Londres – Em entrevista ao podcast All-In na vĂ©spera de Natal, Elon Musk tentou reverter as notĂ­cias desfavorĂĄveis sobre a saĂșde financeira do Twitter, avisando que a plataforma ainda nĂŁo estĂĄ segura, mas nĂŁo estĂĄ mais Ă  beira da falĂȘncia, como ele prĂłprio havia sugerido semanas atrĂĄs. 

Mas nem todos acreditam, e a RepĂłrteres Sem Fronteiras (RSF) apresentou uma proposta ousada para a crise na plataforma, aproveitando-se de declaraçÔes do prĂłprio Musk: a compra pelo que chamou de ‘clube de democracias’, apoiado e financiado por paĂ­ses e organizaçÔes, incluindo a UniĂŁo Europeia. 

“Como o Twitter parece ter se tornado uma batata quente para Musk, que agora teme que a empresa vĂĄ Ă  falĂȘncia, ele pode estar interessado em discutir essa possibilidade”, cutucou a RSF. 

Para a entidade de defesa da liberdade de imprensa, “o comportamento precipitado e arbitrĂĄrio de Elon Musk como chefe do Twitter estĂĄ colocando em risco uma plataforma central para o acesso Ă  informação e ao debate e, acima de tudo, pondo em risco os princĂ­pios democrĂĄticos”. 

FalĂȘncia do Twitter mais longe, diz Musk 

Depois de sair derrotado na pesquisa que ele prĂłprio realizou para saber se deveria continuar Ă  frente do Twitter, Musk ficou mudo durante quase um dia, jĂĄ que tinha prometido respeitar qualquer resultado. 

A saĂ­da encontrada foi informar que sairia assim que encontrasse “um tolo o suficiente” para aceitar o cargo de CEO. E sinalizou que continuaria como responsĂĄvel pela engenharia. 

Musk nĂŁo tuitou diretamente sobre as finanças do Twitter, mas num comentĂĄrio sobre o tweet do YouTuber de  tecnologia Farzad Mesbahi, deu mais visibilidade ao que havia afirmado no podcast All-In. 

No All-In, Musk comentou sobre a polĂȘmica suspensĂŁo de jornalistas, que acabou sendo revertida. Ele continua afirmando que o bloqueio se deveu ao ato de doxxing (publicação de notĂ­cias sobre a localização de uma pessoa). 

Mas jornalistas e organizaçÔes protestaram, jĂĄ que os suspensos haviam, na verdade, publicado notĂ­cias sobre a exclusĂŁo da conta @ElonJet, que posta as viagens do jatinho do empresĂĄrio. E todos eram crĂ­ticos de sua gestĂŁo. 

A RepĂłrteres Sem Fronteiras Ă© uma das entidades de liberdade de imprensa que vem alertando sobre os riscos da condução do Twitter por Elon Musk, que assumiu prometendo mais liberdade de expressĂŁo na plataforma. 

Enquanto ele garante que o conteĂșdo nocivo ou ilegal diminui, organizaçÔes que fazem monitoramento em redes sociais atestam crescimento de racismo e discurso de Ăłdio. 

Proposta ambiciosa 

Agora, a RSF estĂĄ indo alĂ©m das reclamaçÔes, com uma proposta que considera mais ambiciosa e mais vantajosa para o interesse pĂșblico. 

Um grupo de democracias poderia adquirir uma participação majoritĂĄria no Twitter, ou pelo menos grande o suficiente para ter capacidade de bloqueio de certas medidas. 

Outra alternativa seria a criação de uma fundação internacional de mĂ­dia social que se tornaria dona do Twitter. 

No primeiro caso, um pacto de acionistas garantiria a governança democrĂĄtica. No segundo caso, os estatutos forneceriam salvaguardas para evitar qualquer interferĂȘncia polĂ­tica.

“A era pĂłs-Musk deve ser aquela em que as mĂ­dias sociais servem ao interesse pĂșblico â€, disse o secretĂĄrio-geral da RSF, Christophe Deloire, que defende a proteção do Twitter contra “arbitrariedades ou interferĂȘncias indevidas”:

“Tanto as entidades estatais quanto as do setor privado podem, Ă© claro, servir ao interesse pĂșblico. 

Em termos de liberdade de opiniĂŁo e expressĂŁo, tal serviço deve ser regido por princĂ­pios democrĂĄticos, sem riscos de arbitrariedades ou interferĂȘncias indevidas. 

A velocidade com que este bilionĂĄrio minou o Twitter deveria levar as democracias a responder mais rapidamente e financiar a aquisição da plataforma de mĂ­dia social, a fim de colocĂĄ-la a serviço da liberdade de opiniĂŁo e expressĂŁo, incluindo o direito Ă  informação.”

Pela proposta da RSF, uma fundação financiada por contribuiçÔes internacionais teria a tarefa de promover o surgimento de mĂ­dias sociais democrĂĄticas, respeitosas aos direitos humanos e ao acesso a informaçÔes confiĂĄveis: 

“Sua independĂȘncia seria garantida e seu conselho fiscal incluiria autoridades independentes.

objetivo seria garantir que as tecnologias de comunicação, como as mĂ­dias sociais, atendam ao interesse pĂșblico.”

A UniĂŁo Europeia, que se manifestou duramente quando os jornalistas tiveram suas contas suspensas, foi citada pela RepĂłrteres Sem Fronteiras como “componente importante da iniciativa”, independentemente da forma que ela assuma. 

A ideia Ă© que a prĂłpria UE ou alguns de seus estados membros façam um investimento em conjunto com outros paĂ­ses democrĂĄticos “incluindo, Ă© claro, os Estados Unidos”. 

A organização comparou a ideia Ă  uniĂŁo de democracias lĂ­deres para responder aos riscos sistĂȘmicos do sistema bancĂĄrio:

“Nesse caso, hĂĄ um risco sistĂȘmico para o espaço pĂșblico online, e atĂ© para a democracia.”

Para a RSF, as “acrobacias de relaçÔes pĂșblicas” de Elon Musk mostraram a rapidez com que a comunicação online e o espaço de informação podem ser degradados:

“Essas tecnologias sĂŁo essenciais para o fluxo de informaçÔes e, portanto, nĂŁo podem estar sujeitas ao capricho, ideologias ou interesses comerciais de proprietĂĄrios individuais”.

Em sua mais recente enquete, no dia 23 de dezembro, o dono do Twitter perguntou aos usuårios se queriam o novo contador de visualizaçÔes de postagens à direita ou à esquerda da tela.

Venceu mover para a direita. E ele nĂŁo deixou passar a oportunidade de fazer mais uma provocação, com um “entĂŁo vocĂȘs preferem a direita?”, seguido de risos.