Londres – O jornal britânico The Guardian liderou nesta terça-feira (15) um movimento integrado por mais de 30 organizações de mídia de mais de vinte países com a publicação de um corajoso editorial cobrando ação imediata dos líderes mundiais que participam da COP27 para amenizar os efeitos da crise climática, movimento chamado de ‘perdas e danos’.

O editorial sugere o perdão das dívidas dos países na linha de frente da emergência climática, pede a criação de um imposto climático sobre as empresas de combustíveis fósseis e exige o cumprimento da promessa pendente desde 2020, de repassar US$ 100 bilhões por ano aos países em desenvolvimento para que possam enfrentar os efeitos da crise ambiental. 

O texto foi publicado no mesmo dia em que o presidente eleito Lula chegou à COP27, tendo como um dos encontros marcados uma reunião com o enviado especial dos EUA, Jonh Kerry, que poderá definir investimentos do país na preservação da Amazônia. 

A visão das organizações de mídia sobre perdas e danos durante a COP27 

O editorial publicado em conjunto não aborda questões específicas de países, mas é um chamado às nações mais desenvolvidas por ações que permitam compensar o impacto das emissões de carbono. Veja o texto: 

A crise climática é um problema global que requer cooperação entre todas as nações. É por isso que hoje mais de 30 jornais e organizações de mídia em mais de 20 países adotaram uma visão comum sobre o que precisa ser feito.

O tempo está acabando. Em vez de abandonar os combustíveis fósseis e optar pela energia limpa, muitas nações ricas estão reinvestindo em petróleo e gás.

Assim, não conseguirão cortar as emissões de forma rápida o suficiente, enquanto regateiam a ajuda que deveriam dar aos países pobres. Tudo isso enquanto o planeta se aproxima do ponto de não retorno – onde o caos climático se torna irreversível.

Desde a COP26 em Glasgow há 12 meses, os países prometeram fazer apenas um quinquagésimo do que é necessário para permanecer no caminho certo para manter as temperaturas dentro de 1,5 ºC dos níveis pré-industriais.

Nenhum continente ficou livre de desastres climáticos extremos este ano – de inundações no Paquistão a ondas de calor na Europa, e de incêndios florestais na Austrália a furacões nos Estados Unidos.

Considerando que isso aconteceu com temperaturas elevadas por enquanto em cerca de 1,1 ºC, o mundo pode esperar por consequências muito piores.

À medida que muitas nações buscam reduzir sua dependência da Rússia, o mundo está passando por uma nova “corrida do ouro” por projetos de combustíveis fósseis.

Estes são lançados como medidas temporárias de fornecimento, mas correm o risco de prejudicar o planeta com danos irreversíveis.

Tudo isso reforça a convicção de que a humanidade tem que abandonar seu vício em combustíveis fósseis. Se a energia renovável fosse a norma, não haveria crise climática.

As pessoas mais pobres do mundo suportarão o peso da destruição causada pela seca, pelo derretimento dos mantos de gelo e pelas quebras das safras.

Para proteger as vidas e os meios de subsistência desses grupos, será necessário dinheiro. Os países em desenvolvimento, demonstra um relatório apresentado na COP27, precisam de US$ 2 trilhões por ano para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e lidar com a crise climática.

Os países ricos representam apenas uma em cada oito pessoas no mundo hoje, mas são responsáveis por metade dos gases de efeito estufa. Essas nações têm uma clara responsabilidade moral de ajudar.

As nações em desenvolvimento devem receber dinheiro suficiente para lidar com as condições perigosas que pouco fizeram para criar – especialmente à medida que uma recessão global se aproxima.

As nações ricas devem cumprir a promessa de fundos previamente comprometidos – como os US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020 – para sinalizar sua seriedade.

Como medida mínima, devem impor um imposto imediato sobre os lucros combinados das maiores empresas de petróleo e gás – estimado em quase US$ 100 bilhões nos primeiros três meses do ano.

As Nações Unidas estavam certas ao pedir que o dinheiro fosse usado para apoiar os mais vulneráveis. Mas tal taxa seria apenas o começo.

As nações pobres também carregam dívidas que tornam impossível sua recuperação após desastres climáticos ou para se proteger de danos futuros. Os credores devem ser generosos ao cancelar dívidas daqueles na linha de frente da emergência climática.

Essas medidas não precisam esperar por uma ação internacional coordenada. Os países poderiam implementá-las por conta própria em níveis regional ou nacional.

As emissões cumulativas de uma nação devem ser a base de sua responsabilidade de agir. Embora as finanças privadas possam ajudar, o ônus para desembolsar o dinheiro é dos países grandes emissores históricos.

Veja quem aderiu à iniciativa

O país com mais adesão é os EUA, mas nenhum dos grandes jornais do país republicou o editorial. O mais influente da lista é o Miami Herald. 

Em seguida aparece a Grécia, nação castigada por incêndios florestais. Três jornais do país publicaram o texto conjunto. 

Veja a lista completa: 

Mail & Guardian (África do Sul); Camunda News (Angola); National Observer (Canadá); El Espectador (Colômbia); Politiken (Dinamarca); elDiario.es (Espanha); Covering Climate Now, Miami Herald, The Nation e Rolling Stone (Estados Unidos), Rappler (Filipinas); Libération e Mediapart (França); Efimerida ton Syntakton, Kathimerini e Protagon (Grécia); Telex (Hungria); The Hindu (Índia); Tempo (Indonésia); Irish Examiner e Irish Independent (Irlanda), Haaretz (Israel); La Reppubblica (Itália); The Gleaner (Jamaica); Macaranga (Malásia); Reforma (México); Centre for Journalism Innovation & Development (Nigéria); Pacific Environment Weekly (Pacific Islands); Gazeta Wyborcza (Polônia); Público (Portugal); Daily Mirror e The Guardian (Reino Unido); T&T Guardian (Trinidad e Tobago) e a publicação internacional The Environmental Reporting Collective.