Londres – Em entrevista ao podcast All-In na véspera de Natal, Elon Musk tentou reverter as notícias desfavoráveis sobre a saúde financeira do Twitter, avisando que a plataforma ainda não está segura, mas não está mais à beira da falência, como ele próprio havia sugerido semanas atrás.
Mas nem todos acreditam, e a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) apresentou uma proposta ousada para a crise na plataforma, aproveitando-se de declarações do próprio Musk: a compra pelo que chamou de ‘clube de democracias’, apoiado e financiado por países e organizações, incluindo a União Europeia.
“Como o Twitter parece ter se tornado uma batata quente para Musk, que agora teme que a empresa vá à falência, ele pode estar interessado em discutir essa possibilidade”, cutucou a RSF.
Para a entidade de defesa da liberdade de imprensa, “o comportamento precipitado e arbitrário de Elon Musk como chefe do Twitter está colocando em risco uma plataforma central para o acesso à informação e ao debate e, acima de tudo, pondo em risco os princípios democráticos”.
Falência do Twitter mais longe, diz Musk
Depois de sair derrotado na pesquisa que ele próprio realizou para saber se deveria continuar à frente do Twitter, Musk ficou mudo durante quase um dia, já que tinha prometido respeitar qualquer resultado.
A saída encontrada foi informar que sairia assim que encontrasse “um tolo o suficiente” para aceitar o cargo de CEO. E sinalizou que continuaria como responsável pela engenharia.
Musk não tuitou diretamente sobre as finanças do Twitter, mas num comentário sobre o tweet do YouTuber de tecnologia Farzad Mesbahi, deu mais visibilidade ao que havia afirmado no podcast All-In.
Twitter isn’t secure yet, just not in the fast lane to bankruptcy. Still much work to do.
— Elon Musk (@elonmusk) December 25, 2022
No All-In, Musk comentou sobre a polêmica suspensão de jornalistas, que acabou sendo revertida. Ele continua afirmando que o bloqueio se deveu ao ato de doxxing (publicação de notícias sobre a localização de uma pessoa).
Mas jornalistas e organizações protestaram, já que os suspensos haviam, na verdade, publicado notícias sobre a exclusão da conta @ElonJet, que posta as viagens do jatinho do empresário. E todos eram críticos de sua gestão.
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A Repórteres Sem Fronteiras é uma das entidades de liberdade de imprensa que vem alertando sobre os riscos da condução do Twitter por Elon Musk, que assumiu prometendo mais liberdade de expressão na plataforma.
Enquanto ele garante que o conteúdo nocivo ou ilegal diminui, organizações que fazem monitoramento em redes sociais atestam crescimento de racismo e discurso de ódio.
Proposta ambiciosa
Agora, a RSF está indo além das reclamações, com uma proposta que considera mais ambiciosa e mais vantajosa para o interesse público.
Um grupo de democracias poderia adquirir uma participação majoritária no Twitter, ou pelo menos grande o suficiente para ter capacidade de bloqueio de certas medidas.
Outra alternativa seria a criação de uma fundação internacional de mídia social que se tornaria dona do Twitter.
No primeiro caso, um pacto de acionistas garantiria a governança democrática. No segundo caso, os estatutos forneceriam salvaguardas para evitar qualquer interferência política.
“A era pós-Musk deve ser aquela em que as mídias sociais servem ao interesse público ”, disse o secretário-geral da RSF, Christophe Deloire, que defende a proteção do Twitter contra “arbitrariedades ou interferências indevidas”:
“Tanto as entidades estatais quanto as do setor privado podem, é claro, servir ao interesse público.
Em termos de liberdade de opinião e expressão, tal serviço deve ser regido por princípios democráticos, sem riscos de arbitrariedades ou interferências indevidas.
A velocidade com que este bilionário minou o Twitter deveria levar as democracias a responder mais rapidamente e financiar a aquisição da plataforma de mídia social, a fim de colocá-la a serviço da liberdade de opinião e expressão, incluindo o direito à informação.”
Pela proposta da RSF, uma fundação financiada por contribuições internacionais teria a tarefa de promover o surgimento de mídias sociais democráticas, respeitosas aos direitos humanos e ao acesso a informações confiáveis:
“Sua independência seria garantida e seu conselho fiscal incluiria autoridades independentes.
O objetivo seria garantir que as tecnologias de comunicação, como as mídias sociais, atendam ao interesse público.”
A União Europeia, que se manifestou duramente quando os jornalistas tiveram suas contas suspensas, foi citada pela Repórteres Sem Fronteiras como “componente importante da iniciativa”, independentemente da forma que ela assuma.
A ideia é que a própria UE ou alguns de seus estados membros façam um investimento em conjunto com outros países democráticos “incluindo, é claro, os Estados Unidos”.
A organização comparou a ideia à união de democracias líderes para responder aos riscos sistêmicos do sistema bancário:
“Nesse caso, há um risco sistêmico para o espaço público online, e até para a democracia.”
Para a RSF, as “acrobacias de relações públicas” de Elon Musk mostraram a rapidez com que a comunicação online e o espaço de informação podem ser degradados:
“Essas tecnologias são essenciais para o fluxo de informações e, portanto, não podem estar sujeitas ao capricho, ideologias ou interesses comerciais de proprietários individuais”.
Em sua mais recente enquete, no dia 23 de dezembro, o dono do Twitter perguntou aos usuários se queriam o novo contador de visualizações de postagens à direita ou à esquerda da tela.
Venceu mover para a direita. E ele não deixou passar a oportunidade de fazer mais uma provocação, com um “então vocês preferem a direita?”, seguido de risos.
So you’re saying you prefer the right? Heheh
— Elon Musk (@elonmusk) December 23, 2022
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