Londres – Chegou ao fim nesta segunda-feira (20) um dos mais longos cativeiros impostos a um jornalista no mundo: o francês Olivier Dubois foi libertado quase dois anos depois de ter sido sequestrado por um grupo extremista no Mali.

Junto com ele também foi libertado o missionário americano Jeffrey Woodke, sequestrado no Níger em 2016. Os dois foram apresentados à imprensa na capital do Níger, Niamey. 

Dubois, que escrevia para publicações como Liberation e Le Point,  desapareceu em 8 de abril de 2021, quando tentava uma entrevista com o líder local do grupo afiliado à Al-Qaeda Jamaa Nusrat al-Islam wal-Muslimin. 

Seu sequestro, que durou mais de 700 dias,  foi tornado público em um vídeo postado online em maio do mesmo ano, em que ele disse: 

“Sou Olivier Dubois. Eu sou francês. Eu sou jornalista. Fui sequestrado em Gao em 8 de abril pelo JNIM (um grupo ligado à Al-Qaeda). Estou pedindo à minha família, meus amigos e as autoridades francesas para que façam tudo ao seu alcance para me libertar”.

O presidente francês Emmanuel Macron manifestou-se sobre a libertação de Dubois.

 As circunstâncias da libertação não foram informadas, mas o Secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, visitou o Níger na semana passada, como parte de sua turnê pela África.

Ele anunciou dotação de US$ 150 milhões em ajuda humanitária para apoiar populações vulneráveis no Níger e na região do Sahel, onde Dubois foi capturado. Blinken agradeceu ao governo do Níger, e não se referiu ao jornalista, apenas ao missionário de seu país. 

A família do jornalista sequestrado, que criou uma conta no Twitter para fazer campanha por sua libertação, também comemorou o desfecho do caso. 

Ao ser apresentado, ao lado do Ministro do Interior do Níger, o jornalista disse que estava cansado, mas bem. Ele agradeceu ao país por sua “competência na delicada missão”, à França e “a todos que o ajudaram a estar ali naquele momento”. 

A notícia foi celebrada por organizações de defesa da liberdade de imprensa. 

“Estamos muito felizes porque o jornalista Olivier Dubois finalmente está livre e pode voltar para casa, para sua família e seus colegas”, disse a coordenadora do programa África do Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), Angela Quintal, lembrando porém dos riscos a profissionais de imprensa na região. 

“O conflito e a crise constitucional do Mali aumentaram os riscos para os jornalistas.

Embora a libertação de Dubois seja um alívio, a segurança dos jornalistas continua preocupante. Pedimos a todas as partes, incluindo os jihadistas, que se abstenham de ações criminosas para silenciar a imprensa”.

“É incrível para mim estar aqui, ser livre”, disse Dubois enquanto agradecia às autoridades nigerianas por seu papel em sua libertação, de acordo com jornalistas locais que acompanharam a libertação. 

Quem é o jornalista sequestrado 

Olivier Dubois nasceu na Martinica e trabalhou como correspondente do Liberation e das revistas Le Point e Jeune Afrique. Ele também escreveu para o Journal du Mali. 

Em um perfil de Dubois na época do sequestro, uma fonte não identificada familiarizada com o trabalho dele o descreveu à Federação Internacional de Jornalistas como “um dos profissionais mais conectados e bem estabelecidos da região”.

Segundo a fonte, 2021 era seu último ano antes de retornar à França e ele havia decidido se dedicar a reportagens de campo. O CPJ relatou que a região era perigosa, e que o Liberation disse ter rejeitado a proposta de Dubois para realizar a entrevista com o líder extremista.

A apreensão era justificada: em abril daquele mesmo ano, os jornalistas espanhóis David Beriain e Roberto Fraile foram mortos no país vizinho de Burkina Faso, depois de terem sido sequestrados por um grupo jihadista enquanto filmavam um documentário. 

Anteriormente, em novembro de 2013, os jornalistas Ghislaine Dupont e Claude Verlon, da emissora estatal Radio France Internationale, foram sequestrados e mortos após entrevistarem um líder separatista no Mali.