Londres – A existência de operações organizadas de propaganda criadas para espalhar desinformação e fake news sobre a guerra da Ucrânia nas mídias sociais foi mais uma vez confirmada, desta vez pelo TikTok, que anunciou a remoção de duas redes pró-Rússia com mais de 1,7 mil contas associadas a elas.
A informação faz parte do relatório semestral de combate à desinformação do TikTok, plataforma de propriedade da empresa chinesa ByteDance que se tornou alvo de desconfiança em vários países pelo risco de que funcionários do governo chinês acessem dados dos usuários.
A identificação do conteúdo rotulado como propaganda russa é feita com a participação de moderadores que falam russo e ucraniano, para capturar as nuances locais. Segundo o TikTok, as duas redes foram identificadas pela própria plataforma.
Redes de fake news desmontadas
Em outubro do ano passado, a Meta também havia eliminado de suas plataformas uma rede de desinformação sobre a guerra, que criou versões falsificadas de grandes veículos de mídia para criar conteúdo compartilhado pelos usuários, simulando terem sido produzidos por fontes confiáveis.
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A principal rede de desinformação que o TikTok diz ter desmontado agora operava a partir da Rússia e visava países europeus, principalmente Alemanha, Itália e Reino Unido.
Segundo os dados da empresa, os indivíduos responsáveis por articular a rede criaram um total de 1.686 contas não autênticas em vários países e compartilhavam conteúdo em alemão, italiano e inglês.
Esses usuários falsos eram usados no TikTok para divulgar conteúdos similares, adaptados a cada idioma, sempre buscando amplificar um ponto de vista pró-Rússia sobre a guerra na Ucrânia.
No total, segundo o TikTok, essa rede contava com 133.564 seguidores (cerca de 80 seguidores por perfil falso).
Uma segunda rede identificada contava com 18 contas ativas e operava na Geórgia, com postagens em russo.
O conteúdo visava países de língua russa, principalmente Cazaquistão, Bielorrúsia e Ucrânia.
Nesse caso, em vez de fingirem ser indivíduos comuns, as contas falsas se passavam por meios de comunicação, também amplificando um ponto de vista pró-Rússia sobre a guerra.
Embora fosse menor, essa rede tinha um total de 85.068 seguidores, ou seja, em média 4.726 seguidores por conta falsa.
Além das redes com propaganda pró-Rússia, o TikTok informou ter removido mais três operações de influência. Uma delas operava a partir de Taiwan e visava principalmente o público do país asiático, que vive um período de tensões com a China.
Outra era baseada no Quênia, compartilhando conteúdo em inglês sobre suposta manipulação da mídia local no contexto das eleições gerais no país.
E uma terceira era baseada na Espanha, mas tinha como público-alvo usuários do TikTok nos EUA. O objetivo era criar e amplificar conteúdo político em inglês e espanhol usando contas que se apresentam como partidos políticos, redirecionando os usuários para links de arrecadação de fundos fora da plataforma, links de mercadorias e canais de informação fechados na tentativa de monetizar com a polarização nos EUA.
TikTok mira desinformação sobre guerra na Ucrânia
O TikTok diz no relatório que combater a desinformação e interromper as redes que se formam para divulgar esse tipo de informação, sobretudo no contexto da guerra, é prioridade para a empresa.
“A guerra de agressão da Rússia à Ucrânia é devastadora e, como plataforma, nos desafiou a enfrentar um ambiente complexo e em rápida mudança.
No TikTok, a segurança de nossos funcionários e da comunidade é de suma importância e nós trabalhamos continuamente para resguardar nossa plataforma.”
No entanto, os esforços têm sido questionados, com entidades apontando falhas na moderação.
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Ainda segundo o relatório, o TikTok trabalha em parceria com checadores de informações para conseguir remover dados que possam ser prejudiciais aos usuários da plataforma.
“Nosso programa de verificação de fatos inclui cobertura de russo, ucraniano e bielorrusso e, desde o início da guerra, aproveitamos repórteres de língua ucraniana que estão conectados com alguns de nossos parceiros de verificação de fatos para apoiar ainda mais nossos esforços referentes à Ucrânia, especificamente.”
Esforço contínuo
Embora tenha tido sucesso no desmonte dessas duas redes de desinformação, o TikTok afirma estar consciente de que os responsáveis por esses conteúdos falsos podem voltar a se articular.
A plataforma diz que trabalha continuamente para manter proteger a comunidade dos perigos de informações falsas e comportamentos não autênticos.
“Intensificamos nossos esforços para detectar contas suspeitas que se passam por indivíduos/entidades de alto perfil nas regiões afetadas, a fim de evitar a disseminação de informações incorretas ou qualquer tipo de alegação enganosa.”
Além disso, o TikTok segue com sua política de rotulagem para veículos de mídia estatal de Rússia, Ucrânia e Bielorrússia.
Essas contas foram identificadas com selos em seus perfis, para que os usuários possam saber do que se trata o conteúdo.
Em janeiro de 2023, essa política foi expandida para entidades de mídia em 40 países e os rótulos já podem ser vistos por todos os usuários da União Europeia.
Veja o relatório completo aqui.
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