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Além das Big Techs: estudo mostra como americanos estão se informando por redes alternativas

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Londres -Pesquisas sobre o papel das redes sociais como fontes de informação costumam examinar as grandes plataformas, mas o Pew Research Center  (EUA)  acaba de divulgar um estudo olhando para onde não se costuma prestar tanta atenção: as chamadas “novas opções”, que se apresentam como alternativas às Big Techs.

O estudo combina entrevistas com usuários americanos de sete redes e uma auditoria analisando aspectos como a forma de apresentação do site e recursos de privacidade.

Os pesquisadores examinaram também as 200 contas com o maior número de seguidores em cada uma delas. Foram coletadas todas as postagens publicadas por essas contas em junho de 2022 − um total de 585.470 − e analisadas suas frases-chave, temas e links.

Rede social foi analisada como uma das fontes de informação nos EUA

Uma das plataformas cobertas pelo trabalho é Truth Social, aventura de Donald Trump que enfrenta problemas operacionais e financeiros e não conseguiu dar ao seu criador nem 5% dos 80 milhões de seguidores que tinha no Twitter até ser banido.

Mas ela não é a única conexão do ex-presidente com seus potenciais eleitores para voltar ao cargo.

As outras redes avaliadas pelo Pew são reconhecidas como preferidas por pessoas que se alinham ao pensamento conservador e à extrema-direita: BitChute, Gab, Gettr, Parler e Rumble.

A sétima da lista é o Telegram, que em locais sob censura como a Rússia e a Bielorrússia virou primeira opção para transmitir informações que não seguem a narrativa estatal.

Mas em países sem censura é uma plataforma largamente utilizada pelos que querem fugir da moderação mais rigorosa das demais.

Ainda assim, relativamente poucos americanos usam esses sites de mídia social alternativos para notícias – embora uma parcela maior tenha ouvido falar de cada um deles.

A Parler é a mais conhecida das sete, com 38% dos adultos norte-americanos dizendo que a conhecem.

Pew Research Center estudo redes sociais fontes de informação EUA

A parcela que recebe notícias nesses sites é muito menor: apenas 6% dos americanos recebem notícias de pelo menos um dos sete sites mencionados, e nenhum site é usado para notícias por mais de 2% dos adultos americanos.

Mas quem está lá, gosta. Nas entrevistas, o Pew descobriu que, embora menos de um em cada dez americanos confirme usar qualquer um desses sites para se informar, a maioria dos que o fazem afirma ter encontrado uma comunidade de pessoas com ideias semelhantes.

E os consumidores de notícias nos quatro sites com números suficientemente representativos para serem analisados individualmente – Parler, Rumble, Telegram e Truth Social – em grande parte dizem que estão satisfeitos com sua experiência ao receber notícias por eles, considerando as informações mais precisas e as discussões amigáveis.

Parece uma boa notícia, mas não é bem assim. Os autores acham que esse comportamento não passa de um sinal de que esses sites encarnam o discurso público cada vez mais polarizado e as divisões partidárias dos americanos.

O debate é amigável porque a maioria lá pensa igual. Quando saem da bolha, dá briga.

Em linha com o perfil dessas plataformas, a maioria dos que recebem notícias regularmente de pelo menos uma das sete redes alternativas de mídia social (66%) se identifica como republicana ou se inclina para o Partido Republicano.

Por outro lado, quem usa as redes sociais mais tradicionais – Twitter, Facebook e YouTube – como fontes de informação se identifica amplamente como o lado democratas.

O Pew também apurou que cerca de um quarto das contas mais proeminentes identificam-se como conservadoras ou republicanas ou apoiando o ex-presidente Donald Trump ou seu movimento “Make America Great Again”.  Muitas se concentram em temas como patriotismo e identidade religiosa, diz o Pew.

“A discussão em torno dessas questões geralmente reflete visões de mundo marginais e controversas sobre a direita política”, diz o estudo.

“Por exemplo, alguns dos termos mais comuns em postagens sobre o ataque de 6 de janeiro ao Capitólio dos EUA incluem “prisioneiro político”, “Gulag DC”, “comitê não selecionado”, “caça às bruxas” e “audiência simulada”.

E postagens sobre vacinas indicam uma preocupação profunda e consistente com o impacto da vacinação. Elas se referem regularmente a um pequeno grupo de céticos influentes da vacina.

