Londres -Muitos atribuem a atual figura de Papai Noel à Coca-Cola, que em 1931 lançou uma campanha publicitária estrelada por um velhinho sorridente de barbas branca e roupa vermelha, supostamente inspirado em São Nicolau – mas sua origem vem de muito mais longe.
Entre o santo caridoso que viveu no século IV e o bom velhinho atual, o personagem foi muitas vezes representado de forma parecida com a imagem popularizada pela marca de refrigerantes, até mesmo para outras marcas comerciais.
O projeto sem fins lucrativos The Public Domain Review, que há mais de dez anos se dedica a resgatar imagens da história da arte e da literatura que caíram em domínio público, fez um levantamento da figura e da “persona” Papai Noel, identificando suas primeiras origens no século XIII e acompanhando a evolução ao longo do tempo.
Século XIII: na Holanda, a origem de Santa Claus
Segundo o The Public Domain Review, o nome Santa Claus, como Papai Noel é conhecido na língua inglesa, tem suas raízes no nome holandês informal para São Nicolau, Sinterklaas (uma abreviação de Sint Nikolaas).
São Nicolau, que teria nascido na Turquia e morrido em Bari, era um bispo que tinha a reputação de dar presentes secretos e colocar moedas nos sapatos deixados para ele. A história mostra que a inspiração do Papai Noel desenhado por Haddon Sundblom para a Coca-Cola provavelmente não foi diretamente o santo.
Este quadro do pintor Jan Steen, que está no Rijksmuseum de Amsterdã, não mostra Sinterklaas “em pessoa”, mas retrata a menina que acaba de receber presentes por ter se comportado bem, enquanto seu irmão está com o sapato vazio.
Uma mulher com outra criança no colo aponta para a chaminé de onde o bom velhinho teria vindo.
Todas essas características também o ligam à lenda de Odin, um deus que era adorado entre os povos germânicos no norte e oeste da Europa antes da cristianização, segundo o guia visual do The Public Domain Review.
Embora na Europa a festa de São Nicolau, no dia 6 de dezembro, tenha sido muito popular durante a Idade Média, após a Reforma religiosa no século XVI a celebração desapareceu na maioria dos países protestantes.
Uma das exceções é a Holanda, onde o culto ao Sinterklaas sobreviveu até os dias de hoje. Grandes celebrações são feitas em várias cidades para recepcionar o personagem, que muitos holandeses fazem questão de dizer que não é Papai Noel.
Século 17: O Pai Natal inglês
Outra importante influência para a imagem do Papai Noel foi Father Christmas (Pai Natal, também conhecido como Velho Pai Natal e Senhor Natal), personagem tradicional do folclore inglês.
Ele normalmente representava o espírito de bom humor no Natal, mas não era associado a crianças ou a trazer presentes.
Acredita-se que os primeiros exemplos ingleses da personificação do Natal venham de uma canção do século XV que se refere a um “Sire Christmas”.
A imagem acima é de The Examination and Tryal of Father Christmas (1686), de Josiah King, publicado logo após o Natal ter sido restabelecido como um dia santo na Inglaterra depois de ter sido banido como um símbolo de “superstição católica e auto-indulgência ímpia .”
Mesmo sem os elementos da personalidade do atual Papai Noel, os trajes e a barba lembram mais figura contemporânea do que o São Nicolau das imagens sacras.
1810: Papai Noel cruza o Atlântico
Embora a costa leste da América estivesse cheia de colonos holandeses, apenas no início do Século XIX a figura de “Sinterklaas” cruzou o Atlântico e deu origem ao Papai Noel americanizado, bem antes de a Coca-Cola criar sua campanha.
Após a Guerra Revolucionária, a cidade de Nova York, já fortemente influenciada pelos holandeses (anteriormente chamada de Nova Amsterdã), viu uma nova onda de interesse nos costumes holandeses e, com eles, São Nicolau.
Em 1804, John Pintard, um influente patriota e antiquário, fundou a Sociedade Histórica de Nova York e estabeleceu São Nicolau como santo padroeiro da organização e da cidade.
Em 6 de dezembro de 1810, a Sociedade ofereceu seu primeiro jantar de aniversário de São Nicolau. Pintard contratou o artista Alexander Anderson para desenhar uma imagem do santo, a ser entregue no jantar.
No retrato, ele ainda era mostrado como uma figura religiosa, mas também estava claramente depositando presentes em meias ao lado da lareira, ato associado a recompensar a bondade das crianças.
Ainda que o “dia de São Nicolau” nunca tenha decolado da maneira que Pintard queria, a imagem de “Sancte Claus” de Anderson ficou famosa.
1864: Cores variadas para o traje de Papai Noel
1868: Roupa ameixa para um Papai Noel sem calças
A Coca-Cola não foi a primeira a usar a imagem de Papai Noel para promover seus produtos.
Neste anúncio de 1868, de um fabricante de doces de ameixa associados ao Natal, ele aparece com traje na cor da fruta e chapéu verde. Na pressa, parece ter esquecido de vestir as calças, trajando apenas ceroulas. Trenó e renas estão lá.
1881: Crítica política em figura parecida com a que foi popularizada pela Coca-Cola
Nesta ilustração de 1881 de Thomas Nast chamada “Merry Old Santa”, o personagem Papai Noel moderno começa a tomar forma, aproximando-se da figura desenhada para a Coca-Cola.
A crítica política está presente. Ele leva nas costas uma mochila do exército, como a utilizada pelos soldados. O horário marcado no relógio simboliza o pouco tempo que o Congresso tinha para votar um aumento para os soldados, segundo historiadores.
1902, Papai Noel em livros
1906, o velhinho em propaganda no Canadá
1913: na capa da revista dos escoteiros
O ilustrador Norman Rockwell é autor de muitas representações do Papai Noel durante a década de 20, contribuindo para consolidar o visual moderno do personagem.
Na capa desta revista publicada antes da Primeira Guerra Mundial, a figura é bem próxima da imagem dos dias de hoje.
1914: Bem antes da Coca-Cola, Papai Noel em gravura japonesa
Uma ilustração japonesa de 1914, de um artista desconhecido, mostra que a propagação da lenda do Papai Noel alcançou muito mais do que apenas a Europa e a América em uma era em que a publicidade ainda não havia difundido a imagem do bom velhinho.
1930, em revista na Austrália
Em outro postar, a mensagem é mais otimista mas ainda marcada pelo drama da guerra, desejando Boas Festas “a você e aos seus, não importa onde eles estejam”, votos que continuam válidos até os dias de hoje.
As imagens são de domínio público, resgatadas em arquivos pelo projeto The Public Domain Review.
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