Londres – O Centro de Jornalistas do Afeganistão (AFJC) informou que pelo menos três pessoas morreu e outras 30, incluindo 16 jornalistas, ficaram feridas no atentado a bomba a um centro cultural em Mazar-e-Sharif, no norte do Afeganistão, no sábado (11), durante um um evento para marcar o Dia Nacional do Jornalista.
“Atacar jornalistas durante um evento para homenagear repórteres é um ato desprezível e covarde”, disse Beh Lih Yi, coordenador do Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ) para a Ásia.
“Corajosos jornalistas afegãos já estão fazendo reportagens em circunstâncias extremamente desafiadoras. O Talibã deve investigar rapidamente, levar os perpetradores à justiça e acabar com a impunidade daqueles que atacam jornalistas”, disse.
O atentado, reivindicado pelo grupo terrorista Estado Islâmico, aconteceu dois dias depois que uma bomba em Mazar-e-Sharif matou o governador da província, Daud Muzmal, e outras duas pessoas. Quatro ficaram feridas.
Segundo a Centro de Jornalistas (AFJC, na sigla em inglês), a reunião havia sido organizada pelo Tabian Social-Cultural Center sob o título “Gestão de Mídia e Promoção da Cultura”.
Vários profissionais seriam homenageados, e haveria debate sobre a situação da mídia no país. A explosão ocorreu no início do evento.
Entre os feridos estava Najeeb Faryad, um repórter da estação de televisão Aryana News, que disse à AFJC ter sentido como se algo o tivesse atingido nas costas, seguido por um som ensurdecedor antes de cair no chão.
Inicialmente a polícia estimou o número de jornalistas feridos em cinco, enquanto o Centro de Jornalistas do Afeganistão disse que pelo menos 16 ficaram feridos, listando o nome e o veículo onde cada um trabalha.
Breaking update on the blast in Mazar-e-Sharif:
At least 16 journalists were wounded in a blast accrued at the Tabian cultural center in Mazar-e-sharif, the capital of Balkh province, as journalists gathered for the award event marking the National Journalist Day pic.twitter.com/mZnkN0S2sx— Afghanistan Journalists Center (@AFJC_Media) March 11, 2023
O relator especial das Nações Unidas sobre a situação dos direitos humanos no Afeganistão, Richard Bennett, descreveu o atentado a jornalistas na província de Mazar-e-Sharif como um golpe na liberdade de expressão no Afeganistão.
Dezenas de jornalistas afegãos foram mortos em ataques nos últimos anos, mas a explosão de sábado foi o primeiro incidente desse tipo desde que o Talibã assumiu o controle do país em 2021, após a retirada das forças americanas, segundo a agência Reuters.
Cerca de 60% dos profissionais da mídia já deixaram o país desde 2021, de acordo com a organização de liberdade de imprensa dados do Repórteres Sem Fronteiras
“O atentado agrava ainda mais a situação da mídia no Afeganistão”, disse Hafizullah Barakai, chefe do Sindicato dos Jornalistas do Afeganistão, ao site Arab News.
O Afeganistão ficou em quarto lugar no Índice de Impunidade Global de 2022 do CPJ , que destaca os países com os piores registros para processar assassinos de jornalistas.
Rafaella Iodice, vice-chefe das relações da União Europeia contra o Afeganistão, também condenou o ataque a bomba, destacando a necessidade de proteção aos jornalistas que arriscam suas vidas no trabalho.
I strongly condemn the two attacks in Balkh, #Afghanistan of the past days. This violence needs to stop. My thoughts are with those injured and all grieving families.
Journalists risk their lives for their work and have to be protected. They are #NotATarget!
— Veronika Boskovic Pohar (@EUCdAtoAFG) March 12, 2023
Jornalismo em crise no Afeganistão
O jornalismo foi dizimado no país depois da retomada do poder pelo Talibã, em agosto de 2021. As mulheres jornalistas foram as mais afetadas.
Embora o Talibã tenha sinalizado inicialmente que elas poderiam continuar trabalhando como antes, não foi o que aconteceu. Gradativamente a liberdade começou a ser limitada, com restrições à participação em cobertas e obrigatoriedade de cobrir o rosto na TV.
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Os problemas são também econômicos. Segundo a emissora Tolo News, o Conselho de Jornalistas do Afeganistão disse que muitas organizações de mídia pararam de operar por vários motivos, incluindo desafios de financiamento.
O Sindicato Nacional de Jornalistas do Afeganistão disse que cerca de 70% dos jornalistas ficaram desempregados após a queda do governo anterior.
“Um grande número de jornalistas, 70 por cento dos jornalistas, ficaram desempregados e a comunidade de mídia afegã está enfrentando sérios desafios”, disse ao Tolo News Masror Lutfi, um funcionário do sindicato profissional.
Segundo a organização de classe, cerca de 280 organizações de mídia interromperam suas operações no ano passado.
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