Os termos mais comuns nessas postagens apontam para um medo generalizado de impactos reais, mas raros, da vacinação (“efeito colateral”, “reação adversa”, “coágulo sanguíneo”, “inflamação do coração”), mas também doenças ou sintomas para os quais a literatura médica encontra poucas evidências de estarem vinculados a vacinas (“síndrome da morte súbita do adulto”, “contagem de espermatozóides”).

E postagens sobre questões LGBTQ comumente se referiam a drag queen “story hour” (um alvo comum de grupos anti-LGBTQ ) ou alegações irônicas contra indivíduos gays e transgêneros, como “pedo” e “groomer”, implicando que eles atacam crianças.”

Os pesquisadores salientaram que uma parcela significativa dos donos dessas contas − 15% − foi banida ou desmonetizada em outras mídias sociais, possivelmente por conteúdo associado a discurso de ódio ou teorias conspiratórias.

Na BitChute, o percentual de desmonetizados ou banidos das BigTechs chega a 35%.

Redes alternativas vistas com desconfiança como fontes de notícias 

Os americanos que ouviram falar dessas redes mas não as usam como fontes de notícias as vêem com desconfiança.

Quando perguntados sobre a primeira coisa que vem à mente ao pensar nelas, as pessoas nesta categoria geralmente citaram imprecisão e desinformação, viés político, direita política, extremismo e ideias marginais.

Outros elementos do estudo do Pew falam de algumas dessas associações. Uma parcela pequena, mas mensurável, de contas proeminentes nesses sites (6%) menciona uma conexão com o conjunto de teorias da conspiração conhecido como QAnon.

E uma análise de conteúdo recente postado por contas proeminentes nesses sites descobre que as frases mais comuns incluem algumas que são controversas e até inflamatórias, como cautela em relação a vacinas e associações negativas com pessoas LGBTQ.

Além disso, um dos destinos mais prevalentes para os links encontrados nessas postagens é o The Gateway Pundit, um meio digital que tem sido criticado por publicar informações falsas .

Saindo das redes sociais para o mundo real 

O Pew descobriu ainda que a atividade nesses sites vai além do âmbito digital.

Um terço dos consumidores de notícias de mídia social alternativa (33%) dizem ter participado de um comício político pessoal ou outra atividade política sobre a qual tomaram conhecimento nesses sites, e uma parcela semelhante (36%) doou dinheiro para contas que seguem nesses sites.

“Uma maneira central como esses sites se retratam, que pode ajudar a dar aos usuários esse senso de comunidade, é como refúgios acolhedores para a liberdade de expressão, bem como antídotos para a censura e a “cultura do cancelamento” que eles dizem existir em sites de mídia social mais estabelecidos.

De fato, todos os sete sites examinados afirmam explicitamente que apoiam a liberdade de expressão.”

Segundo o estudo, os consumidores de notícias de mídia social alternativa são particularmente favoráveis ​​a esses conceitos.

Em comparação com os americanos em geral, eles são mais propensos a dizer que a liberdade de informação deve ser protegida – mesmo que isso signifique permitir informações falsas e conteúdo ofensivo online – do que dizer que as empresas de tecnologia devem tomar medidas para restringir informações falsas.

A pesquisa mostrou que dois terços dos consumidores de notícias de mídia social alternativa (64%) favorecem a proteção da liberdade de expressão, mesmo que traga algum conteúdo falso, enquanto a maioria de todos os adultos dos EUA (61%) prefere que as empresas de tecnologia tomem medidas restringir esse tipo de conteúdo, mesmo que limite a liberdade de informação.

Para o jornalismo, o estudo lembra o ditado “não há nada tão ruim que não possa ser piorado”. A ameaça ao jornalismo confiável não está apenas nas grandes plataformas, como muitos defendem, mas também em um “universo paralelo”, onde o controle de discurso de ódio e desinformação é ainda menor.

Os pesquisadores disseram que “essas redes se tornaram um refúgio para alguns que sentem que não têm um lar nas redes mais estabelecidas”.

Menos de um em cada dez americanos se informando por elas parece pouco.

Mas somando-os aos que se informam nos canais pouco confiáveis que resistem firmes nas grandes plataformas, aos que assistem a redes mainstream como a Fox News e aos que são influenciados diretamente por esse público (amigos, parentes, colegas de trabalho), uma volta de Donald Trump à Presidência e o aprofundamento das divisões na sociedade parecem estar no horizonte dos EUA.

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