Londres – Horas antes do atentado que deixou sete mortos em uma sinagoga em JerusalĂ©m nesta sexta-feira (28) o SecretĂĄrio-Geral da ONU, AntĂłnio Guterres, condenou o discurso de Ăłdio antissemita na internet durante seu discurso na cerimĂŽnia para marcar o Dia Internacional em MemĂłria das VĂ­timas do Holocausto.

O lĂ­der da ONU afirmou que “o mundo online Ă© uma das principais razĂ”es pelas quais o discurso de Ăłdio, as ideologias extremas e a desinformação estĂŁo se disseminando tĂŁo rapidamente”.

Ele apelou a todos os envolvidos, de empresas de tecnologia a formuladores de polĂ­ticas e mĂ­dia, para fazerem mais.

Guterres criticou as plataformas de mĂ­dia social e seus anunciantes que, segundo ele, sĂŁo cĂșmplices em levar o extremismo ao palco principal, transformando muitas partes da internet em “depĂłsitos de lixo tĂłxico para Ăłdio e mentiras perversas”.

NĂŁo Ă© a primeira vez que Guterres se manifesta contra a violĂȘncia online.

Em junho do ano passado, no Dia Internacional pelo Combate ao Discurso de Ódio, o SecretĂĄrio-Geral disse que “palavras podem ser transformadas em armas e causar danos fĂ­sicos”, citando crimes trĂĄgicos da era moderna, desde o antissemitismo que levou ao Holocausto atĂ© o genocĂ­dio de 1994 contra os tutsis em Ruanda. 

“A internet e as mĂ­dias sociais turbinaram o discurso de Ăłdio, permitindo que ele se espalhe como fogo atravĂ©s das fronteiras”, afirmou. 

Naquela ocasiĂŁo, ele lembrou tambĂ©m que a disseminação do discurso de Ăłdio contra as minorias durante a pandemia da covid-19 mostrou que muitas sociedades sĂŁo altamente vulnerĂĄveis ​​ao estigma, discriminação e conspiraçÔes que promove.

HĂĄ trĂȘs anos, a ONU lançou um Plano de Ação sobre o Discurso de Ódio, destinado a apoiar os Estados-Membros na luta contra a violĂȘncia online sem deixar de respeitar a liberdade de expressĂŁo e opiniĂŁo.

Antes do atentado em Jerusalém, lembranças do Holocausto na ONU

O evento em memĂłria das vĂ­timas do Holocausto reuniu sobreviventes, familiares de vĂ­timas, acadĂȘmicos e artistas no hall da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, e foi realizado antes do atentado Ă  sinagoga em JerusalĂ©m, que alĂ©m de sete mortos deixou dez feridos.

Na manhĂŁ de sĂĄbado, outro ato aconteceu: um homem atirou na rua e feriu duas pessoas. 

António Guterres salientou que, em poucos meses, os nazistas desmantelaram os direitos constitucionais fundamentais e pavimentaram o caminho para o regime totalitårio: membros do Parlamento foram presos, a liberdade de imprensa abolida e o primeiro campo de concentração construído em Dachau.

Guterres ressaltou que o antissemitismo dos nazistas se tornou polĂ­tica de governo, seguido de violĂȘncia e assassinatos em massa. E que atĂ© o final da guerra, seis milhĂ”es de crianças, mulheres e homens, quase dois em cada trĂȘs judeus europeus, haviam sido assassinados.

Ele traçou paralelos entre 1933 e o mundo de hoje, dizendo que “os sinais de alarme já soavam em 1933”, mas “poucos se deram ao trabalho de ouvir e menos ainda dizer algo”.

Para Guterres, vivemos em um mundo em que uma crise econîmica está gerando descontentamento, demagogos populistas estão usando a crise para ganhar votos, e “desinformação, teorias da conspiração paranoica e discurso de ódio descontrolado” estão desenfreados.

AlĂ©m disso, ele cita “um crescente desrespeito pelos direitos humanos e desdĂ©m pelo Estado de direito, com o surgimento de supremacistas brancos e ideologias neonazistas, negação do Holocausto e revisionismo, e crescente antissemitismo, assim como outras formas de fanatismo religioso e Ăłdio”.

O secretĂĄrio-geral lamentou o fato de que o Ăłdio antissemita pode ser encontrado em todos os lugares hoje e estĂĄ aumentando em intensidade. O atentado em JerusalĂ©m horas depois deu razĂŁo Ă  preocupação. 

Ele acrescentou que os neonazistas agora representam a ameaça nĂșmero um Ă  segurança interna em vĂĄrios paĂ­ses, e que os movimentos de supremacia branca estĂŁo se tornando mais perigosos.

O presidente da Assembleia Geral da ONU também discursou na cerimÎnia em memória do Holocausto em Nova York nesta sexta-feira.

 O hĂșngaro Csaba Korosi lembrou ao pĂșblico que, embora a Assembleia tenha sido criada para garantir que ninguĂ©m tenha que passar pelo que os sobreviventes do Holocausto sofreram, 2023 jĂĄ estĂĄ vendo “novas ondas de antissemitismo e negação do Holocausto” em todo o mundo.

Ele pediu resistĂȘncia contra os “tsunamis de desinformação que estĂŁo assolando a internet”.