Londres – A guerra na Ucrânia chega ao seu primeiro ano na sexta-feira (24) sem previsão de que se encerre em breve e com um registro de ataques seguidos à imprensa nos dois lados do conflito. 

Segundo dados do International Press Institute (IPI), foram registradas mais de 900 ataques físicos, censura, assédio, prisões e outras violações da liberdade de imprensa desde o começo da guerra na Ucrânia e na Rússia somadas. 

A organização, que monitora o conflito desde o início, registrou ainda 10 jornalistas mortos enquanto faziam reportagens e outros dois em circunstâncias não confirmadas como relacionadas ao trabalho, embora outras entidades contabilizem essas mortes como ligadas ao jornalismo.

A maior parte das agressões partiu de forças militares ou autoridades russas.”A guerra de Putin contra a Ucrânia também é uma guerra contra a imprensa”, afirma o documento. 

Ucrânia teve mais ataques à imprensa na guerra

 

A Ucrânia foi palco do da maior parte dos casos envolvendo agressões físicas, de acordo com o levantamento do IPI.

Foram catalogados mais de 100 eventos em que a segurança de profissionais que cobriam a guerra foi ameaçada. Os 12 casos registrados de mortes de jornalistas também se deram em solo ucraniano, a maioria nos primeiros meses da guerra. 

Na Rússia, por sua vez,os jornalistas sofrem mais com perseguições legais, repressão e censura. Desde o início da guerra, já são mais de 600 violações da liberdade de imprensa no país. 

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O IPI também computa cerca de 160 prisões e acusações criminais contra jornalistas, além de outros 187 casos em que sites de notícias foram bloqueados por trazerem notícias sobre a guerra.

Na Rússia continua proibido chamar a invasão de ‘guerra’.

Segundo a organização, 80% dos 900 incidentes contabilizados foram de responsabilidade de forças ou autoridades russas – outros 10% são de autoria desconhecida, o que inclui ataques cibernéticos com possível origem russa.

O banco de dados do IPI é de acesso público e documenta ataques físicos e de outras naturezas a jornalistas que cobrem a guerra na Ucrânia, bem como atos de censura; prisões e acusações criminais contra jornalistas; eventuais novas legislações repressivas à mídia; e restrições de acesso à informação.

Situação dos jornalistas na Ucrânia

Para os jornalistas que estão cobrindo a guerra em campo, o maior risco é à segurança física. Todos os 12 casos de morte de profissionais registrados pelo IPI aconteceram em solo ucraniano. Houve mais de 30 feridos.

Além disso, o relatório também registra 300 ameaças ou violações à liberdade de imprensa desde o início da guerra. A maior parte são ataques físicos, verbais ou online perpetrados por forças russas.

Também há registro de mais de 100 ataques físicos e ameaças à segurança de jornalistas, com dezenas de jornalistas que relatam estarem cobrindo a guerra sob ameaça de fogo ou bombardeio russo.

Além dos ataques direto a profissionais, o IPI também registrou cerca de 30 ataques à infraestrutura de mídia ucraniana, além de dezenas de ataques cibernéticos a meios de comunicação ucranianos.

Violações na Rússia

Enquanto isso, na Rússia, o maior desafio da imprensa é driblar a censura. O IPI registrou cerca de 600 violações desde fevereiro do ano passado.

A maior parte são atos de censura relativos a regulamentações que impedem a mídia de fazer seu trabalho. Também há casos de prisões e acusações criminais contra jornalistas.

Segundo o IPI, pelo menos 187 sites foram bloqueados por noticiar a guerra. Os dados do instituto mostram que autoridades civis e militares russas emitiram pelo menos 121 proibições de publicação, ordens de remoção e exclusão forçada, multas ou outras penalidades administrativas contra a mídia.

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Nem o jornalista vencedor do prêmio Nobel da Paz em 2021 escapou. O jornal Novaya Gazeta, fundado e dirigido por Dmitry Muratov, está entre os que foram obrigados a suspender a publicação de notícias logo após a guerra e se tornou alvo de perseguição jurídica. 

Duas semanas antes do aniversário da guerra, o jornal perdeu definitivamente a licença para funcionar. 

Em pelo menos 160 casos, jornalistas foram detidos, presos e processados por autoridades russas em casos relacionados à guerra. A maioria delas foram prisões de jornalistas que cobriam protestos e manifestações.

Na semana passada, uma jornalista que protestou contra a guerra erguendo um cartaz durante um programa ao vivo em uma TV estatal logo após a invasão revelou como conseguiu fugir do país com a ajuda da organização Repórteres Sem Fronteiras. 

Segundo o diretor executivo do IPI, Frane Maroevic, os dados da instituição mostram claramente que, nesta guerra, há uma atenção muito grande das forças militares e autoridades russas sobre a mídia.

“Em meio a uma lista crescente de atrocidades e sofrimento humano incalculável, a guerra de Putin contra a Ucrânia cobrou um preço especialmente pesado dos jornalistas e da mídia independente da região.”