Londres – Mesmo com os mais importantes trechos antecipados pela imprensa desde a semana passada, como a polêmica sobre a morte de 25 membros do Talibã na guerra do Afeganistão, o livro de memórias do príncipe Harry bateu o recorde entre obras de não ficção no Reino Unido no primeiro dia de vendas.
A Transworld Penguin Randon House anunciou que mais de 400 mil exemplares de Spare foram vendidos na terça-feira (10) nos formatos de capa dura, e-book e áudio
“Sempre soubemos que este livro iria decolar, mas está superando até mesmo nossas expectativas mais otimistas”, disse o diretor-gerente da editora, Larry Finlay, em comunicado.
Em uma das entrevistas que têm dado nos EUA para promover o livro, Harry colocou sobre a imprensa a responsabilidade pela repercussão negativa da revelação sobre morte de integrantes do Talibã quando serviu no Afeganistão, afirmando que ela foi tirada do contexto e que sua intenção era ‘evitar suicídio de veteranos’.
Pelos números anunciados pela editora, as controvérsias provocadas pelo vazamento de trechos para a mídia e até do volume completo, que foi vendido por algumas horas na Espanha na semana passada, podem ter ajudado a criar interesse sobre Spare.
Sem filas para comprar livro de Harry
Livrarias e lojas da rede de conveniência WH Smith abriram mais cedo (algumas à meia-noite) para atender clientes ávidos por comprar o livro, mas não foram registradas filas. Em algumas, havia mais jornalistas do que clientes.
A primeira a comprar foi Sarah Nakana, uma mulher de 46 anos que virou celebridade na mídia, entrevistada por jornais e TVs.
Ela se mostrou simpática à narrativa de Harry sobre a imprensa, afirmando ter certeza que a mídia usou sensacionalismo para tornar alguns trechos piores do que de fato são.
Ainda que não tenham sido registradas filas, a obra é vendida online por várias livrarias, incluindo a eficiente Amazon.
Spare já estava em pré-venda há várias semanas, e muitos devem ter recebido seu exemplar no dia do lançamento.
A redução do preço também pode ter ajudado a incentivar os clientes. O valor inicial era de £ 28, mas Spare está sendo vendido com desconto, pela metade do preço, o que a editora diz ser uma prática comum.
O duque de Sussex não sai das manchetes desde a semana passada, quando clipes de entrevistas e trechos vazados do livro de memórias começaram a ser divulgados.
Entre as revelações estão a de que o irmão William o agrediu fisicamente, a de que os dois pediram ao pai para não casar com a atual rainha consorte Camilla, a de que a primeira relação sexual foi com uma misteriosa mulher mais velha em um campo ao lado de um pub e a conta de 25 talibãs mortos durante a guerra, comparados a “peças de xadrez”.
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Para Harry, culpa da polêmica sobre Talibã é da imprensa
Em entrevista ao talk-show de Stephen Colbert, The Late Show, Harry voltou a recamar da imprensa, que segundo ele interpretou suas palavras sobre a atuação na guerra “fora do contexto”.
Antes de falar do assunto, ele pergunta se há veteranos de guerra na plateia, e recebe aplausos de alguns deles.
"Without a doubt, the most dangerous lie that they have told, is that I somehow boasted about the number of people I killed in Afghanistan." — Prince Harry tells #Colbert, adding that his "words are not dangerous," but the spin on his "words are very dangerous." #Spare pic.twitter.com/FnjEZ0QnQl
— The Late Show (@colbertlateshow) January 10, 2023
Depois de se queixar de vazamentos de trechos do livro, ele disse que a imprensa distorceu suas afirmações, sugerindo que ele teria se vangloriado das mortes.
“Sem dúvida, a mentira mais perigosa que eles contaram é que de alguma forma eu me gabei do número de pessoas que matei no Afeganistão.”
Harry chamou a forma como a mídia relatou a história de “perigosa”.
“Minhas palavras não são perigosas, mas a distorção delas é”.
O príncipe afirmou a Colbert que seu objetivo era ser honesto sobre a experiência no Afeganistão e estimular os veteranos a também compartilharem suas vivências dolorosas na guerra, a fim de reduzir a taxa de suicídios entre eles.
No livro, ele diz que a estatística não o enche de orgulho, mas também não o envergonha. Harry relatou que durante a confusão na batalha, não pensava nos inimigos como pessoas, caso contrário não poderia matá-las.
E comparou-as à peças de um tabuleiro de xadrez eliminadas do tabuleiro, “bandidos antes de matarem os mocinhos”.
Embora a mídia internacional, inclusive a americana, tenha dado amplo espaço à revelação de Harry sobre o número de membros do Talibã eliminados por ele e reproduzido trechos longos, o príncipe culpou diretamente a imprensa britânica pelo que considera distorção.
E afirmou que a imprensa de seu país tentou desvalorizar as histórias contadas por ele, com a ajuda do Palácio de Buckingham.
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Harry disse esperar que ao ler a obra completa, o público entenda o real contexto do que ele afirmou sobre as mortes.
O apresentador se demonstrou simpático à tese de Harry, comentando que o livro narra a passagem como uma forma de lutar contra o mal, e recordou que a história de quantos membros do Talibã o príncipe tinha matado não era nova, tendo sido publicada na mídia há 10 anos.
Assim que foram reveladas, as declarações sobe morte de Talibãs no livro foram comentadas por importantes líderes militares, que falaram à imprensa abertamente sobre o que alguns consideraram “propaganda para o inimigo” e prática incomum entre soldados.
Harry lamentou também que a suposta distorção feita pela mídia tenha deixado sua família em perigo. O Talibã se manifestou duramente contra as declarações contidas no livro Spare, cobrando julgamento do príncipe por uma corte criminal internacional.
Pesquisa divulgada esta semana pelo instituto YouGov mostrou que Harry perdeu popularidade entre os britânicos após as notícias sobre o livro começarem a ser veiculadas.
O mesmo aconteceu com o Príncipe Harry e o príncipe Charles. O Palácio de Buckingham não fez comentários sobre as afirmações contidas no livro.
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