Londres – Em mais um caso de assédio judicial a opositores ao governo Putin que se exilaram para fugir da repressão após a invasão da Ucrânia, o  jornalista russo Alexander Nevzorov foi condenado nesta quarta-feira (1) a oito anos de prisão pela corte distrital de Basmanny, em Moscou. 

Punido sob a acusação de divulgar “informações falsas” sobre os ataque às cidade de Mariupol e Bucha, ele também foi proibido de administrar websites por quatro anos.

Nevzorov, de 64 anos, foi julgado à revelia, pois deixou o país logo após a invasão e estaria na Itália, segundo o jornal Moscow Times. Mas só será preso se o governo conseguir sua extradição ou se for capturado em solo russo. 

Ex-parlamentar e cineasta, o jornalista fez carreira na TV e agora tem um canal no YouTube com quase 2 milhões de assinantes, pelo qual transmite programas com entrevistas e comentários sobre política. 

Nevzorov apoiou a eleição do presidente Vladimir Putin em 2012, mas depois rompeu com o líder por causa da anexação da Crimeia, em 2014.

O jornalista foi processado em março de 2022 sob a lei sancionada por Putin para punir o que o governo entende como fake news sobre a guerra e o exército. Ativistas e até uma blogueira de moda foram alvo da mesma lei. 

Nevzorov foi acusado de publicar posts no Instagram e no YouTube com informações “deliberadamente” falsas sobre o ataque russo a uma maternidade na cidade ucraniana de Mariupol. E também sobre o assassinato de civis por soldados russos na localidade de Bucha.

Oficialmente, a Rússia nega que o ataque a Mariupol tivesse como alvo instalações civis. O governo alega ainda, embora sem provas, que o massacre em Bucha  aconteceu após a retirada de suas tropas da região.

Em maio, Nevzorov foi declarado procurado pelas autoridades russas por se manifestar contra a invasão.

Em junho de 2022, o conselheiro do Ministério do Interior ucraniano, Anton Herashchenko, informou que Nevzorov recebeu a cidadania ucraniana “por seu excelente serviço ao país”, segundo o site de notícias russo Meduza. 

A agência Reuters noticiou que ao saber da condenação, Nevzorov ironizou a pena de nove anos pedida pela promotoria.  Ele afirmou que “a Rússia não existirá mais até lá”.

Ele disse ainda que não planeja retornar porque “Vladimir Putin lidera uma ditadura baseada em sujeira, sangue e denúncias”. A condenação repercutiu em vários países, interpretada como sinal do governo russo aos dissidentes. 

Jornalista condenado é símbolo de independência 

A Federação Internacional dos Jornalistas (IFJ) e a Federação Europeia de Jornalistas (EFJ) se uniram à filial russa do Sindicato dos Jornalistas e Trabalhadores de Mídia (JMWU) na condenação à criminalização do jornalismo no país.

As entidades voltaram a instar a Rússia a revisar a legislação.

“Alexander Nevzorov, cujas publicações e declarações públicas têm irritado muita gente, pode ser alvo de crítica. Mas ele é, sem dúvida, um dos principais símbolos do novo jornalismo independente que emergiu a partir do final dos anos 1980, com o fim da União Soviética”, disse o secretário da seção russa do JMWU, Andrei Jvirblis, de acordo com a IFJ.

Para Jvirblis, a sentença aplicada a Nevzorov é simbólica, já que ele está fora do alcance das autoridade russas, mas representa “uma condenação ao tipo de jornalismo que ele pratica”.