Londres – O governo de Vladimir Putin reagiu furioso ao congelamento das contas bancárias da rede de mídia estatal RT na França, decretado na quinta-feira em decorrência de um pacote de sanções à Rússia decretado pela União Europeia em dezembro passado.
Neste sábado, a chefe da sucursal do canal, Xenia Fedorova, anunciou pelo Twitter que a redação, com mais de 120 profissionais, encerrou as operações.
“A Rússia tomará medidas retaliatórias contra a mídia francesa […] e elas serão muito perceptíveis, se as autoridades da França não pararem de aterrorizar os jornalistas russos”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores às agências de notícias estatais Tass e Ria Novosti.
As transmissões da RT, antiga Russia Today, tinham sido suspensas na França em março de 2022. Mas a RT France continuou produzindo conteúdo localmente, veiculado em canais de países onde ela não está banida, principalmente na África, e pelo YouTube, acessível via VPN.
UE: Empresa de mídia dissemina propaganda do regime de Vladimir Putin
Logo após a invasão da Ucrânia, Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, classificou a RT e a rede Sputnik como “máquinas de mídia do Kremlin”, apresentando “desinformação prejudicial”.
A emissora foi proibida de operar no bloco, mas entrou com recursos para se manter na França, onde estava sua redação principal, mesmo sem transmitir no país.
Em dezembro de 2022, a União Europeia decretou o nono pacote de sanções á Rússia, acusando a RT (antiga Russia Today) de “manipular notícias e espalhar propaganda russa”.
Segundo a Tass, a conta bancária do canal de TV RT France foi bloqueada na França a pedido da Direção-Geral do Tesouro do Ministério da Economia e Finanças da França, seguindo determinação da UE contida nesse novo pacote.
Em carta, Xenia Fedorova havia informado ao governo que o “único accionista e empresa-mãe” da RT France é a agência noticiosa do Kremlin Televysionnye Novosti (subsidiária da RIA Novosti).
“Aplicando-se o critério de holding, os ativos da RT France devem ser congelados pelas entidades”, confirmou o Ministério da Economia e Finanças francês ao jornal Le Monde.
Sindicatos de funcionários da rede protestaram, afirmando que a medida causará desemprego.
Na nota em que comunica o fechamento do canal, a editora sustenta que o pacote de sanções não se aplica à rede, e chama a decisão de política, resultado de cinco anos de perseguições.
Ela diz que o encerramento das operação custará o emprego de 123 integrantes da equipe, dos quais 77 jornalistas. E critica o pluralismo e a liberdade de expressão na França.
Les fonds de RT France sont gelés à la demande de la Direction Générale du Trésor, en raison du 9eme paquet de sanctions qui ne vise pas RT France. Notre chaîne ne peut plus poursuivre son activité. Voici notre communication. pic.twitter.com/aF3JUsqkLl
— Xenia Fedorova (@xfedorova) January 21, 2023
O bloqueio de fundos da organização de mídia estatal russa na França é um baque para o governo de Vladimir Putin, pois inviabiliza uma das últimas redações controladas pelo Estado um país influente no Ocidente.
A jornalista Margarita Simonyan, diretora-geral da RT, é uma das figuras mais próximas a Putin.
Além da União Europeia, a rede estatal foi proibida de transmitir nos EUA, Alemanha, Reino Unido e Canadá.
O governo britânico, que já mantinha embates com a RT desde antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, cassou a licença da RT no dia 18 de março, menos de um mês após o início da guerra, citando ligações com o governo de Vladimir Putin.
Nas situações anteriores em que países bloquearam a RT, a Rússia reagiu decretando sanções a profissionais de mídia ou a sucursais de organizações jornalísticas internacionais no país.