os notórios Apple Daily e Stand News, foram obrigados a fechar. Dezenas de profissionais de imprensa e ativistas também foram perseguidos, ameaçados e presos.
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No relatório “The Story That Won’t Be Silenced: Hong Kong Freedom of Expression Report”, a entidade detalha as estratégias legislativas que o governo de Hong Kong prepara contra a imprensa livre e independente.
O documento mostra ainda a resistência do jornalismo de Hong Kong ao listar os profissionais de imprensa e agências de notícias que enfrentam a repressão e continuam trabalhando.
“Pelo menos 21 empresas de mídia livres e independentes, tanto dentro de Hong Kong quanto em todo o mundo, foram lançadas desde a introdução da Lei de Segurança Nacional”, diz a FIJ.
“Os profissionais de imprensa de veículos fechados conseguiram perseverar.
Eles continuam trabalhando por meio de plataformas como Facebook, Instagram e o plataforma de financiamento coletivo Patreon.”
Por causa da repressão em Hong Kong, a FIJ assumiu a publicação do relatório de 2022, que deveria ter sido feita pela afiliada federação, a Associação de Jornalistas de Hong Kong (HKJA).
“É realmente uma tragédia que hoje em Hong Kong muitos jornalistas que dedicaram suas vidas aos ideais da liberdade de imprensa e ao direito do povo de saber foram forçados a fugir, se autocensurar ou se submeter a anos de prisão por simplesmente fazer seu trabalho”, diz a federação.
Entre as principais recomendações da entidades, estão o reconhecimento da comunidade internacional para a gravidade da situação da imprensa em Hong Kong e o pedido para que governos concedam vistos humanitários para os jornalistas que precisam deixar a ilha.
Países ocidentais também devem condenar a repressão da mídia imposta pelos governos da China e de Hong Kong, e fomentar a produção de conteúdo sobre as regiões em seus territórios. Acesse o relatório neste link.
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ONG pressiona por liberdade de editor sueco
A ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) também aproveitou o Congresso do PCCh para pedir a libertação do editor sueco Gui Minhai. No dia 17 de outubro, a prisão dele completa sete anos.
Minhai, cofundador de uma editora sediada em Hong Kong especializada em reportagens investigativas sobre a vida privada de líderes chineses, foi sequestrado pelo regime comunista do país enquanto estava de férias na Tailândia, em 2015.
Ele e outros quatro colaboradores da editora foram detidos, mas, segundo a RSF, ele é o único que ainda está na prisão.
Em 2017, Minhai teria sido “libertado” pelas autoridades chinesas, porém, permaneceu sob vigilância residencial.
No ano seguinte, ele foi novamente detido pela polícia em um trem com destino a Pequim, ocasião em que estava acompanhado por dois diplomatas suecos.
De acordo com a ONG, depois desse incidente ele foi obrigado a renunciar publicamente à cidadania sueca.
⚡️#China🇨🇳: Today marks 7 years since #GuiMinhai, Swedish book publisher, was kidnapped by Chinese regime in Thailand. RSF calls on democracies to increase pressure on China and do everything in their power so that detained publisher is finally released.👇https://t.co/6VlFC8Yc8m pic.twitter.com/c7Y068N6Wr
— RSF (@RSF_inter) October 17, 2022
Dois anos depois, o regime chinês anunciou que Minhai havia sido condenado a dez anos de prisão por “fornecer ilegalmente inteligência no exterior”.
“A prisão de meu pai, que é ilegal mesmo de acordo com a lei chinesa, deveria aterrorizar a todos nós”, diz a filha do escritor, Angela Gui, que não teve notícias de seu pai nos últimos quatro anos.
“Responsabilizar a China por seus crimes requer combinar palavras com ações”, acrescentou.
O chefe do escritório da Ásia Oriental da RSF, Cédric Alviani, também cobrou medidas dos países ocidentais:
“Ao não agir com força suficiente para libertar Gui Minhai, a comunidade internacional permitiu que o regime chinês assumisse o direito de sequestrar pessoas em qualquer lugar do mundo, negar seu direito à proteção consular e detê-los arbitrariamente com total impunidade.”
“Pedimos às democracias, especialmente ao governo sueco, aos estados membros da UE e à Comissão Europeia, que aumentem a pressão sobre a China e façam tudo o que estiver ao seu alcance para que o editor detido seja finalmente libertado”, disse o presidente da RSF Suécia, Erik Halkjaer.
A China ficou em 175º lugar entre 180 no Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa da RSF de 2022. O país é o maior carcereiro de jornalistas do mundo, com pelo menos 115 detidos, incluindo 13 em Hong Kong.
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