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Com ataque a imigrantes, policial é o primeiro condenado na Espanha por fake news nas redes sociais

Condenado fake news Espanha Barcelona

Londres – Um policial da Guarda Civil de Barcelona tornou-se nesta terça-feira (8) a primeira pessoa na Espanha a ser condenada à prisão por usar as mídias sociais para espalhar fake news.

Utilizando um vídeo de uma tentativa de estupro ocorrida na China, o agente deliberadamente inventou que as imagens mostravam a agressão sexual praticada por um jovem marroquino contra uma moradora de Canet de Mar, uma cidade vizinha à Barcelona.

O tribunal concluiu que o policial, identificado apenas pelas iniciais J.M., estava espalhando fake news motivado por seu ódio pelos imigrantes marroquinos.

Post juntou cenas reais com fake news

O post enganoso, que foi visualizado mais de 21 mil vezes antes de ser retirado do ar, foi publicado na conta do Twitter do réu em 2019, alguns dias depois de uma mulher ter sido realmente estuprada em Canet de Mar.

Mas, na verdade, as imagens utilizadas para ilustrar a agressão na cidade espanhola foram originalmente captadas por uma câmera de segurança na China.

A gravação, com 45 segundos de duração, mostra um homem atacando uma mulher com quinze socos na cabeça, seguidos de sete chutes até deixá-la inconsciente. Depois de tentar abaixar as calças da vítima, o agressor a puxa pelos cabelos e a arrasta pelo chão.

A divulgação das imagens foi feita inicialmente pelas autoridades chinesas, convocando a população a fornecer informações que pudessem identificar o autor das agressões.

Apesar de saber que tudo não passava de fake news, o policial escreveu no post:

“Aqui vocês têm o vídeo do menor marroquino de Canet de Mar, um dos que teremos que sustentar até os 23 anos.

A propósito, os ataques destes energúmenos marroquinos não saem na mídia”.

Post fake news Barcelona homem condenado

Condenado por fake news a 15 meses de prisão

De acordo com a acusação da promotoria, que o réu admitiu, seu perfil no Twitter continha várias publicações de natureza xenófoba e racista, com manifestações discriminatórias contra os imigrantes em geral, todas contrárias à presença de estrangeiros na Espanha.

Os promotores reproduziram vários exemplos dessas publicações, sempre buscando associar os imigrantes, principalmente os de origem marroquina, a atos violentos, além da divulgação de símbolos usados pela extrema direita e citações de líderes da Ku Klux Klan.

O policial reconheceu sua culpa e aceitou um acordo proposto pela Promotoria, que lhe impôs uma condenação de 15 meses de prisão e uma multa de 1620 euros (R$ 8,4 mil), além da obrigação de fechar suas contas nas redes sociais – o que ele já havia feito antes do julgamento.

Processo disciplinar pode aumentar punição

Por ser réu primário, o policial não ficará preso, beneficiado pela lei espanhola que suspende a punição em sentenças inferiores a dois anos nos casos de condenados sem antecedentes criminais.

Em contrapartida, o tribunal ordenou que o condenado frequente um curso de direitos humanos e de não discriminação, além de se abster de comentários discriminatórios durante o período de suspensão da pena.

Mas a punição ao policial não deve parar por aí.

No dia seguinte à condenação criminal, a Guarda Civil de Barcelona anunciou a abertura de um processo disciplinar que poderá levar à perda do cargo.

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