Londres – Na semana em que a invasão da Ucrânia completa um ano, a Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) desligou de seus quadros a União de Jornalistas da Rússia (RUJ, na sigla em inglês).
O afastamento foi votado na quarta-feira (22) pelo Comitê Executivo global da Federação.
Segundo o parecer do Comitê Executivo, a decisão deveu-se a uma investigação sobre a conduta do RUJ desde a invasão da Ucrânia pela Rússia e a abertura de filiais do RUJ em territórios ucranianos anexados.
União de Jornalistas da Rússia recusou-se a voltar atrás
A IFJ havia pedido que a associação russa reconsiderasse a instalação dos novos escritórios, mas não foi atendida.
A medida de suspensão ocorre depois que quatro países nórdicos decidiram deixar a IFJ com questionamentos sobre suas práticas e por discordar da presença da RUJ como afiliada.
Desde setembro, os sindicatos afiliados da Finlândia, Noruega, Dinamarca e Islândia vinham pressionando a IFJ para tomar medidas contra a União de Jornalistas da Rússia, devido à abertura de redações nos territórios anexados.
Outra crítica do grupo nórdico à RUJ é a presença em seus quadros de profissionais russos que trabalham na mídia estatal, controlada pelo regime de Vladimir Putin.
Desde a invasão, a Rússia intensificou as perseguições a jornalistas e o controle de conteúdo dos órgãos de imprensa de propriedade do governo, que acabaram banidos em vários países por fazerem propaganda política.
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Segundo a IFJ, uma reunião foi realizada em Copenhague, durante a qual os afiliados IFJ fizeram uma série de perguntas e solicitaram uma nova reunião em 27 de janeiro.
Em nota, a presidente da IFJ diz ter escrito respondendo às questões, mas no dia 19 de dezembro, os sindicatos nórdicos disseram ter falta de confiança na entidade, demonstrando-se insatisfeitos em três aspectos: “Rússia”, “Transparência” e “Democracia”.
Há três semanas, o grupo de sindicatos anunciou seu desligamento.
Diante do clima de instabilidade na federação internacional, a expulsão do sindicato da Rússia foi votada e dois terços dos membros do comitê votaram pela expulsão russa.
A entidade russa (RUJ) já foi comunicada e pode recorrer da decisão.
A presidente da IFJ, Dominique Pradali, declarou que a organização é baseada na solidariedade internacional, nos princípios de cooperação entre os sindicatos-membros e no respeito pelos direitos de todos os jornalistas.
“As ações do Sindicato Russo de Jornalistas, ao estabelecer quatro filiais nos territórios ucranianos anexados, destruíram claramente essa solidariedade e semearam divisões entre os sindicatos irmãos.”
Ela se defendeu das acusações de que a entidade deveria ter agido mais rápido, alegando que procurou respeitar as regras da instituição e para evitar suspeitas de abuso de poder.
“Recebemos uma denúncia, ela foi apurada e, com base nos fatos, agimos excluindo a RUJ”.
Em nota, a IFJ declarou que, a partir de agora, a federação precisa urgentemente encontrar maneiras de continuar apoiando jornalistas independentes dentro e fora da Rússia, principalmente aqueles que estão em risco ou precisando de ajuda.
Em outro comunicado, a entidade informou que continua mantendo contato com o JMWU, sindicato de jornalistas e profissionais de mídia russos, que foi dissolvido em setembro de 2022 por decisão judicial.
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A entidade está tentando se registrar na França.
A IFJ reafirmou solidariedade aos seus dois afiliados ucranianos e também aos sindicatos dos quatro países que se retiraram – Finlândia, Noruega, Dinamarca e Islândia.
Segundo a instituição, o intuito de seu trabalho é concentrar esforços na construção de uma voz mais forte entre os jornalistas e atuar em prol da liberdade de imprensa.
Mas os problemas entre os sindicatos nórdicos e a Federação Internacional de Jornalistas não se limitaram ao desconforto com a presença da União de Jornalistas da Rússia como afiliada.
Eles reclamam de uso inapropriado de recursos financeiros e falta de transparência.
Também existe descontentamento em torno do último Congresso Mundial do IFJ, realizado no Omã, país com severas restrições à liberdade de imprensa.
Segundo as associações de classe nórdicas, a decisão de manter o evento no país da Península Arábica pode ter tido um componente financeiro associado.
A FIJ rejeitou as alegações “de que realizar um Congresso em um determinado país ou receber financiamento de órgãos públicos ou empresas comerciais tenha influenciado a capacidade do Congresso de discutir, debater e decidir sobre qualquer assunto da mesma forma que é feito em todos os Congressos – não importa o local”.
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