Uma pesquisa feita com base na análise de quase seis mil notícias políticas produzidas por mídias partidárias e não partidárias nos EUA fez três grandes descobertas sobre como elas atingem os leitores.
A primeira é que meios de comunicação extremistas – independentemente de terem um viés conservador ou liberal – tendem a usar frases mais curtas e linguagem menos formal do que veículos apartidários.
Outro achado que é que as empresas jornalísticas tradicionais escrevem textos apropriados a pessoas com nível de leitura mais avançado. Por exemplo: as matérias da agência de notícias Reuters analisadas foram escritas no nível de compreensão para alguém que completou um ano e meio de faculdade, em média.
Enquanto isso, a Wonkette, uma publicação online de extrema esquerda, escreve em um nível de leitura adequado para a nona série do ensino americano. A American Thinker, uma publicação online de extrema direita, escreve no nível do décimo primeiro ano.
A terceira descoberta do estudo é que os veículos de extrema direita e extrema esquerda assumem um tom mais negativo do que os veículos apartidários. Eles geralmente apresentam uma proporção menor de palavras positivas em comparação às negativas.
Estudo avaliou conteúdo de mídias partidárias e apartidárias
Os pesquisadores descrevem suas descobertas em um artigo na revista Journalism Studies, “At the Extremes: Assessing Readability, Grade Level, Sentiment, and Tone in US Media Outlets” (Nos extremos: avaliando a legibilidade, o nível de ensino, o sentimento e o tom nos meios de comunicação dos EUA).
Embora as descobertas se apliquem apenas aos 20 meios de comunicação estudados, elas fornecem indicações sobre como eles diferem entre si e por que uma parte do público busca informações na mídia partidária, que muitas vezes não segue a ética ou as normas do jornalismo profissional.
A ex-jornalista e atual pesquisadora Jessica F. Sparks, principal autora do trabalho, diz que as pessoas geralmente preferem uma linguagem mais simples e fácil de entender.
O estudo fornece informações sobre “o que profissionais de empresas jornalísticas respeitáveis podem querer considerar quando escrevem notícias sobre política fortemente partidária”, diz a pesquisadora.
Os meios de comunicação “hiperpartidários” usam palavras que uma parcela maior da população entende.
Eles também relatam questões e acontecimentos em termos mais simples – muitas vezes deixando de fora os principais fatos e contextos, especialmente quando isso beneficia um partido político em detrimento de outro, aponta Sparks.
“Nós, como humanos, somos o que chamamos de ‘avarentos cognitivos’. Existem pessoas que gostam de usar mais energia cognitiva, mas a maioria de nós não.
Assim, quando pensamos dessa forma, quando lemos um texto simplificado – especialmente um texto que enquadra as coisas como nós-contra-eles – é mais fácil processar isso do que [notícias que examinam] os complexos acontecimentos de Washington”.
Estudo analisou quase seis mil notícias
Sparks, estudante de doutorado na Universidade da Flórida, e o coautor do trabalho Jay Hmielowski, professor associado da Faculdade de Jornalismo e Comunicações da UF, analisaram 5.847 notícias publicadas durante três períodos de uma semana no início de 2021.
Eles analisaram apenas notícias que não são protegidas por paywalls (abertas apenas a assinantes), em parte porque queriam se concentrar na cobertura acessível a qualquer pessoa.
Os pesquisadores examinaram a cobertura política feita por diversos tipos de mídia, incluindo digitais e agências de notícias.
Dos 20 meios estudados, sete eram apartidários. Três eram veículos de extrema esquerda, dois eram de extrema direita e oito veículos produziram notícias que tendiam a se inclinar um pouco para a direita ou para a esquerda.
Sparks e Hmielowski determinaram o viés da mídia com base em informações coletadas de três sites de classificação de notícias: AllSides, Ad Fontes Media e Media Bias/Fact Check.
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Eles avaliaram a negatividade da cobertura de cada veículo com o Readable, uma ferramenta que compara o número de palavras negativas – “contundente” e “proibido”, por exemplo – com palavras positivas – como “realizado” e “ótimo” – em um texto.
O Readable avaliou a formalidade das notícias com base em fatores como estrutura da frase, prevalência de linguagem impessoal e formal e se pronomes pessoais como “nós” e “eu” apareciam na matéria.
Os pesquisadores contaram com duas escalas de legibilidade amplamente usadas, o Flesch-Kincaid Grade Level e o Gunning Fog Index, para determinar o nível de estudo necessário para entender as notícias produzidas por cada veículo.
Sparks diz que ficou surpresa ao encontrar semelhanças entre as organizações de mídia de extrema esquerda e extrema direita que analisou.
Ambos escreveram em um nível de ensino inferior e usaram uma linguagem mais simples e menos formal. “A maioria das pesquisas sugere que a mídia de direita é muito distinta de outras formas de mídia. E o que descobrimos é que isso não é necessariamente verdade no que se refere à legibilidade”, acrescenta ela.
Conselhos para jornalistas
Não está claro se as mídias partidárias intencionalmente tornam seu conteúdo mais fácil de ler e entender. Mas Sparks e Hmielowski indicam que sua legibilidade ajuda a diferenciá-los de organizações de notícias apartidárias.
“Se o público está buscando conteúdo que reflita suas atitudes e que se distancie do jornalismo convencional, os meios de comunicação partidários de ambos os lados do espectro político se beneficiam ao se diferenciarem tanto no conteúdo quanto no estilo de redação”, escreveram os pesquisadores.
“A estrutura da frase, a informalidade e o tom podem ser uma maneira de conseguir isso”. Sparks, cujas reportagens já foram publicadas em jornais como The Washington Post e Indianapolis Monthly.
Ela diz que é importante que os jornalistas que trabalham em redações apartidárias usem uma linguagem simples.
Mas eles também precisam fornecer ao público uma compreensão diferenciada do problema ou acontecimento sobre o qual estão escrevendo, mesmo que isso complique uma notícia.
Seu conselho aos repórteres: reserve um tempo para explicar os vários lados de uma questão. Se as mídias partidárias estão simplificando demais um problema, observe isso em sua cobertura.
“Acho que esse estudo nos dá uma ideia melhor do que estamos enfrentando e do que jornalistas de organizações respeitáveis podem querer considerar quando escrevem notícias sobre política fortemente partidária”, diz ela.
Denise-Marie Ordway Ingressou no The Journalist’s Resource em 2015, depois de trabalhar como repórter para jornais e estações de rádio nos EUA e na América Central, incluindo o Orlando Sentinel e o Philadelphia Inquirer. Seu trabalho também apareceu em publicações como USA TODAY, New York Times, Chicago Tribune e Washington Post.
Ordway tem vários prêmios nacionais, regionais e estaduais de jornalismo e foi nomeada como finalista do Prêmio Pulitzer em 2013 por uma série investigativa que liderou, focada em trotes aplicados por estudantes e outros problemas na Florida A&M University. Foi bolsista da Nieman Foundation for Journalism de Harvard e faz parte do conselho de administração da Education Writers Association.
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