O TikTok e o Facebook permitiram a veiculação de anúncios com fake news sobre as eleições dos Estados Unidos, enquanto o YouTube barrou todos os conteúdos pagos que continham desinformação. O experimento fez parte de um novo estudo conduzido pela ONG Global Witness em parceria com a Universidade de Nova York.
Apesar do bom desempenho do YouTube, os pesquisadores destacam que a atuação contra fake news eleitorais da plataforma nos EUA contrasta com suas ações no Brasil: anúncios semelhantes aos usados no estudo foram aprovados e disseminados na rede para os brasileiros.
Pesquisa semelhante realizada pela ONG em agosto no Brasil teve 100% dos anúncios com desinformação eleitoral aprovados no Facebook e, agora em outubro, também no YouTube.
Plataformas falham em deter anúncios com fake news sobre eleições
Divulgada dias antes das eleições de meio de mandato dos EUA, marcada para o dia 8 de novembro, e e e do segundo turno das eleições presidenciais brasileiras, a pesquisa da Global Witness chama a atenção para a influência da propaganda na decisão dos eleitores.
Com o objetivo de investigar como as plataformas de mídia social estão lidando com a desinformação que pode desestabilizar democracias, o estudo fez um experimento com a publicação de 20 anúncios (10 em inglês e 10 em espanhol) nas três redes sociais mais usadas nos EUA — YouTube, Facebook e TikTok.
As propagandas foram direcionadas aos estados que devem ter uma disputa eleitoral acirrada: Arizona, Colorado, Geórgia, Carolina do Norte e Pensilvânia.
“A desinformação eleitoral dominou as eleições de 2020 nos EUA, particularmente o conteúdo que visava deslegitimar o processo e o resultado eleitoral, e há temores generalizados de que esse conteúdo possa ofuscar a votação nos Estados Unidos novamente este ano.”
Todos os anúncios usados pelos pesquisadores continham informações eleitorais totalmente falsas, como a data errada da eleição, por exemplo, ou fake news que desacreditam o processo eleitoral.
“Não declaramos os anúncios como políticos e não passamos por um processo de verificação de identidade. Todos os anúncios que enviamos violavam propositalmente as políticas de anúncios eleitorais do Meta, TikTok e Google”, destacam os pesquisadores.
O TikTok, que não permite anúncios relacionados à política, teve o pior desempenho entre as plataformas e aprovou 90% dos anúncios com desinformação eleitoral enganosa e falsa.
A rede social chinesa rejeitou apenas um anúncio em inglês e um em espanhol – ambos relacionados à exigência da vacina da covid-19 para votação (e que foram aceitos no Facebook).
No entanto, propagandas contendo o dia errado da eleição, incentivando as pessoas a votarem duas vezes ou a não irem votar foram aprovadas.
“A conta que usamos para postar os anúncios de desinformação eleitoral ainda estava ativa até informarmos ao TikTok”, afirmaram os cientistas.
Em resposta ao experimento, um porta-voz do TikTok disse que a rede social “é um lugar para conteúdo autêntico e divertido, e é por isso que proibimos e removemos informações erradas sobre eleições e publicidade política paga de nossa plataforma.”
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O Facebook também falhou em recusar publicações pagas com fake news sobre as eleições dos EUA: 20% dos anúncios em inglês e 50% dos anúncios em espanhol foram aprovados na plataforma.
Os pesquisadores destacaram que houve inconsistência na aprovação ou rejeição dos anúncios. Publicações pagas com a data errada das eleições foram aprovadas em inglês, mas rejeitadas em espanhol, por exemplo.
Um porta-voz da Meta questionou os dados do estudo, alegando que eles “se basearam em uma amostra muito pequena de anúncios e não são representativos, dado o número de anúncios políticos que revisamos diariamente em todo o mundo”.
YouTube barra todos os anúncios com desinformação sobre eleições nos EUA
O YouTube foi a única plataforma entre as pesquisadas que rejeitou todos os anúncios com fake news sobre eleições nos EUA, além de deletar o canal fictício usado para fazer as propagandas.
Para os pesquisadores, isso é um sinal positivo de que a aplicação da política do YouTube em relação à desinformação eleitoral em anúncios nos EUA está funcionando — o que não acontece em outras partes do mundo, incluindo o Brasil:
“Embora isso seja uma boa notícia para os Estados Unidos, a incapacidade do YouTube de detectar desinformação semelhante relacionada a eleições no Brasil – aprovando 100% dos anúncios testados lá – mostra que ainda existem grandes lacunas na aplicação internacional de suas políticas.”
Em um experimento semelhante realizado antes do primeiro turno das eleições no Brasil, o Facebook e o YouTube aceitaram todos os anúncios contendo desinformação, o que, para os pesquisadores, demonstra que a fiscalização da plataforma contra fake news políticas fora dos EUA é “deficiente”.
Procurado pela ONG que conduziu o estudo, o Google não comentou os resultados da pesquisa.
“Durante anos, vimos processos democráticos importantes serem minados pela desinformação, mentiras e ódio sendo disseminados nas plataformas de mídia social – as próprias empresas afirmam reconhecer o problema”, diz Jon Lloyd, consultor sênior da Global Witness. “Mas esta pesquisa mostra que eles simplesmente não estão fazendo o suficiente para impedir que ameaças à democracia surjam em suas plataformas.”
“Inventar a tecnologia e depois lavar as mãos do impacto não é um comportamento responsável dessas grandes empresas que estão arrecadando milhões de dólares.
Já é hora de eles colocarem ordem e começarem a fornecer recursos adequados para a detecção e prevenção de desinformação, antes que seja tarde demais.”
Depois que as plataformas informaram sobre a aceitação ou recusa dos anúncios, todos foram excluídos pelos pesquisadores para que não fossem publicados.
“A detecção de desinformação eleitoral pelo YouTube mostra que é possível detectar e interromper a desinformação eleitoral, enquanto a falha do Facebook e do TikTok é preocupante”, destacam.
Por isso, a ONG recomenda que as plataformas aumentem os recursos de moderação de conteúdo e garantam que eles sejam iguais em todo o mundo.
Especificamente para o YouTube, o estudo sugere o “aumento dos recursos de moderação de conteúdo em todo o mundo, para garantir que a experiência nos EUA seja a norma em todos os lugares, e não a exceção.”
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