Londres – Um novo relatório da organização britânica Hope Not Hate sobre discurso de ódio traz um capítulo dedicado a um “coach do Campari” em escala global, o influenciador misógino Andrew Tate, que está preso na Romênia junto com irmão, Tristan, por acusações de estupro, tráfico humano (de mulheres) e crime organizado.
É um alerta para os riscos oferecidos às mulheres no ambiente digital, que neste Dia Internacional da Mulher estão na pauta de várias organizações, como a ONU.
O tema da celebração da entidade este ano é DigitALL: Inovação e tecnologia para a igualdade de gênero. A ONU salienta entre as razões para a escolha do tema o assédio e discurso de ódio contra meninas e mulheres online, do qual Tate se tornou um símbolo.
O documento State of Hate 2023 é uma análise profunda sobre a situação da extrema-direita no Reino Unido, abordando temas como ódio a migrantes, teorias conspiratórias, atos terroristas praticados por grupos radicais e movimentos anti-LBBTQ+.
Há também um bloco sobre tecnologia e mídia, examinando o impacto da compra do Twitter por Elon Musk – que trouxe de volta à plataforma extremistas que tinha sido banidos – e a proliferação de narrativas racistas e terroristas no Telegram.
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Um deles é Andrew Tate, que se tornou um exemplo do uso da internet para manipular audiência e ganhar dinheiro usando como instrumento o ódio a mulheres e o rebaixamento delas.
Nascido nos EUA mas criado na comunidade de Luton, perto de Londres, uma área onde residem muito imigrantes, o influenciador começou como lutador de kickboxing ficou famoso em 2016 participando do Big Brother. Foi expulso depois do surgimento de um vídeo em que aparecia batendo na namorada.
O que para alguns poderia ser devastador virou uma oportunidade que ele soube aproveitar, criando uma persona que virou ícone para comunidades anti-feministas como, os seguidores do movimento incel.
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Andrew Tate não é o único a fazer isso. Mas foi mais longe do que muitos que tentaram.
Em 2022, tornou-se a pessoa mais buscada no Google. Seus vídeos no TikTok alcançaram 11 bilhões de visualizações, promovendo desprezo a mulheres, racismo e homofobia em uma atmosfera de luxo e riqueza, com casas e carros de luxo.
Sua fortuna veio de um negócio de vídeos pornográficos com webcams.
Ele também percebeu que a ilusão de dinheiro fácil era um filão, e criou uma “universidade” online para ensinar “estudantes” a manipular mídias sociais, repostar seu conteúdo e também ficarem ricos.
Mesmo preso, Andrew Tate continua a influenciar
O misógino foi banido das plataformas digitais em agosto passado, quando ONGs como a Hope Not Hate soaram o alarme para o que estava ocorrendo. Só que não adiantou – e isso mostra a fragilidade dos controles atuais das plataformas.
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Seus seguidores, que ele chama de “meus soldados”, continuam impulsionando suas teses, sua fama, e a teoria conspiratória de que a prisão na Romênia é um ato do establishment, ou “The Matrix”.
E na era Musk, ele conseguiu voltar ao Twitter, onde propaga suas ideias perigosas.
The Matrix may have imprisoned me,
But I am free inside The Real World.https://t.co/hopcAAMksL pic.twitter.com/uxckupgr24
— Andrew Tate (@Cobratate) January 17, 2023
Parece tudo exótico, difícil de acreditar e restrito a nichos. Mas uma pesquisa de opinião encomendada pela Hope Not Hate mediu a extensão da influência de Andrew Tate na sociedade, quantificando seu impacto que não cessou mesmo depois que ele foi preso e acusado de crimes.
Influencia de Andrew Tate sobre meninos e jovens
Entre todos os pesquisados na faixa de 16 a 24 anos, 94% ouviram falar dele; 67% assistiram ou leram algo de sua autoria e 28% têm uma visão positiva sobre ele.
A taxa de visão positiva aumenta para 47% entre pessoas do sexo masculino. A principal razão é a crença de que ele “quer que os homens sejam homens de verdade”, alimentando a violência contra mulheres e a intolerância.
Uma comparação feita entre Tate e os principais políticos do país, que estão todos os dias nas primeiras páginas dos jornais e nos noticiários da TV, confirmou o que outras pesquisas já revelaram: o distanciamento dos jovens da mídia tradicional.
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Quase 8 em cada 10 jovens do sexo masculino entre 16 e 17 anos disseram ter consumido conteúdo produzido por Andrew Tate, mas 58% deles afirmaram não ter ouvido falar do primeiro-ministro Rishi Sunak, enquanto 58% não tinham ouvido falar do prefeito de Londres, Sadiq Khan, e 32% disseram não conhecer o líder da oposição, Keir Starmer.
A pesquisa da Hope Not Hate constata para como as visões do influenciador estão moldando comportamentos, com mais de 30% dos jovens afirmando que não veem mal em fazer piadas sobre a religião ou raça de alguém, ou compartilhar fotos íntimas enviadas em confiança por uma parceira romântica.
A ONG alerta para como a normalização da violência online se reflete no mundo real. E engrossa o coro dos que pedem a erradicação de conteúdos que glorificam a masculinidade tóxica e incentiva a violência contra a mulher.
O relatório completo pode ser visto aqui.
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